SBOC REVIEW
Quimioterapia de indução com cisplatina mais paclitaxel semanal seguida por quimiorradioterapia para carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço localmente avançado
Resumo do artigo:
Estima-se que 60% dos carcinomas epidermóides de cabeça e pescoço sejam diagnosticados quando localmente avançados, para os quais não há um manejo padrão, haja vista a heterogeneidade de apresentação tumoral, bem como de ensaios clínicos. Uma das alternativas terapêuticas baseia-se na quimioterapia de indução, seguida de quimorradioterapia concomitante, alvejando a preservação do órgão. Vantagens da quimioterapia de indução incluem a possibilidade de redução volumétrica tumoral, otimizando o status clínico dos pacientes (no que tange à função de órgão e consequente adequação nutricional) previamente ao tratamento definitivo. Ainda, supõe-se que a quimioterapia de indução possa antecipar o tratamento de doença metastática subclínica, além de fornecer informação prognóstica e preditiva para a terapia posterior.
Estudos de fase III demonstraram que a quimioterapia de indução com três drogas pode exercer impacto positivo em sobrevida. Não obstante, a pronunciada toxicidade associada a esses regimes demanda monitoramento sistemático dos pacientes. Adicionalmente, regimes infusionais podem ser financeiramente dispendiosos, devido à necessidade de bombas de infusão e antibioticoterapia profilática.
Neste estudo unicêntrico, de braço único, os autores avaliaram eficácia, segurança e desfechos de sobrevida para um protocolo de quimioterapia de indução não-infusional, baseado em duas drogas (cisplatina e paclitaxel), seguida de quimiorradiação padrão em carcinomas epidermóides de cabeça e pescoço localmente avançados. Foram incluídos 33 pacientes; 32 apresentavam Performance Status 1 e 81.8% apresentavam estadio clínico IVA-B. Após a indução, resposta parcial foi observada em sete pacientes (21.2%) e resposta completa, em 25 pacientes (75.7%). A sobrevida global estimada para três anos foi de 50.6%, enquanto a sobrevida livre de progressão, para o mesmo período, foi de 58.4%. Os eventos adversos graus 3 e 4 mais frequentes incluíram anemia (5.8%), astenia (5.8%) e neutropenia febril (8.8%), tendo sido um óbito atribuído a esta toxicidade.
Induction chemotherapy with cisplatin plus weekly paclitaxel followed by chemoradiotherapy for locally advanced squamous cell carcinoma of the head and neck. SILVA, S. et al. Braz J Oncol. 2019.
Quimioterapia de indução com cisplatina mais paclitaxel semanal seguida por quimiorradioterapia para carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço localmente avançado.
Comentários do autor:
- O estudo corrobora observações prévias de que o regime de indução não-infusional, baseado em cisplatina e paclitaxel, é factível e seguro, embora sua toxicidade não seja irrisória.
- O regime de tratamento proposto pelo estudo demonstrou adequado controle locorregional e comparáveis taxas de sobrevida.
- Os pacientes avaliados no estudo apresentavam tumores volumosos, de alto risco para progressão, além de baixos IMC e status sócio-econômico. Ademais, todos os pacientes foram tratados sob um sistema público de saúde, cujos recursos são escassos. Este regime de indução de duas drogas, não-infusional, pode, portanto, representar uma adequada opção terapêutica para esta população.
- Apesar dos achados promissores, este estudo tem poder limitado. Estudos de fase III, avaliando regimes de duas drogas, neste cenário, são necessários para confirmar esses resultados.
Autor:
Dr. Rafael M. Grochot, M.D., MSc.
Clinical Fellow – Drug Development Unit, The Royal Marsden NHS Foundation Trust.