Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

Sacituzumabe Govitecan em Câncer de Mama Triplo Negativo Metastático

Resumo do artigo:

O estudo de fase III ASCENT comparou o anticorpo droga-conjugado sacituzumabe govitecano a quimioterapia (agente único) em pacientes (pts) com diagnóstico de câncer de mama triplo negativo localmente avançado irressecável ou metastático refratários ou que recidivaram após dois ou mais esquemas de quimioterapia (incluindo taxano). Pts com metástases cerebrais estáveis por 4 semanas antes do tratamento eram elegíveis, mas excluídos da análise de desfecho primário.

Os pts foram randomizados na proporção 1:1 para receber sacituzumabe govitecano 10 mg/kg IV nos dias 1 e 8 do ciclo de 21 dias ou agente único de quimioterapia determinado antes da randomização: eribulina (1,4 ou 1,23 mg/m2 IV nos dias 1 e 8 do ciclo de 21 dias), vinorelbine (25 mg/m2 IV semanal), capecitabina (1000-1250 mg/m2 VO duas vezes ao dia dos dias 1 à 14 do ciclo de 21 dias), ou gemcitabina (800-1200 mg/m2 IV nos dias 1, 8, e 15 do ciclo de 28 dias). As imagens (TC ou RMI) eram realizadas a cada 6 semanas por 36 semanas e, depois, a cada 9 semanas e o tratamento era continuado até progressão ou intolerância. A resposta era confirmada com nova imagem realizada 4-6 semanas depois. Não foi permitido crossover.

Os fatores de estratificação foram número de regimes de quimioterapia prévios para doença avançada (2-3 vs >3), presença de metástases cerebrais e geografia (América do Norte vs resto do mundo).

O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) em pts sem metástase cerebral conhecida, feita por avaliação central cega usando o RECIST1.1. O tamanho da amostra foi calculado considerando um poder 95% para detectar uma razão de risco de 0.667 na SLP, com 315 eventos de progressão ou óbito. Foi considerada SLP mediana de 4,5 meses para o grupo sacituzumabe govitecano vs 3 meses para quimioterapia. Foi realizada análise com método hierárquico e valor de p = 0,05 (bicaudado).

Foram randomizados 529 pts, sendo 61 portadores de metástases cerebrais: 235 para o grupo sacituzumabe govitecano e 233 para quimioterapia (54% eribulina, 20% vinorelbine, 13% capecitabina, e 12% gemcitabina), com características bem balanceadas entre os dois grupos. No grupo quimioterapia, 32 pts retiraram consentimento ou não receberam a droga do estudo.

Após seguimento de 17,7 meses (5,8-28,1), a SLP mediana foi de 5,6 vs 1,7 meses, favorecendo sacituzumabe govitecano, com razão de risco (RR) de 0,41 (IC95% 0,32-0,52; p<0,001). A sobrevida global (SG) mediada foi de 12,1 meses vs 6,7 meses, favorecendo sacituzumabe govitecano, com RR de 0,48 (IC 95% 0,38-0,59; p<0,001). A taxa de resposta objetiva foi de 35% para sacituzumabe govitecano e 5% no grupo quimioterapia. Todas as análises de subgrupos mostraram benefício em sobrevida e benefício clínico para o braço sacituzumabe govitecano.

A análise que incluiu os pts com metástases cerebrais mostrou: SLP mediana de 4,8 vs 1,7 meses com RR de 0,43 (IC 95% 0,35-0,54) e SG mediana de 11,8 vs 6,9 meses com RR de 0,51 (IC 95% 0,41-0,62), ambos favorecendo sacituzumabe govitecano.

A análise de segurança incluiu 482 pts que receberam pelo menos uma dose do tratamento (258 no grupo sacituzumabe govitecano e 224 no grupo quimioterapia). Os eventos adversos de graus 3 ou maior mais comuns foram neutropenia (51% vs 33%), leucopenia (10% vs 5%), diarreia (10% vs <1%), anemia (8% vs 5%), e neutropenia febril (6% vs 2%). Eventos sérios relacionados ao tratamento ocorreram em 15% do grupo sacituzumabe govitecano vs 8% no grupo quimioterapia, com 1 óbito relacionado ao tratamento no grupo quimioterapia.

 

Bardia A, Hurvitz SA, Tolaney SM, Loirat D, Punie K, Oliveira M, Brufsky A, Sardesai SD, Kalinsky K, Zelnak AB, Weaver R, Traina T, Dalenc F, Aftimos P, Lynce F, Diab S, Cortés J, O'Shaughnessy J, Diéras V, Ferrario C, Schmid P, Carey LA, Gianni L, Piccart MJ, Loibl S, Goldenberg DM, Hong Q, Olivo MS, Itri LM, Rugo HS; ASCENT Clinical Trial Investigators. Sacituzumab Govitecan in Metastatic Triple-Negative Breast Cancer. N Engl J Med. 2021 Apr 22;384(16):1529-1541. doi: 10.1056/NEJMoa2028485. PMID: 33882206.
Sacituzumabe Govitecan em Câncer de Mama Triplo Negativo Metastático.

 

Comentário da avaliadora científica:

O antígeno 2 de superfície celular trofoblástica (Trop-2) é uma proteína transmembrana superexpressa em vários tumores, incluindo maioria (>90%) dos carcinomas de mama. Sacituzumabe govitecano é um anticorpo droga-conjugado composto por um anticorpo Trop-2, do tipo IgG1 kappa, acoplado ao SN-38, que é o metabólito ativo do irinotecano. Esta tecnologia de anticorpo droga-conjugado já tem sido usada em pts com câncer de mama, como é o caso do trastuzumabe emtansine (T-DM1) na doença HER2 positiva.

O estudo ASCENT mostrou benefício em sobrevida e aumento de taxa de resposta numa população com câncer de mama triplo negativo avançado, fortemente pré-tratada (cerca de 30% receberam mais que 3 linhas prévias). Além disso, o perfil de toxicidade é manejável e um pequeno número de pts necessitou descontinuar a droga por eventos adversos neste estudo (5%).

Surge como droga promissora no cenário do câncer de mama triplo negativo pré-tratado, onde quimioterapia como agente único, que é associada a baixas taxas de reposta e SLP curta, ainda é padrão. Estudos recentes têm mostrado resultados promissores com imunoterapia também neste cenário e o estudo ASCENT mostrou que o benefício do sacituzumabe govitecano foi mantido em pts previamente tratados com inibidores de PD-1 ou PD-L1.

 

Avaliadora científica:

Dra. Carolina Alves Costa Silva
Residência em oncologia clínica pelo ICESP-FMUSP
Clinical research fellow, grupo de tumores genitourinários do Instituto Gustave Roussy
Doutoranda pela Universidade Paris-Saclay