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SBOC REVIEW

Preservação da fertilidade e reprodução assistida em pacientes com câncer de mama interrompendo a terapia endócrina adjuvante para tentar engravidar

Resumo do artigo:

A duração ideal da terapia endócrina (TE) como tratamento adjuvante do câncer de mama com receptor hormonal positivo (RH+) varia de 5 a 10 anos. Durante esse período, a gravidez é contraindicada e desafia a viabilidade de futuras gestações, uma vez que o potencial de fertilidade declina ao longo do tempo. Recentemente, os resultados primários do estudo POSITIVE demonstraram que a interrupção temporária da TE para tentar engravidar não aumenta o risco a curto prazo de recorrência da doença. No entanto, outros desafios ainda persistem: o impacto prejudicial da quimioterapia na reserva ovariana e a incerteza sobre a segurança e a eficácia das tecnologias de reprodução assistida (TRAs). A publicação atual de análises secundárias no estudo POSITIVE investigou tempo até a gravidez, eficácia e segurança da preservação da fertilidade e tecnologias de reprodução assistida (TRAs) em mulheres jovens com câncer de mama (CM) RH+ que desejam gestar.

POSITIVE é um estudo prospectivo internacional, de braço único, no qual 518 mulheres interromperam temporariamente a terapia endócrina adjuvante para tentar engravidar. Avaliou-se a recuperação da menstruação e fatores associados ao tempo até a gravidez. Além disso, foi investigado se o uso de TRAs estaria associado à obtenção da gravidez. A incidência cumulativa de eventos de intervalo livre de CM (BCFI) foi estimada de acordo com o uso de estimulação ovariana no diagnóstico. O acompanhamento médio foi de 41 meses.

Mulheres elegíveis tinham CM RH + estágios I a III, com 42 anos ou menos e que receberam 18-30 meses de TE adjuvante antes da inclusão. Todas as pacientes passaram por um período de livre de tratamento de 3 meses após a cessação da TE antes de tentar engravidar. Conforme o protocolo, a duração da interrupção da TE poderia ser de até 2 anos. Informações sobre o uso de preservação da fertilidade no diagnóstico foram coletadas na entrada do estudo. Os métodos de preservação da fertilidade incluíram: o uso de análogos de GnRHa durante a quimioterapia, estimulação ovariana seguida de criopreservação de embriões e/ou oócitos, ou criopreservação de tecido ovariano. Após a inscrição, todas as pacientes foram solicitadas a preencher um diário de menstruação para coletar prospectivamente as datas do ciclo menstrual durante os primeiros 2 anos do estudo. Conforme o protocolo, o uso de qualquer modalidade de TRA no estudo foi permitido a critério do investigador e da paciente. Incluiu-se transferência de embriões criopreservados em pacientes que passaram por criopreservação de embriões/oócitos antes da inscrição, estimulação ovariana para fertilização in vitro (FIV), inseminação intrauterina, uso de clomifeno, doação de embriões/óvulos e transplante de tecido ovárico. Dados sobre o uso de TRA foram coletados por 2 anos após a entrada no estudo, correspondendo à duração máxima esperada de interrupção temporária da TE.

Duzentos e setenta e três pacientes (53%) relataram amenorreia no momento da inscrição, das quais 94% retomaram a menstruação em 12 meses. Entre 497 pacientes avaliáveis para gravidez, 368 (74%) relataram pelo menos uma gravidez. A idade jovem foi o principal fator associado ao menor tempo para a gravidez, com incidências cumulativas de gravidez em 1 ano de 63,5%, 54,3% e 37,7% para pacientes com idade <35, 35-39, e 40-42 anos, respectivamente. Cento e setenta e nove pacientes (36%) tiveram criopreservação de embriões/oócitos no diagnóstico, dos quais 68 relataram transferência de embriões após o recrutamento. A transferência de embriões criopreservados foi a única TRA associada à maior chance de gravidez (HR 2,41; IC 95%, 1,75 a 4,95). A incidência cumulativa de eventos de BCFI em 3 anos foi semelhante para mulheres submetidas à estimulação ovariana para criopreservação no diagnóstico (9,7%; IC 95%, 6,0 a 15,4), em comparação com aquelas que não foram (8,7%; IC 95%, 6,0 a 12,5).

Como conclusão, a preservação da fertilidade usando estimulação ovariana não foi associada com impacto prejudicial a curto prazo no prognóstico do câncer. As taxas de gravidez foram mais altas entre aquelas que passaram por criopreservação de embriões/oócitos seguida por transferência de embriões.

 

Comentário do avaliador científico:

O estudo POSITIVE é o único estudo prospectivo até o momento a avaliar os resultados oncológicos e reprodutivos de mulheres que tentam engravidar após o câncer de mama. Esse trabalho já havia demonstrado, em publicação anterior, que a interrupção temporária da terapia endócrina (TE) em mulheres com câncer de mama (CM) receptor hormonal positivo para tentar engravidar não aumenta o risco de recorrência a curto prazo. Nesta análise secundária, avaliou-se a associação entre o uso de estimulação ovariana para preservação da fertilidade ou tecnologias de reprodução assistida (TRAs) e desfechos no CM RH+. Outros objetivos incluíram o tempo para recuperação da menstruação e o tempo para gravidez, além da associação entre o uso de TRA e a chance de gravidez.

A criopreservação de embriões/oócitos no diagnóstico do CM seguida pela transferência de embriões após a interrupção do TE teve maiores taxas de gravidez e não foi associada a pior prognóstico. As retomadas menstruais ocorreram principalmente durante os primeiros 6 meses, com a idade jovem sendo o fator mais determinante.

Por fim, esses importantes dados fornecem evidências sobre eficácia e segurança a curto prazo de diferentes opções de preservação da fertilidade e TRAs. Além disso, acrescentam evidências aos resultados primários do estudo POSITIVE, como um recurso importante para o aconselhamento de fertilidade de pacientes jovens com CM.

 

Citação:

Azim HA Jr, Niman SM, Partridge AH, et al. Fertility Preservation and Assisted Reproduction in Patients With Breast Cancer Interrupting Adjuvant Endocrine Therapy to Attempt Pregnancy. J Clin Oncol. 2024 Aug 10;42(23):2822-2832. doi: 10.1200/JCO.23.02292. Epub 2024 May 29. PMID: 38810178

 

Avaliador científico:

Dra. Lygia Maria Costa Soares Rego

Oncologista Clínica no Hospital Promater-Américas e na Clínica São Marcos – Natal/RN

Oncologista Clínica pelo Instituto Nacional do Câncer – Rio de Janeiro/RJ

Membro da SBOC, ASCO, ESMO, EVA, GONNE

Professora Adjunta de Oncologia UFRN – Natal/RN

Doutoranda em Saúde Coletiva pela UFRN

Instagram: @dralygia_soares

Cidade de atuação: Natal/RN