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SBOC REVIEW

Pembrolizumabe para o câncer de colo uterino persistente, recidivado ou metastático

Resumo do artigo:

Por anos, o tratamento padrão de primeira-linha para o câncer de colo uterino persistente, recidivado ou metastático foi a quimioterapia baseada em platina e paclitaxel, com ou sem bevacizumabe. O estudo GOG 240 demonstrou previamente que adição do bevacizumabe nesse cenário resulta em um ganho na mediana de sobrevida global de 3,5 meses. Dessa forma, sua adição pode ser considerada a depender da disponibilidade da droga. Em relação a imunoterapia, o estudo prévio de fase II KEYNOTE-158 demonstrou certa atividade do pembrolizumabe após a progressão a pelo menos uma linha de quimioterapia, sendo que apenas o grupo PD-L1 positivo apresentou resposta ao tratamento, com taxa de resposta de 14,3%. Outro imunoterápico, o cemiplimabe, foi avaliado em estudo de fase III para pacientes pós progressão a platina, sendo demonstrado ganho de sobrevida global (SG) em comparação com quimioterapia (mediana de 12 vs 8,5 meses).

O estudo KEYNOTE-826, aqui comentado, foi então um estudo de fase III que avaliou o benefício da adição do pembrolizumabe ao tratamento de primeira-linha para pacientes com câncer de colo de útero persistente, recidivado ou metastático. As pacientes foram randomizadas para receber pembrolizumabe (200 mg) ou placebo, a cada 3 semanas, em adição à quimioterapia baseada em platina (cisplatina ou carboplatina) e paclitaxel, com ou sem bevacizumabe. O uso ou não do bevacizumabe era decidido a critério do investigador.

Dois desfechos primários foram avaliados, a sobrevida livre de progressão (SLP) e a SG. Os desfechos primários foram avaliados de forma sequencial na população PD-L1 CPS maior ou igual a 1, seguido pela população por intenção de tratar (independente de PD-L1), seguido pela população PD-L1 CPS maior ou igual a 10. Os desfechos secundários incluíram a taxa de resposta parcial ou completa e a duração de resposta.

Nessa publicação, foram apresentados os resultados da primeira análise interina pré-especificada. Com braços balanceados, cerca de 63% das pacientes receberam bevacizumabe. O estudo teve resultados positivos, sendo demonstrado um benefício estatisticamente significante da adição do pembrolizumabe em SLP e SG para as três populações analisadas.

Com 548 pacientes com PD-L1 CPS ≥ 1, a SLP mediana foi de 10,4 meses versus 8,2 meses no braço placebo (HR 0,62, IC 95% 0,50 – 0,77, P < 0,001). Neste grupo, a SG em 2 anos foi de 53% com pembrolizumabe versus 41,7% no grupo placebo (HR 0,64, IC 95% 0,50 – 0,81, P<0,001). Os resultados foram semelhantes para as demais populações (intenção de tratar e PD-L1 CPS ≥ 10). Análises de subgrupo sugeriram que o benefício ocorreu independente do uso de bevacizumabe. Por outro lado, para o subgrupo com PD-L1 < 1, com apenas 69 pacientes, observou-se HR de 1,0 (IC 95% 0,52 – 1,89) para SG.

A adição do pembrolizumabe resultou também em maiores taxas de resposta, taxa de resposta completa e duração de resposta em todas as populações. No grupo com PD-L1 CPS ≥ 1, a taxa de resposta foi de 68,1% vs 50,2%, com duração de resposta de 18 vs 10,4 meses. Neste grupo, 22,7% das pacientes apresentaram resposta completa com pembrolizumabe comparado com 13,1% no braço placebo. Os eventos adversos observados foram conforme o que já se conhece para o pembrolizumabe e a quimioterapia.

Dessa forma, o estudo demonstrou o benefício da adição do pembrolizumabe à quimioterapia de primeira-linha (com ou sem bevacizumabe) para pacientes com câncer de colo de útero persistente, recidivado ou metastático.

 

Colombo N, Dubot C, Lorusso D, et al. Pembrolizumab for Persistent, Recurrent, or Metastatic Cervical Cancer. N Engl J Med 2021;385:1856-67. doi: 10.1056/NEJMoa2112435.
Pembrolizumabe para o câncer de colo uterino persistente, recidivado ou metastático.

 

Comentário da avaliadora científica:

O câncer de colo uterino persistente, recidivado ou metastático ainda apresenta prognóstico reservado e opções terapêuticas limitadas, especialmente após a progressão a quimioterapia baseada em platina. Assim, o estudo KN-826 é de grande importância por apresentar nova opção de tratamento com relevante ganho de sobrevida para essas pacientes. O pembrolizumabe, em adição a quimioterapia baseada em platina e paclitaxel, com ou sem bevacizumabe, torna-se então a nova opção de tratamento padrão nesse cenário de primeira-linha.

Além do ganho de sobrevida, o braço de pembrolizumabe apresentou também maiores sobrevida livre de progressão, taxa de resposta e duração de resposta que o braço controle. Análise de subgrupo sugeriu que o benefício foi independente do uso do bevacizumabe.

Apesar de terem sido incluídas pacientes com tumores PD-L1 CPS < 1 na população por intenção de tratar, foram apenas 69 pacientes, apresentando HR de 1 para sobrevida global em análise de subgrupo. Assim, persiste a dúvida do papel do pembrolizumabe para tumores PD-L1 negativos.

Como perspectiva, aguardam-se os resultados de estudos avaliando o uso de imunoterapia em cenários mais precoces, em associação a quimiorradioterapia para a doença localmente avançada.

 

Avaliadora científica:

Dra. Renata Colombo Bonadio
Residência em Oncologia Clínica pelo ICESP/FMUSP
Oncologista clínica do ICESP/FMUSP e da Oncologia D’Or
Médica pesquisadora do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa
Ex-Preceptora da residência de Oncologia Clínica do ICESP