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SBOC REVIEW

Radioterapia isolada no câncer cervical localmente avançado: um tratamento paliativo? Dados do mundo real

Resumo do artigo:

Neste estudo retrospectivo realizado no Hospital do Câncer II do Instituto Nacional de Câncer, foram avaliadas pacientes com diagnóstico de carcinoma cervical localmente avançado (estágio IB2 a IVA) conforme definido pela FIGO 2009 e que apresentavam contraindicações ao uso de quimioterapia concomitante. Pacientes com tumor metastático (estágio IVB pela FIGO), exceto aquelas com linfonodos paraaórticos, e outras histologias que não adenocarcinoma e escamoso não foram incluídas. As pacientes incluídas foram tratadas com radioterapia externa com intenção curativa e, se completassem a radioterapia externa, foram consideradas para braquiterapia.

Dados demográficos, razões para não receber quimioterapia concomitante e respostas ao tratamento foram avaliados. Foram calculadas as sobrevidas livre de doença (SLD) e sobrevida global (SG).

De janeiro de 2010 a dezembro de 2012, 2.224 foram diagnosticados com carcinoma cervical localmente avançado no Instituto Nacional do Câncer. Destas, 182 pacientes foram tratadas com radioterapia exclusiva devido à contraindicação à quimioterapia concomitante. A mediana de idade no momento do diagnóstico inicial era de 60 anos (variação 26,4-101,4), e a histologia mais frequente foi o carcinoma espinocelular (88,5%). A maioria das pacientes eram da raça branca (52,7%), com performance status 1 (58,6%), e 109 pacientes (59,9%) apresentavam estágio III da FIGO. As contraindicações para o tratamento concomitante com cisplatina foram disfunção renal em 65,9% (n = 120), baixo performance status em 26,9% (n = 49) e outros motivos em 29,1% (n = 53) dos casos. Algumas pacientes apresentavam mais de uma contraindicação para o uso de cisplatina.

Em relação à radioterapia, 153 pacientes (84,1%) receberam 25 a 30 frações de EBRT e 29 (15,9%) pacientes receberam menos de 25 frações devido a eventos adversos relacionados ao tratamento, deterioração clínica ou progressão da doença durante a radioterapia. Um total de 105 pacientes (59%) receberam ≥5000cGy e 94 pacientes não receberam braquiterapia. Das que receberam braquiterapia, a maioria (82 pacientes, 95,3%) recebeu entre 2000-3000 cGy.

Com um acompanhamento médio de 13,9 meses (intervalo de 0,10-81,8), a SLD mediana foi de 11,6 meses (IC 95%: 10,2-13,1) e a SG mediana foi de 15,9 meses (IC 95%: 11,5-20,3). A avaliação da resposta foi realizada em 162 (89%) pacientes e, destas, apenas 17,4% tiveram uma avaliação radiológica (por RECIST 1.1). As demais foram avaliadas com exame ginecológico (critérios da WHO). Benefício clínico foi observado em 116 pacientes, sendo observada resposta completa em 71 pacientes, resposta parcial em 43 pacientes e estabilidade de doença em 2 pacientes.

 

Braz TP, Paulino E, Garces AHI, Reisner RG, Guitmann G, Thuler LCS, et al. Radiotherapy alone in locally advanced cervical cancer: a palliative treatment? Real-world data. Braz J Oncol. 2021;17.
Radioterapia isolada no câncer cervical localmente avançado: um tratamento paliativo? Dados do mundo real.

 

Comentário do avaliador científico:

No Brasil, conforme o panorama dos tumores ginecológicos, as pacientes com câncer de colo uterino são geralmente diagnosticadas já em fase localmente avançada, o que pode estar associado a perda da função renal e queda de performance status da paciente. Quando indicado, a cisplatina semanal é o esquema mais utilizado concomitante a radioterapia. Porém, devido a sua nefrotoxicidade e aumento do risco de complicações, ela é contraindicada em pacientes já com função renal prejudicada ou queda de performance status.

Apesar de outras drogas poderem ser utilizadas neste cenário, foi observado benefício clínico e controle da doença nesta coorte de pacientes tratadas com radioterapia exclusiva. Este estudo de mundo real fornece informações descritivas que reforçam o uso da radioterapia com intenção curativa. Esta deve ser oferecida às pacientes com câncer cervical localmente avançado, mesmo quando a quimioterapia não é uma opção devido às contraindicações clínicas ou laboratoriais.

 

Avaliador científico:

Dr. Eduardo Paulino
Oncologista clínico e Doutorando em Oncologia pelo INCA
Research fellow, Massachusetts General Hospital – Harvard Medical School
Oncologista Clínico do Hospital do Câncer II – Instituto Nacional de Câncer/RJ e da Oncologia D’or/RJ e Internal Expert GlaxoSmithKline
Diretor de Ensino - Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (GRUPO EVA)