SBOC REVIEW

A maioria das mulheres com câncer de endométrio apresenta prognóstico favorável. Entretanto, aquelas com características de alto risco têm menores chances de cura. Estudos que compararam quimioterapia (QT) versus radioterapia (RT) adjuvante para mulheres com câncer de endométrio de alto risco não encontraram diferenças significativas em sobrevida global (SG) ou sobrevida livre de recorrência (SLR). O estudo de fase 2 RTOG-9708, então, avaliou combinação de QT e RT e reportou resultados animadores. Posteriormente, o estudo do NSGO/EORTC sugeriu benefício em SLR para estratégia de quimiorradioterapia sequencial (QRT) versus RT isolada.

O Portec-3 foi um estudo clínico multicêntrico para o qual foram elegíveis 660 pacientes com câncer de endométrio de alto risco: estadio I e histologia endometrioide grau 3 com invasão miometrial profunda e/ou invasão angiolinfática, estadio II ou III e estadio I a III com histologia serosa ou células claras. As pacientes foram randomizadas para RT isolada ou dois ciclos de cisplatina concomitantes à RT, seguindo-se quatro ciclos de carboplatina e paclitaxel. Após uma mediana de seguimento de 60 meses, não houve diferença em SG. Já para SLR em 5 anos, encontrou-se um benefício absoluto de 6,9% (p<0,002) a favor da QRT. Análise de subgrupos mostrou ganho absoluto de 11% em SLR para QRT em estadio III. Entretanto, para estadios I/II não houve ganho significativo em SG/SLR com QRT e, para essas pacientes, os autores não favorecem esse esquema de QRT, pois RT isolada proporcionou um bom controle pélvico e menor toxicidade.

De Boer e cols. Lancet Oncol. 2018 Mar;19(3):295-309. PMID: 29449189

Comentário: O câncer de endométrio de alto risco é um grupo heterogêneo. Devemos ponderar o impacto em qualidade de vida e as características da patologia para selecionar quem se beneficia da QRT adjuvante.

Mariana Scaranti, MD
Oncologista clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo