Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

SBOC Review – 2016 San Antonio Breast Cancer Symposium

Hormonioterapia (HT) adjuvante com inibidores de aromatase (IA): por quanto tempo?

Três importantes estudos randomizados e de fase III (NRG- Oncology/NSABP B-42*, IDEAL#, e DATA+) avaliaram o uso estendido de IA em pacientes com câncer de mama (CM) RH-Positivo na pós-menopausa. Todos foram negativos quanto aos seus desfechos primários.

No maior deles, o NRG- Oncology/NSABP B-42, 3.966 mulheres na pós-menopausa foram randomizadas para o tratamento por 5 anos com letrozol ou placebo. Todas as pacientes já haviam recebido 5 anos de HT adjuvante, seja com IA isolado ou com tamoxifeno seguido por IA. O tempo mediano de seguimento foi de 6.9 anos e aproximadamente 60% das pacientes em ambos os braços completaram os 5 anos adicionais de tratamento. O desfecho principal do estudo foi sobrevida livre de doença (SLD), incluindo como eventos recidiva de câncer de mama em qualquer localização, ocorrência de novos casos de câncer, e morte por qualquer causa.

  • Embora o estudo tenha mostrado uma redução de 15% no risco, esta não foi estatisticamente significante. A (SLD) em sete anos foi de 84,7% no braço letrozol versus 81,3% no braço placebo (HR=0,85; P=0,48 [não significativo]).
  • Observou-se redução no risco de recorrência a distância: 3,9% versus 5,8 (HR=0,72;P=0,3), e no intervalo livre de câncer de mama: 6,7% versus 10% (HR=0,71;P=0,003).
  • Não houve diferença estatisticamente significativa na incidência de fraturas osteoporóticas e na ocorrência de eventos trombóticos.

*Abstract S1-05 – Mamounas e cols, A randomized, double-blinded, placebo-controlled clinical trial of extended adjuvant endocrine therapy (tx) with letrozole (L) in postmenopausal women with hormone-receptor (+) breast cancer (BC) who have completed previous adjuvant tx with an aromatase inhibitor (AI): Results from NRG Oncology/NSABP B-42.

Abstract S1-04 – Blok e cols, Optimal duration of extended letrozole treatment after 5 years of adjuvant endocrine therapy; results of the randomized phase III IDEAL trial (BOOG 2006-05)

Abstract S1-03 – Tjan-Heijnen e cols, First results from the multicenter phase III DATA study comparing 3 versus 6 years of anastrozole after 2-3 years of tamoxifen in postmenopausal women with hormone receptor-positive early breast cancer

Conclusão: Considerando-se as diferenças nas definições de SLD entre os estudos NRG- Oncology/NSABP B-42 e MA.17R (Goss e Cols, NEJM 2016), os resultados de ambos são semelhantes. Os dados negativos desses três estudos diminuem o entusiasmo com a terapia hormonal estendida, devendo esta ser discutida apenas com pacientes com excelente tolerância aos primeiros 5 anos de IA e com alto risco de recidiva.

Qual o papel de adicionar everolimo ao fulvestranto após falha de tratamento com inibidores de aromatase (IA)?

O estudo de fase II, randomizado, placebo-controlado PrECOG 0102 teve como objetivo comparar a eficácia da combinação de everolimo e fulvestranto versus (vs) fulvestranto monoterapia em pacientes com câncer de mama (CM) receptor hormonal (RH)- positivo/HER2-negativo, na pós-menopausa, após progressão a um IA, e com no máximo uma linha de quimioterapia (QT) prévia no cenário metastático. O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão (SLP). Dentre as 131 pacientes randomizadas (66 para o braço everolimo vs 65 para o braço placebo), a mediana de idade foi 61 anos e 17% haviam recebido uma linha de QT prévia. Nenhum paciente tratado no braço everolimo recebeu previamente inibidores de quinases dependentes de ciclinas (CDK) 4/6.

  • O estudo foi positivo, com o braço everolimo apresentando uma SLP mediana de 10,4 meses vs 5,1 meses no grupo placebo (HR 0,61; 95% IC: 0,40 – 0,92; p = 0,02).
  • Os efeitos adversos graus 3/4 foram mais comuns no braço everolimo (53%/3% vs. 23%/3%), incluindo hiperglicemia (16%/0% vs. 0%), mucosite oral (11%/0% vs. 0%), e pneumonite (6%/2% vs. 0%).

 

Abstract S1-02  – Kornblum e cols, PrECOG 0102: A randomized, double-blind, phase II trial of fulvestrant plus everolimus or placebo in post-menopausal women with hormone receptor (HR)-positive, HER2-negative metastatic breast cancer (MBC) resistant to aromatase inhibitor (AI) therapy.

Conclusão: Embora seja um estudo de fase II, os dados do PrECOG 0102 apontam para a possibilidade de se usar a combinação de everolimo e fulvestranto após progressão a um IA. Entretanto, essa combinação é mais tóxica, e deve ser dada especial atenção para mucosite oral e pneumonite.

Perfil molecular dos tumores metastáticos RH-positivo

Este estudo envolveu biópsias de pacientes com câncer de mama metastático RH-positivo. Mais de 95% dos pacientes haviam recebido tratamento prévio com pelo menos uma linha de hormonioterapia (tamoxifeno, IA ou fulvestranto). Tais tumores foram submetidos ao sequenciamento completo do exoma (WES; n=149 tumores metastáticos, incluindo 44 tumores primários pareados) e sequenciamento do transcriptoma (RNA sequencing; n=128 tumores metastáticos).

  • Os genes mais comumente mutados foram: PIK3CA(41%), TP53 (28%), ESR1 (23%), GATA3 (14%) e MAP2K4 (10%).
  • Com relação às alterações do número de cópias, os genes mais comumente amplificados foram FGFR1, MYC, FGFR2, CCND1, FOXA1, IGF1R, e ERBB2; Por outro lado, aqueles mais comumente deletados foram ARID1A, FOXP1, CDKNDA, PTEN, RB1, MAP2K4 e SMAD4.
  • Comparando-se os tumores primários e tumores metastáticos, observou-se nestes um enriquecimento na frequência de alterações moleculares em diversos nos genes, tais como ESR1, ERBB2, e RB1.

Abstract S1-01 – Cohen e cols, Whole exome and transcriptome sequencing of resistant ER+ metastatic breast cancer

Conclusão: Este estudo reforça a importância da análise molecular de tumores metastáticos, a qual poderá ajudar no entendimento dos mecanismos relacionados à ocorrência ao processo de metastatização e à resistência as terapias atuais contra os canceres de mama RH positivo.

Toucas térmicas para prevenção primária de alopecia induzida pela quimioterapia

O estudo foi desenhado para recrutar 235 pacientes com câncer de mama estadio I-II nas quais estava planejado o tratamento (neo)adjuvante com QT baseada em antraciclinas ou taxanos por 4 ciclos. Os participantes foram randomizados numa razão 2:1 para o uso, ou não, do dispositivo Orbis Paxman Hair Loss Prevention System (OPHLPS). O dispositivo deve ser iniciado 30 minutos antes do início da QT, devendo permanecer durante toda a infusão e após 90 minutos do seu término. O desfecho primário do estudo foi preservação do cabelo, definida como alopecia >2, e segurança do dispositivo.

  • Após a análise interina pré-planejada, uma comissão externa recomendou a interrupção do estudo. Naquele momento, 142 pacientes haviam sido randomizados (95 no braço tratamento e 47 no braço controle).
  • Dentre esses pacientes, a taxa de preservação do cabelo foi de 50,5% no grupo que usou as toucas e de 0% no grupo sem tratamento (p<0,0001).
  • O tratamento foi bem tolerado e os efeitos mais comuns foram dor de cabeça, náusea e tontura.

Abstract S5-02 – Nangia e cols, Scalp cooling alopecia prevention trial (SCALP) for patients with early stage breast cancer.

Conclusão: Este foi o primeiro estudo a avaliar o uso de toucas térmicas na prevenção primária da alopecia induzida pela quimioterapia (QT). O uso desse dispositivo passa a ser uma opção na profilaxia da alopecia induzida pela quimioterapia. Sua eficácia, entretanto, parece ser menor quando o tratamento é baseado em antraciclinas (taxa de sucesso 20%).

Hormonioterapia associada a TCHP neoadjuvante em tumores RH-positivo/HER2-positivo

Dentre os tumores HER2-positivo, sabe-se que as taxas de resposta patológica completa (RPC) após poliquimioterapia combinada a agentes anti-HER2 são menores no subgrupo RH-positivo. Com a hipótese de que a adição de hormonioterapia (HT) ao tratamento padrão resultaria em aumento nas taxas de RPC, o estudo NRG Oncology/NSABP B-52 randomizou 315 pacientes para receber terapia neoadjuvante com o esquema TCHP (docetaxel + carboplatina + herceptin + perjeta) com ou sem inibidor de aromatase (pacientes na pré-menopausa receberam também supressão ovariana). Pacientes com câncer de mama RH-positivo/HER2-positivo eram elegíveis em caso de TxN1-3 ou qualquer tumor ³ 2cm no caso de linfonodo negativo. O desfecho primário foi a taxa de RPC na mama e linfonodos.

  • O estudo foi negativo com a taxa de RPC de 41% no grupo sem HT e 46% no grupo com hormonioterapia.

Abstract S3-04, Rimawi e cols, A phase III trial evaluating pCR in patients with HR+, HER2-positive breast cancer treated with neoadjuvant docetaxel, carboplatin, trastuzumab, and pertuzumab (TCHP) +/- estrogen deprivation: NRG Oncology/NSABP B-52

Conclusão: Não se identificaram sinais de efeitos antagônicos entre a HT e a poliquimioterapia. O tempo de HT nesse estudo foi menor do que o preconizado para o tratamento neoadjuvante de tumores RH positivo. Dessa forma, faz-se importante a avaliação de biomarcadores no material cirúrgico dos tumores residuais.

Romualdo Barroso-Sousa, MD, PhD.
Oncologista clínico. Posdoctoral fellowship na divisão de Câncer de Mama do Dana-Farber Cancer Institute/Harvard Medical School, Boston, EUA. Editor do SBOC Review.