SBOC REVIEW

Resumo do artigo:

O estudo clínico POUT foi um ensaio de fase III randomizado que incluiu 261 pacientes com câncer urotelial do trato superior (UTUC) não metastático, pT2-4, pN1-3, submetidos à nefroureterectomia radical. Foram randomizados para receber quimioterapia adjuvante baseada em platina (132 pacientes) ou observação (129 pacientes), iniciando até 90 dias após a cirurgia. O esquema de quimioterapia utilizado: gencitabina 1000 mg/m2 no D1 e D8 associado à cisplatina 70 mg/m2 no D1 por um total de 4 ciclos, a cada 21 dias. Se taxa de filtração glomerular entre 30-49 mL/min, utilizava-se carboplatina AUC 4.5 ou 5 (preferência do centro) no D1 em substituição à cisplatina.

O desfecho primário do estudo foi a sobrevida livre de doença (SLD), enquanto os desfechos secundários abrangeram a sobrevida global (SG), sobrevida livre de metástases (SLM), sobrevida específica da doença (DSS), qualidade de vida (QV), tempo até o segundo tumor primário na bexiga (TSPB) e toxicidade tardia. A análise estatística incluiu métodos para avaliar a sobrevida global, como o tempo de seguimento desde a randomização até o óbito por qualquer causa, com censura na data do último acompanhamento.

Os resultados finais do estudo demonstraram que, após seguimento mediano de 65 meses, o desfecho primário foi positivo confirmando redução do risco de recorrência ou morte em pacientes alocados para quimioterapia. A SLD em 5 anos mostrou-se de 62% versus 45% (HR 0,55; IC 95%, 0,38 – 0,80; p=0,001). Ajustando-se para status nodal, regime de quimioterapia, status da margem e estágio patológico: HR multivariável 0,58 (IC 95%, 0,40 – 0,84; p=0,004). O tempo médio de sobrevida restrito (RMST), análise que avalia diferença no tempo médio de sobrevida entre os braços, sem assumir uma razão de risco constante, foi 18 meses maior no braço da quimioterapia.

No concernente à sobrevida global, houve 46 e 60 mortes nos grupos quimioterapia e vigilância, respectivamente, das quais 33 de 46 (72%) e 48 de 60 (80%) foram consequentes ao câncer urotelial. Houve uma tendência de melhora na sobrevida dos pacientes alocado para quimioterapia (SG de 5 anos 66% vs 57%; HR univariável 0,68; IC 95%, 0,46 – 1,00; p=0,049; HR multivariável 0,76; IC 95%, 0,51 – 1,12; p=0,17). O RMST mostrou uma melhoria de SG de 11 meses com quimioterapia, sugerindo benefícios a longo prazo.

Os dados de longo prazo sobre toxicidade relatada pelo médico e a qualidade de vida relatada pelo paciente sugere nenhum impacto importante a longo prazo, que possa compensar os benefícios.

Comentário do avaliador científico:

Os dados da atualização do estudo POUT reiteram o benefício da adjuvância com quimioterapia nos pacientes com UTUC, agora com dados maduros e resultados dos endpoints secundários, consolidando a adjuvância.

Os efeitos do tratamento foram consistentes independentemente do regime de quimioterapia utilizado (cisplatina ou carboplatina) e do estágio da doença. Além disso, não foram observadas diferenças clinicamente relevantes na qualidade de vida entre os grupos.

Esses resultados finais do estudo POUT reforçam a importância da quimioterapia adjuvante em pacientes com UTUC, sugerindo benefícios a longo prazo. A disseminação desses achados é crucial para orientar as práticas clínicas e melhorar os desfechos dos pacientes com essa condição.

Citação: Alison Jane Birtle et al., Improved Disease-Free Survival With Adjuvant Chemotherapy After Nephroureterectomy for Upper Tract Urothelial Cancer: Final Results of the POUT Trial. JCO 0, JCO.23.01659 DOI:10.1200/JCO.23.01659

Avaliador científico:

Vinícius Agibert de Souza

Médico Oncologista Clínico pela UNIFESP – SP, Hospital da Saúde da Mulher e preceptor do Ambulatório de Pesquisa e Inovação da Oncologia UNIFESP – São Paulo, CEO Laví pesquisa clínica.