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SBOC REVIEW

Sacituzumabe govitecana no carcinoma urotelial avançado:TROPICS-04, um estudo randomizado de fase III

Resumo do artigo:          

O estudo TROPICS-04 avaliou a eficácia do anticorpo-droga conjugado sacituzumabe govitecana (SG), um anticorpo dirigido contra o antígeno de superfície celular dos trofoblastos humanos tipo 2 (Trop-2) em comparação com quimioterapia (QT) a escolha do investigador no tratamento de pacientes com carcinoma urotelial localmente avançado irressecável ou metastático, acometendo trato urinário superior ou inferior. Nesse estudo, os participantes haviam apresentado progressão da doença após QT à base de platina (utilizada em contexto curativo ou para doença avançada, com progressão dentro de 12 meses do uso da platina) e tratamento prévio com inibidores de checkpoint imunológico.

Pacientes com metástases cerebrais estáveis e/ou assintomáticas puderam ser incluídos, assim como aqueles que haviam recebido tratamento prévio com erdafitinibe e/ou enfortumabe vedotina.

O TROPICS-04 foi um estudo multicêntrico, aberto e randomizado de fase III, no qual 711 pacientes foram distribuídos aleatoriamente, na proporção 1:1, para receber SG (10 mg/kg nos dias 1 e 8 de cada ciclo de 21 dias) ou QT à escolha do investigador (paclitaxel 175 mg/m², docetaxel 75 mg/m² ou vinflunina 320 mg/m²), também administrados a cada 21 dias, até progressão da doença, toxicidade inaceitável ou óbito.

A maioria dos pacientes era do sexo masculino (80% no grupo SG e 78% no grupo QT), com doença metastática (93% no grupo SG e 90% no grupo QT). Todos apresentavam performance status ECOG 0 ou 1. A mediana de idade foi de 67 anos no grupo SG e 68 anos no grupo tratado com quimioterapia. Em relação ao uso prévio de enfortumabe vedotina, 7% dos pacientes no grupo SG e 4% no grupo QT haviam recebido essa terapia anteriormente.

O desfecho primário do estudo foi a sobrevida global, enquanto os desfechos secundários incluíram sobrevida livre de progressão (SLP), taxa de resposta objetiva (TRO), benefício clínico, duração da resposta e perfil de segurança.

Após um seguimento mediano de 9,2 meses, o desfecho primário de sobrevida global não alcançou significância estatística, com 10,3 meses no grupo SG versus 9,0 meses no grupo QT (HR: 0,86; IC 95%: 0,73–1,02; p = 0,087).

Quanto aos desfechos secundários, a SLP foi de 4,2 meses no grupo SG, comparada a 3,6 meses no grupo QT (HR: 0,86; IC 95%: 0,72–1,03). A TRO foi de 23% (IC 95%: 18%–27%) com SG e 14% (IC 95%: 10%–18%) com QT.

Eventos adversos de grau ≥ 3 foram observados em 67% dos pacientes tratados com SG, comparados a 35% no grupo QT. Os eventos mais frequentes no grupo SG foram neutropenia, diarreia, neutropenia febril e anemia. No grupo QT, os eventos mais comuns foram anemia e neutropenia.

Embora o estudo TROPICS-04 não tenha demonstrado benefício estatisticamente significativo em relação à sobrevida global e à sobrevida livre de progressão, observou-se uma taxa de resposta objetiva superior com o uso de SG em comparação à quimioterapia padrão. Destaca-se ainda que mais da metade dos pacientes incluídos tiveram acesso a terapias sistêmicas subsequentes, percentual superior ao observado em estudos anteriores.

Apesar de ser um estudo com resultado negativo para seu desfecho primário, o uso de sacituzumabe govitecana pode ser considerado em um cenário com opções terapêuticas limitadas e doença agressiva, especialmente quando a taxa de resposta objetiva é um objetivo clínico relevante.

 

Comentários do avaliador científico:

Desde a apresentação dos resultados do estudo EV-302 na ESMO 2023, observou-se um avanço relevante no manejo do carcinoma urotelial. Esse estudo demonstrou benefício significativo em sobrevida global e sobrevida livre de progressão com a combinação de enfortumabe vedotina e pembrolizumabe, em comparação com a quimioterapia padrão, tanto em pacientes elegíveis quanto inelegíveis à cisplatina.

No mesmo congresso, o estudo CHECKMATE-901 também evidenciou benefícios em sobrevida global e sobrevida livre de progressão com a combinação de nivolumabe e quimioterapia versus quimioterapia isolada, em pacientes elegíveis à cisplatina. Tais resultados impactaram diretamente a uniformização do tratamento de primeira linha, que passou a ser menos padronizada diante da variedade de esquemas terapêuticos com eficácia comprovada.

Mais recentemente, na ESMO 2024, foram divulgados os dados do estudo NIAGARA, que demonstrou ganho em sobrevida global com o uso de durvalumabe no cenário perioperatório. Este achado resultou na aprovação da medicação pela ANVISA, em março de 2025.

Diante desses avanços terapêuticos, com múltiplas estratégias com benefícios clínicos estabelecidos, o cenário do tratamento do carcinoma urotelial avançado tornou-se mais dinâmico. Nesse contexto, o sacituzumabe govitecana (SG) pode se configurar como uma opção viável em linhas terapêuticas posteriores, especialmente para pacientes que progrediram após quimioterapia e imunoterapia, não apresentam mutações ou fusões em FGFR2/3, ou que já tenham recebido erdafitinibe, desde que mantenham bom status funcional.

 

Citação: Powles T, Tagawa S, Vulsteke C. Sacituzumab govitecan in advanced urothelial carcinoma: TROPiCS-04, a phase III randomized trial. Ann Oncol. 2025 Feb 7:S0923-7534(25)00015-8. doi: 10.1016/j.annonc.2025.01.011. Epub ahead of print. PMID: 39934055.

 

Avaliador científico:

Dr. Marcos Gabriel Dias Moreira da Fonseca

Oncologista Clínico pelo INCA – Rio de Janeiro/RS

Oncologista Clínico do grupo Onkosol – Rio de Janeiro/RJ

Título de Especialista em Oncologia Clínica pela SBOC/AMB

MBA em Gestão de Saúde pela FGV

Instagram: @fonsemarcosgabriel

Cidade de Atuação: Cabo Frio/RJ e Maricá/RJ