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SBOC REVIEW

Quimioterapia adjuvante em carcinoma urotelial do trato superior (estudo POUT): um estudo de fase 3, aberto, controlado e randomizado

Resumo do artigo:

Carcinoma urotelial do trato superior é uma doença rara e agressiva. Cerca de 56% dos pacientes apresentam doença musculo invasiva ou localmente avançada no momento do diagnóstico. Estudos sobre o uso de quimioterapia no cenário adjuvante são escassos, retrospectivos e com resultados conflitantes. Dessa forma, para a doença localizada o tratamento padrão é cirurgia com nefrouretrectomia seguida de vigilância. O estudo POUT recrutou pacientes em 71 hospitais do Reino Unido. Os critérios de inclusão incluíam pacientes que receberam tratamento com nefrouretrectomia radical, estadiamento pT2-4, pN1-3 e sem evidencia de metástase (M0). Linfadenectomia estendida não era obrigatória. Aqueles pacientes com linfonodos suspeitos eram submetidos a linfadenectomia e os pacientes com linfonodos residuais suspeitos em imagem pós-operatória eram excluídos. O ritmo de filtração glomerular pós cirurgia deveria ser maior que 30 ml/min.
Os pacientes eram randomizados em 2 grupos após a cirurgia: grupo observação ou grupo que recebia quimioterapia adjuvante. O tratamento consistia em iniciar a quimioterapia em até 90 dias após a cirurgia. O esquema de quimioterapia era gencitabina 1000 mg/m2 no D1 e D8 associado a cisplatina 70 mg/m2 ou carboplatina AUC 4.5 ou 5 (de acordo com a preferência do centro) no D1. Os ciclos eram a cada 21 dias e os pacientes recebiam um total de 4 ciclos. A única razão para se usar carboplatina no lugar da cisplatina era a taxa de filtração glomerular (> 30 e < 50 ml/min). O desfecho primário era sobrevida livre de doença (SLD). Os desfechos secundários incluíam sobrevida livre de metástase, sobrevida global (SG) e toxicidade.
Entre junho de 2012 e novembro de 2019, 260 pacientes foram randomizados: 129 no braço observação e 131 no braço que recebeu quimioterapia. O recrutamento foi encerrado precocemente após avaliação do comitê independente de monitoramento devido a eficácia. A mediana de idade foi de 68.5 anos e a maioria dos pacientes era estádio pT2-3 (94%) e pN0 (91%). A taxa de SLD em 3 anos foi de 71% para o braço que recebeu quimioterapia versus 46% para o braço observação (HR 0.45; p=0.0001). A mediana de SLD não foi alcançada no braço da quimioterapia versus 29.8 meses no braço observação. A sobrevida livre de metástase ou morte foi 71% versus 53% para os braços de quimioterapia versus observação respectivamente (HR 0.48; p=0.0007). Os dados de SG mediana ainda estão imaturos. Eventos adversos grau 3 ou maior ocorreram em 54% dos pacientes que receberam quimioterapia.

 

Adjuvant chemotherapy in upper tract urothelial carcinoma (the POUT trial): a phase 3, open-label, randomized controlled trial. Birtle et al. Lancet Oncol. 2020 Mar 5. pii: S0140-6736(20)30415-3.
Quimioterapia adjuvante em carcinoma urotelial do trato superior (estudo POUT): um estudo de fase 3, aberto, controlado e randomizado.

 

Comentário do avaliador científico:
- Os autores do estudo merecem ser parabenizados por esse importante trabalho. Estudos prospectivos em pacientes com carcinoma urotelial de trato alto são difíceis de serem conduzidos pela raridade da doença;
- O estudo POUT traz um dado de qualidade numa população em que basicamente encontramos apenas estudos retrospectivos;
- O estudo foi capaz de demonstrar de maneira robusta o ganho em SLD com quimioterapia adjuvante nessa população; 
- Embora SLD não seja o desfecho ideal para um estudo de adjuvância (o ideal seria SG), o desenho de uma fase 3 randomizado com desfecho principal de SG seria muito difícil de ser realizado (se não inviável do ponto de vista prático);
- Aguardaremos tempo maior de follow up para ter dados mais maduros de SG com esse estudo; 
- Embora muitos oncologistas já ofereçam quimioterapia adjuvante para pacientes com carcinoma urotelial de trato alto após a cirurgia, esse estudo traz um dado de qualidade para reforçar a indicação.

 

Avaliador científico e editor:
Dr. Daniel da Motta Girardi
Oncologista clínico do Hospital Sírio-Libanês Brasília e do Hospital de Base do Distrito Federal. Advanced fellow no programa de tumores geniturinários do National Cancer Institute, Bethesda, Estados Unidos da América.