SBOC REVIEW
Quimioterapia adjuvante combinada à radioterapia para carcinoma de endométrio localmente avançado
Resumo do artigo:
Os resultados do estudo de fase III GOG258 foram recentemente publicados no The New England Journal of Medicine. Pacientes com carcinoma de endométrio estadio III ou IVA (FIGO2009) foram randomizadas para receber quimioterapia (QT- carboplatina AUC de 6 e paclitaxel 175 mg/m2 a cada 21 dias por 6 ciclos) ou quimiorradioterapia ( QTRT- cisplatina 50mg/m2 D1 e D29 concomitante a radioterapia seguido de carboplatina AUC de 5-6 e paclitaxel 175mg/m2 por 4 ciclos com suporte de fator estimulador de colônia).
Nesse estudo, 736 pacientes foram incluídas e 707 receberam tratamento conforme a randomização (346 QTRT e 361 QT). O tempo mediano de seguimento foi de 47 meses. Em 60 meses, a combinação de quimioterapia e radioterapia não se associou a melhor sobrevida livre de recorrência comparada à quimioterapia isolada nessa população. QTRT associou-se a menor incidência de recorrência na vagina e em linfonodos pélvicos e para-aórticos, porém com maior frequência de recorrência à distância. Eventos adversos maior ou igual a grau 3 ocorreram em 58% dos pacientes do grupo QTRT e em 63% nos pacientes do grupo QT.
Adjuvant Chemotherapy plus Radiation for Locally Advanced Endometrial Cancer. N Engl J Med 2019;380:2317–26. doi:10.1056/NEJMoa1813181.
Quimioterapia adjuvante combinada à radioterapia para carcinoma de endométrio localmente avançado.
Comentários do editor:
Esse trabalho sugere que quimioterapia é importante para prevenir recorrência a distância e que, possivelmente, oncologistas discutam omitir radioterapia em favor da quimioterapia nesta população, já que não houve benefício em sobrevida livre de recorrência para a combinação (QTRT). Ao mesmo tempo, os resultados do PORTEC-3 mostraram que a combinação de radioterapia e quimioterapia quando comparada à radioterapia isolada esteve associada a melhora em sobrevida livre de recorrência ou morte relacionada a câncer de endométrio para estádio III. Na década passada, o GOG122 mostrou que quimioterapia com doxorrubicina e platina trouxe benefício em sobrevida global quando comparada à radioterapia em pacientes com câncer de endométrio estadio III e IV.
A escolha do melhor tratamento para este grupo de pacientes ainda é motivo de debate. Talvez o melhor momento para realizar a radioterapia seja após completar um tempo adequado de quimioterapia, e isso ainda não foi elucidado. A busca de tratamentos eficientes para esta população de alto risco por meio de ensaios clínicos randomizados se faz necessária.
Referências:
[1] de Boer SM, Powell ME, Mileshkin L, Katsaros D, Bessette P, Haie-Meder C, et al. Adjuvant chemoradiotherapy versus radiotherapy alone for women with high-risk endometrial cancer (PORTEC-3): final results of an international, open-label, multicentre, randomised, phase 3 trial. Lancet Oncol 2018;19:295–309. doi:10.1016/S1470-2045(18)30079-2.
[2] Randall ME, Filiaci VL, Muss H, Spirtos NM, Mannel RS, Fowler J, et al. Randomized Phase III Trial of Whole-Abdominal Irradiation Versus Doxorubicin and Cisplatin Chemotherapy in Advanced Endometrial Carcinoma: A Gynecologic Oncology Group Study. J Clin Oncol 2006;24:36–44. doi:10.1200/JCO.2004.00.7617.
Editora:
Dra. Mariana Scaranti
Membro da SBOC, Oncologista Clínica do Hospital Sírio Libanês e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).
Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.
