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SBOC REVIEW

PCI no Câncer de Pulmão de Pequenas Células – Doença Extensa: bom na Europa, ruim no Japão, vale no Brasil?

A radioterapia profilática de crânio (PCI) foi um dos poucos avanços reais no tratamento do câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) nas últimas décadas. Em um estudo europeu1, o PCI levou a redução da taxa de metástases cerebrais (40% vs 14%) e aumento da sobrevida global em 1 ano (13% vs 40%) em comparação com o braço de observação no CPPC que se apresenta com doença extensa (DE). Na presente publicação2, um grupo colaborativo japonês revisitou a indicação da PCI nesta situação. Foram incluídos 224 pacientes, randomizados para PCI ou acompanhamento. Com um tempo mediano de 11,9 meses de acompanhamento, não foi encontrada diferença na sobrevida global em 1 ano (48% vs 54% nos braços de PCI e observação, respectivamente; p=0.09), apesar da menor taxa de metástases cerebrais no braço de PCI (48% vs 69%: p<0.001). Não houve diferença significativa na função cognitiva entre os dois grupos.

Os resultados do estudo japonês colocam em cheque a indicação rotineira da PCI no CPPC-DE. No entanto, é importante observar que, diferentemente do estudo europeu, uma RM de crânio pré-tratamento foi realizada em todos os pacientes. Com isso, os autores foram capazes de excluir a presença de metástases cerebrais assintomáticas, situação em que a PCI poderia ter efeito terapêutico, ao invés de profilático. Conforme chama a atenção o próprio autor, o Japão tem privilégio do fácil acesso à RM, tanto no estadiamento quanto no acompanhamento. Fica aqui a pergunta se esse estudo reflete o cenário brasileiro, onde o acesso a exames de imagem são bem mais limitados.

  1. Slotman et al, N Engl J Med. 2007;357(7):664-72;
  2. Takahashi et al, Lancet Oncol. 2017. PMID: 28343976

Comentários: O estudo japonês coloca em cheque a indicação da PCI de forma rotineira no CPPC-DE. No entanto, todos os pacientes realizaram uma RM de crânio pré-tratamento, bem como exames seriados de acompanhamento. Esse perfil de acompanhamento pode não refletir a realidade da maioria dos centros oncológicos no Brasil.

 

Luiz Henrique de Lima Araujo, MD, MSc, PhD

Médico Oncologista Clínico e Pesquisador especialista em Oncologia Torácica e de Cabeça e Pescoço

Instituto Nacional do Câncer (INCA) e Instituto COI de Educação e Pesquisa (ICOI)