SBOC REVIEW

Recentemente o INCIP (International Network on Cancer, Infertility and Pregnancy), grupo europeu que estuda os desfechos clínicos de pacientes com câncer durante a gestação, publicou resultados comparativos das tendências de tratamento oncológico e desfechos obstétricos e neonatais nos últimos 20 anos. Entre 1996 e 2016, 1170 pacientes de 37 centros em 16 países foram incluídas consecutivamente nesse registro.

O tumor mais frequente foi câncer de mama (39%), seguido de colo uterino (13%) e linfoma (10%). Para as avaliações de tendências, as pacientes foram separadas em três grupos: 1) 1996 a 2004, 2) 2005 a 2009, e 3) 2010 a 2016. Com o passar do tempo, tornou-se mais comum que as pacientes recebam algum tratamento durante a gestação (vs. nenhum tratamento: RR 1,10 - IC 95% 1,05 a 1,15), especialmente quimioterapia (QT) (RR 1,31 - IC 95% 1,20 a 1,43). Das 429 pacientes que receberam QT, a maioria recebeu antraciclina (78%), alquilantes (69%), antimetabólitos (26%), taxanos (20%) e platinas (17%).

Como desfechos obstétricos e neonatais, houve aumento de nascidos vivos (RR 1,04 - IC 95% 1,01 a 1,06) e diminuição dos partos prematuros iatrogênicos (RR 0,91 - IC 95% 0,84 a 0,98) com o passar dos anos. Houve associação entre crianças com baixo peso ao nascer e pacientes tratadas com QT durante a gestação. Ao separar por agentes específicos, essa relação se manteve para platinas e taxanos, e houve um maior número de admissões em UTI neonatal para o grupo que recebeu taxanos.

Haan J et al. Lancet Oncol 2018 Jan 25. PMID: 29395867

Comentários: Apesar da tendência de melhora em nascidos vivos e a diminuição dos partos prematuros iatrogênicos ter diminuído, o uso de quimioterápicos na gestação requer cuidados especiais, e o acompanhamento por equipe experiente e entrosada é fundamental. A associação de piores desfechos neonatais com agentes específicos merece mais investigação.

Dra. Laura Testa
Oncologista clínica do ICESP – HC-FMUSP e da Oncologia Rede D'Or
Membro da SBOC