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SBOC REVIEW

Ponsegromabe para o tratamento da caquexia associada ao câncer

Resumo do artigo:

A caquexia é prevalente entre pacientes oncológicos com múltiplas formas de câncer, podendo levar a prejuízos na qualidade de vida, funcionalidade, perda de peso, massa muscular e redução da expectativa de vida. Esta síndrome multifatorial consiste na perda de mais de 5% do peso corporal em 6 meses, ou de 2%, ou mais, em pacientes com IMC < 20 ou sarcopênicos. O tratamento da caquexia é desafiador na prática clínica, devido à limitação de benefícios das terapêuticas atualmente utilizadas. Sendo assim, é extremamente necessário o desenvolvimento de novas drogas seguras e eficazes no combate à caquexia tumoral.

O fator de diferenciação de crescimento-15 (GDF-15) é uma citocina que se liga ao receptor da família do fator neurotrófico derivado de linhagem de célula glial (GDF-GFRAL) no rombencéfalo. A via do GDF-15–GFRAL é o principal modulador da anorexia e da regulação do peso corporal. Sabe-se que a inibição do GDF-15 alivia o fenótipo da caquexia, enquanto níveis elevados estão associados à redução de peso, massa magra e força em pacientes com câncer.

Este estudo de fase II, randomizado, multicêntrico e duplo cego, avaliou o uso de ponsegromabe, um potente e altamente seletivo anticorpo monoclonal humanizado que se liga ao GDF-15 circulante, inibindo sua interação com o receptor GFRAL. O estudo incluiu pacientes com caquexia e níveis elevados de GDF-15, visando avaliar a segurança e eficácia desta nova droga.

Os pacientes elegíveis foram adultos com câncer (pulmão não pequenas células, pâncreas ou colorretal), portadores de caquexia com níveis séricos de GDF-15 de pelo menos 1500 pg/mL, ECOG 3 ou menos e expectativa de vida de pelo menos quatro meses. Os pacientes foram randomizados em uma proporção 1:1:1:1 para receber ponsegromabe nas doses de 100 mg, 200 mg ou 400 mg, ou placebo, administrado de forma subcutânea a cada 4 semanas, em 3 doses, totalizando 12 semanas.

O objetivo primário foi a mudança no peso corporal basal após 12 semanas, com objetivos secundários relacionados à mudança nas escalas de avaliação funcional de caquexia e anorexia (FAACT-ACS) e em uma escala desenvolvida pelos patrocinadores, que funcionou como um diário de sintomas relacionados à caquexia tumoral. Outros desfechos incluíram mudanças nas atividades físicas e marcha, assim como o aumento da massa muscular e óssea.

Foram randomizados 187 pacientes para receber ponsegromabe nas 3 doses citadas anteriormente ou placebo. A média de idade foi de 67 anos, com a maioria sendo de homens brancos. O tempo médio de diagnóstico oncológico foi de um ano, e 90% estavam em tratamento antitumoral, sendo 36% em quimioterapia baseada em platina. Setenta e três por cento dos pacientes completaram as 12 semanas de tratamento. A média de GDF-15 sérico era de 3903 pg/mL. O estudo teve resultados positivos em seu desfecho principal, com ganho de peso progressivo conforme o aumento da dose da medicação: 1,22 kg (95% IC, 0,37 a 2,25; PP, <0,05) no grupo de 100 mg, 1,92 kg (95% IC, 0,92 a 2,97; PP, <0,05) no grupo de 200 mg e 2,81 kg (95% IC, 1,55 a 4,08; PP, <0,05) no grupo de 400 mg.

Quanto à segurança, o estudo demonstrou que a droga é segura, com porcentagens semelhantes de eventos adversos nos grupos de placebo e nas diferentes doses da medicação. A diarreia foi o evento adverso mais comum, seguida de progressão do câncer, anemia, hipocalemia e náuseas.

 

Comentário do avaliador científico:

Ponsegromabe é uma nova droga eficaz no ganho de peso e na melhoria da massa magra e óssea, além de ser bastante segura. É importante lembrar que os pacientes do estudo estavam em tratamento oncológico concomitante, incluindo quimioterapia, e, mesmo assim, foram relatados eventos adversos toleráveis, com melhor controle de náusea e vômito no grupo tratado com ponsegromabe em comparação com o placebo.

Além do ganho de peso, observou-se melhora na funcionalidade física, no crescimento da massa muscular e óssea, e aumento do apetite – fatores que contribuem para um dos desfechos mais desejados: o aumento da qualidade de vida do paciente oncológico. Esse tratamento mostra-se promissor na redução do estresse emocional e físico causado pela caquexia, tanto para os pacientes quanto para seus familiares e oncologistas.

Ainda há muito a explorar sobre o bloqueio do GDF-15, que também está elevado em condições não oncológicas, como insuficiência cardíaca e DPOC. Este artigo é promissor e acredito que estamos diante de um novo tratamento capaz de mudar a prática clínica, desde que mais evidências confirmem seu uso e benefícios.

 

Citação: Groarke, JD, Crawford J, Collins SM, et al. Ponsegromab for the Treatment of Cancer Cachexia. N Engl J Med. Published online September 14, 2024.  DOI: 10.1056/NEJMoa2409515

 

Avaliador científico:

Dra. Débora Forcellini

Oncologista Clínica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP – Ribeirão Preto/SP

Oncologista Clínica na Oncologia D’Or Santa Cruz – Curitiba/PR

Preceptora da Oncologia Clínica do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie

Título de Especialista em Oncologia Clínica pela SBOC/AMB

Instagram: @debora.onco

Cidade de atuação: Curitiba/PR