SBOC REVIEW
Resultados clínicos e efeitos tóxicos de inibidores de checkpoint imunológico como agente único entre pacientes de 80 anos ou mais com câncer: um estudo de coorte internacional multicêntrico
Resumo do artigo:
Pacientes idosos são pouco representados em ensaios clínicos e, por essa razão, decisões terapêuticas nesta população costumam ser tomadas com base na extrapolação de dados de ensaios clínicos de pacientes jovens. Pouco se sabe sobre a eficácia dos inibidores de checkpoint imunológico (ICIs) e a morbidade associada aos eventos adversos imunorelacionados (irAEs) nos pacientes geriátricos.
Este estudo retrospectivo avaliou os resultados clínicos e a segurança dos ICIs como agente único no tratamento de 928 pacientes com ≥80 anos com diferentes tumores, tratados entre 2010 e 2019, em 18 centros médicos dos EUA e Europa.
Os 3 tipos de tumores mais comuns foram câncer de pulmão células não pequenas – CPCNP (37,2%), melanoma (35,5%) e tumores geniturinários (16,5%). A maioria dos pacientes (86,9%) foram tratados com anti-PD-1 e os demais com anti-PD-L1 (8,5%) ou anti-CTLA-4 (4,6%).
Os resultados foram avaliados nos 3 subtipos histológicos mais comuns, sendo a taxa de resposta objetiva de 32,2%, 39,3% e 26,2% nos pacientes com CPCNP, melanoma e tumores geniturinários, respectivamente. As medianas de sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG) foram 6,7 e 10,9 meses (CPCNP), 11,1 e 30,0 meses (melanoma) e 6,0 e 15,0 meses (tumores geniturinários). Os resultados clínicos foram semelhantes nos subgrupos de idade (<85 anos vs ≥85 anos), não havendo associação significativa entre o aumento da idade e SLP ou SG, independente do subgrupo histológico.
Entre os 928 pacientes do estudo, 338 (41,3%) apresentaram 1 ou mais irAEs, incluindo 113 (12,2%) eventos adversos G3 ou G4 e 85 (22,2%) hospitalizações. Não ocorreram mortes relacionadas a irAEs. Os eventos adversos mais comuns foram dermatite (14,2%), colite/diarreia (9,2%) e alterações tireoidianas (8,1%). O tempo médio para o início dos irAEs foi 9,8 semanas. As taxas de eventos adversos foram semelhantes entre os subgrupos de idade: 43,1% nos pacientes com >85 anos, 37,2% entre 85 e 89 anos e 38,3% naqueles com ≥90 anos (p=0,15).
Entre os pacientes que interromperam o tratamento, a descontinuação do ICI teve relação com irAEs em 16,1% deles, sendo que pacientes com ≥90 anos foram mais propensos a descontinuar o uso do ICI devido a eventos adversos do que os pacientes mais jovens (30,9% vs 15,1% [p=0,008]).
Por fim, os achados deste estudo sugerem que inibidores de checkpoint imunológico podem ser eficazes e, em geral, bem tolerados entre pacientes idosos com câncer, não devendo a idade por si só ser impedimento para a terapia com ICI.
Nebhan CA, Cortellini A, Ma W, Ganta T, et al. Clinical Outcomes and Toxic Effects of Single-Agent Immune Checkpoint Inhibitors Among Patients Aged 80 Years or Older With Cancer: A Multicenter International Cohort Study. JAMA Oncol. 2021 Dec 1;7(12):1856-1861. doi: 10.1001/jamaoncol.2021.4960. PMID: 34734989; PMCID: PMC8569601.
Resultados clínicos e efeitos tóxicos de inibidores de checkpoint imunológico como agente único entre pacientes de 80 anos ou mais com câncer: um estudo de coorte internacional multicêntrico.
Comentário da avaliadora científica:
Embora a incidência de câncer se eleve com o avanço da idade, a maioria dos ensaios clínicos em oncologia não incluem idosos, sobretudo a população com ≥ 80 anos. Essa pouca representatividade resulta na falta de evidência de eficácia e segurança dos tratamentos oncológicos na população geriátrica que, em conjunto com fatores como performance status, disfunção orgânica e comorbidades contribuem para que indivíduos idosos recebam menos tratamento, seja quimioterapia, cirurgia ou radioterapia.
Neste contexto, a imunoterapia com seu perfil de toxicidade mais tolerável torna-se uma opção atrativa para o tratamento do paciente idoso, entretanto, preocupações relacionadas à imunosenescência e risco de eficácia inferior, bem como ao impacto dos efeitos adversos imunorelacionados na qualidade de vida seguem dificultando as decisões terapêuticas nesta população.
Este estudo, o maior envolvendo pacientes oncológicos com ≥ 80 anos e uso de inibidores de checkpoint, apesar de limitado por não comparar com pacientes mais jovens, demonstrou resultados semelhantes aos de estudos menores sugerindo que idosos tem a mesma eficácia com o tratamento com ICIs e a idade não está relacionada a maior ocorrência de eventos adversos graves.
Avaliadora científica:
Dra. Lyvia Bessa
Residência em Oncologia Clínica pelo Hospital das Clínicas do Acre
Oncologista Clínica na Unacon-Acre e Oncoclinica