SBOC REVIEW
Quimioterapia sistêmica adjuvante versus vigilância ativa após ressecção inicial de metástases colorretais peritoneais sincrônicas isoladas
Resumo do artigo:
Em muitos países a cirurgia como conduta inicial para metástases peritoneais sincrônicas isoladas em Câncer colorretal, seguida por quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC) é adotada como tratamento de rotina, baseado no protocolo do estudo de Verwaal e colaboradores, porém o uso de quimioterapia adjuvante neste contexto ainda é controverso.
Este estudo de coorte observacional holandês foi desenhado com intuito de avaliar o papel da quimioterapia adjuvante iniciada até 3 meses após citorredução cirúrgica completa com HIPEC (com mitomicina C ou oxaliplatina) em 393 pacientes com metástases peritoneais sincrônicas isoladas de câncer colorretal. O braço experimental continha 172 pacientes, que iniciaram quimioterapia adjuvante em média 8 semanas após a cirurgia, sendo que 53% destes pacientes receberam quimioterapia baseada em fluoropirimidinas e oxaliplatina. O braço controle, com 221 pacientes, foi submetido a vigilância ativa. Foram excluídos pacientes com tumores primários de apêndice, metástases extra-peritoneais concomitantes e sem comprovação histológica de acometimento peritoneal.
O desfecho primário foi sobrevida global, definida como tempo entre a cirurgia citorredutora com HIPEC e a data do óbito ou última avaliação do paciente.
As análises mostraram uma sobrevida global de 35,2 meses quando considerada toda a população do estudo. No grupo que recebeu adjuvância com quimioterapia sistêmica a sobrevida global foi de 39,2 meses e no grupo observação foi de 24,8 meses. As taxas de sobrevida no grupo experimental foram de 92% em 1 ano, 55% em 3 anos e 35% em 5 anos. Já no grupo controle essas taxas foram de 81% (1 ano), 41% (3 anos) e 22 % (5 anos). O uso de quimioterapia sistêmica adjuvante neste contexto mostrou aumento de sobrevida global em relação ao grupo submetido apenas a vigilância ativa (HR 0,64; IC 95% 0,48-0,86; p=0,003).
Adjuvant Systemic Chemotherapy vs Active Surveillance Following Up-front Resection of Isolated Synchronous Colorectal Peritoneal Metastases. Rovers KP et al. JAMA Oncol. 2020;6(8):e202701.
Quimioterapia sistêmica adjuvante versus Vigilância Ativa após ressecção inicial de metástases colorretais peritoneais sincrônicas isoladas
Comentário do avaliador científico:
- Em ambos os braços foi adotado o uso de HIPEC associado a cirurgia citorredutora o que é ainda controverso no tratamento do câncer colorretal. O estudo PRODIGE 7, fase III randomizado, avaliou o uso de HIPEC com oxaliplatina associado a cirurgia no cenário da doença colorretal metastática para peritônio isoladamente e não mostrou ganho em sobrevida global no grupo que recebeu quimioterapia intraperitoneal hipertérmica. Neste e em outros estudos que avaliaram o uso de HIPEC, este tipo de terapia aumentou a morbidade relacionada ao tratamento, o que pode ter impactado nos desfechos de sobrevida da população avaliada no artigo descrito acima.
- Importante salientar que o resultado de estudos retrospectivos e não controlados como este deve ser avaliado com cautela e como um gerador de hipóteses para outros estudo futuros, já que a melhor evidência científica é produzida por ensaios clínicos randomizados, controlados e preferencialmente de fase III.
Avaliador científico
Dra. Vanessa Montes Santos, MD
Oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e do Hospital Municipal Vila Santa Catarina.
Ex-residente de oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP/ USP).
MBA de Gestão em Saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).