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SBOC REVIEW

Resultados de sobrevida em 5 anos do estudo PACIFIC: Durvalumabe após quimiorradioterapia em Câncer de Pulmão não-pequenas células EC III

Resumo do artigo:

Pacientes com câncer de pulmão de células não-pequenas (CPCNP) estágio clínico (EC) III irressecável e bom performance status são tratados preferencialmente com quimiorradioterapia de forma concomitante (cCRT). No entanto, os resultados a longo prazo desta combinação são limitados e a sobrevida mediana é de aproximadamente 28 meses, com cerca de menos de 30% dos pacientes vivos em 5 anos. A quimioterapia de consolidação não melhorou o prognóstico em estudos randomizados para esse subgrupo. O PACIFIC, é um estudo fase III, multicêntrico, duplo-cego, que randomizou 713 pacientes portadores de CPCNP EC III irressecável, que não progrediram à cCRT baseada em platina, na proporção 2:1 entre manutenção com o agente anti-PD-L1, durvalumabe, na dose de 10 mg/Kg a cada 2 semanas ou placebo, por um período de 12 meses. A primeira análise interina publicada em 2017 com mediana de 14,5 meses de follow-up, atingiu um de seus desfechos primários com ganho em sobrevida livre de progressão da ordem de 16,8 meses de mediana com HR 0,52. Em segunda análise interina, publicada em 2018, com follow-up mediano de 25,2 meses, atingiu também seu segundo desfecho primário com ganho em sobrevida global não alcançado pelo grupo experimental.

A expressão de PD-L1 e o status de mutação não foram critérios de estratificação do estudo e os ganhos foram em toda a população estudada, porém, de forma mais relevante em PD-L1 ≥ 25%. Não houve diferença estatística no que se refere à escolha da platina utilizada (cisplatina ou carboplatina). Foram incluídos pacientes com carcinoma escamocelular e adenocarcinoma. Toxicidades em qualquer grau foram observadas em cerca de 95% dos casos tanto no grupo experimental quanto no placebo, sendo as mais comuns: tosse, pneumonite, fadiga e dispneia, variando em porcentagens de 22% a 30%. Cerca de 6% dos pacientes descontinuaram o uso da droga devido a eventos adversos no grupo experimental.

Na análise mais recente do estudo, ponto de corte em janeiro de 2021 e publicada em fevereiro de 2022, após acompanhamento médio de 34,2 meses para todos os pacientes, foi demonstrada sobrevida global mediana de 47,5 meses versus 29,1 meses com HR estratificado de 0,72 (IC 95% 0,59 – 0,89) para o grupo experimental e sobrevida livre de progressão mediana de 16,9 meses versus 5,6 meses com HR estratificado de 0,55 (IC 95% 0,45 – 0,68). A sobrevida global estimada em 5 anos foi de 42,9% para o grupo do durvalumabe versus 33,4% para o grupo placebo e a sobrevida livre de progressão de 33,1% versus 19%. A taxa de resposta objetiva foi, aproximadamente, 10% maior no grupo do durvalumabe versus o placebo e cerca de metade dos pacientes que responderam, persistiram em resposta após os 5 anos. Em uma análise post hoc, confirmou-se o benefício de uso da droga em todos os pacientes com PD-L1 ≥ 1%, mas sem ganho em sobrevida global para a população PD-L1 < 1%. Os dados apresentados corroboram a eficácia e sustentado benefício da droga no subgrupo de pacientes com CPCNP EC III irressecável que responderam à cCRT baseada em platina e os autores concluem que a terapia deve ser a nova escolha de referência padrão nesse cenário.

 

 

Spigel DR, Antonia, SJ, et. al. Five-Year Survival Outcomes From the PACIFIC Trial: Durvalumab After Chemoradiotherapy in Stage III Non-Small-Cell Lung Cancer. J Clin Oncol. Published online Feb 2, 2022. doi: 10.1200/JCO.21.01308.
Resultados de sobrevida em 5 anos do estudo PACIFIC: Durvalumabe após quimiorradioterapia em Câncer de Pulmão não-pequenas células EC III.

 

Comentário da avaliadora científica:

O PACIFIC foi um estudo bem conduzido, com significância estatísticas para ambos os desfechos primários e de grande relevância na prática clínica, indicando uma mudança de paradigma no que se refere ao tratamento do câncer de pulmão de não-pequenas células EC III irressecável, que não progrediu à quimiorradioterapia concomitante. O estudo consolida a imunoterapia de manutenção com o anti-PD-L1 durvalumabe como novo tratamento padrão para os pacientes nesse cenário com importantes ganhos tanto em sobrevida livre de progressão, quanto em sobrevida global. A análise de subgrupo demonstra benefício independentemente do subtipo histológico ou histórico de tabagismo. Além disso, o tempo para uso de nova terapia ou morte foi o dobro no grupo da medicação versus o placebo (21,2 meses versus 10,4 meses com HR 0,65 com IC 95% 0,52 – 0,79). Entretanto, o PACIFIC deixa dúvidas quanto ao benefício do imunoterápico de consolidação para pacientes com tumores com baixa expressão de PD-L1, < 1% (HR para sobrevida de 1,15 com IC 95% 0,75 – 1,75), bem como em tumores com mutação de EGFR ou ALK (HR para sobrevida de 0,85 com IC 95% 0,37 – 1,97). Contudo, a aprovação da droga é ampla para toda a população contemplada no estudo.

Diante da positividade do estudo e mudança de prática clínica, espera-se que estudos futuros demonstrem o benefício dos agentes anti-PD-L1 em etapas mais precoces do tratamento da doença localmente avançada, como neoadjuvância, adjuvância, ou de forma concomitante à radioterapia.

 

Avaliadora científica:

Dra. Daniella Silva da Cunha Pimenta
Título de Especialista em Oncologia Clínica pela SBOC/AMB e Coordenadora do Grupo de Câncer de Pulmão da Cetus Oncologia, Belo Horizonte/MG
Oncologista clínica no Hospital Semper