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SBOC REVIEW

SBOC Review ASCO 2017 – Tumores geniturinários (Próstata)

Estudo 1 – LATITUDE: A phase III, double-blind, randomized trial of androgen deprivation therapy with abiraterone acetate plus prednisone or placebos in newly diagnosed high-risk metastatic hormone-naive prostate cancer. First Author: Karim Fizazi. Abstract# LBA3.

Estudo de fase 3 randomizado que comparou terapia de privação androgênica (TDA) isoladamente ou combinada a abiraterona e prednisona. Neste estudo, foram incluídos 1199 pacientes com câncer de próstata metastático (CPm) ao diagnóstico e com critérios de alto risco (2 de 3 dos seguintes fatores: Gleason ≥8, ≥3 lesões ósseas, metástase visceral). Os resultados da primeira análise interina, com mediana de seguimento de 30,4 meses, demonstraram benefício da associação de abiraterona/prednisona com ganho de sobrevida global (mediana não atingida vs 34,7 meses; P<0,001), da sobrevida livre de progressão radiográfica (33 vs 14,8 meses; P<0,001) e de todos os desfechos secundários do estudo. As toxicidades observadas foram semelhantes aos estudos prévios com estas drogas. Estes resultados levaram o comitê de monitoramento dos dados a recomendar a retirada do cegamento do estudo, e permitir que o grupo placebo recebesse abiraterona e prednisona.

*Artigo publicado – Fizazi K e tal. N Engl J Med. 2017 Jun 4. PMID: 28578607

Comentário: O estudo demonstrou superioridade da associação de abiraterona e prednisona à terapia de privação androgênica, com aumento significativo de sobrevida global e todos os desfechos avaliados neste estudo. A partir destes resultados, esta associação passa a ser um dos tratamentos padrão para pacientes com CPm ao diagnóstico com características de alto risco.

Estudo 2 – Adding abiraterone for men with high-risk prostate cancer (PCa) starting long-term androgen deprivation therapy (ADT): Survival results from STAMPEDE (NCT00268476). First Author: Nicholas D. James. Abstract# LBA5003

Estudo de fase 3 de desenho inovador com múltiplos braços, que já havia demonstrado aumento de sobrevida global com associação de docetaxel à TDA em CPm. Esta análise apresentada na ASCO 2017 incluiu análise comparativa de 1917 pacientes que receberam TDA em monoterapia ou associada à abiraterona e prednisona. Neste estudo, a associação de abiraterona e prednisona levou a aumento significativo de sobrevida em 3 anos (76% para 83%; HR 0,63, P<0,0001), além de redução de 71% na falha de tratamento (P<0,0001). O tratamento com associação de abiraterona e prednisona foi, em geral, bem tolerado e com eventos graus 3 ou 4 de somente 5%.

*Artigo publicado – James ND et al. N Engl J Med. 2017 Jun 3. PMID: 28578639.

Comentário: O estudo incluiu pacientes com doença metastática independente de fatores de risco, sendo demonstrado benefício na população como um todo. Assim, devemos considerar a associação de abiraterona e prednisona à castração como uma das opções preferenciais de tratamento para pacientes com doença metastática ao diagnóstico. A escolha entre abiraterona/prednisona ou docetaxel deve ser individualizada, já que não há dados comparativos entre as duas opções.

Estudo 3 – A randomized phase II cross-over study of abiraterone + prednisone (ABI) vs enzalutamide (ENZ) for patients (pts) with metastatic, castration-resistant prostate cancer (mCRPC). First Author: Kim N. Chi. Abstract# 5002.

Estudo de fase II de crossover entre abiraterona versus enzalutamida (e vice-versa após a progressão) em pacientes com CPm resistente à castração. Neste estudo, 202 pacientes foram randomizados e apesar de maior resposta por PSA no grupo tratado com enzalutamida (73% vs 53% com abiraterona), o tempo para progressão por PSA não foi estatisticamente diferente entre os grupos (7.4 vs 8.0 meses) sugerindo eficácia semelhante entre as duas drogas neste cenário. Análise de biomarcadores no DNA circulante demonstrou que os pacientes com alteração nos genes do receptor de andrógeno, TP53, RB1 e genes de reparo de DNA (BRCA, ATM) foram associados a menor resposta por PSA com uso de abiraterona ou enzalutamida neste estudo.

Comentário: De forma geral, foi demonstrado eficácia semelhante entre as duas drogas, apesar da resposta por PSA ter sido maior nos pacientes tratados com enzalutamida. Análise exploratória de biomarcadores demonstrou alterações gênicas associadas a pior prognóstico neste cenário.

Estudo 4 – Development and validation of a novel clinical-genomic risk group classification for prostate cancer incorporating genomic and clinicopathologic risk. First Author: Daniel Eidelberg Spratt. Abstract# 5000.

Estudo retrospectivo para análise de um sistema de risco clínico-genômico em amostras de biópsia de próstata ou prostatectomia de 6928 pacientes com câncer de próstata localizado de uma coorte multicêntrica. Foi realizada análise da expressão gênica de 22 biomarcadores para classificar os pacientes nos grupos de risco (baixo, intermediário e alto) do sistema clínico-genômico em comparação com sistemas de risco atualmente utilizados (p. ex. NCCN e CAPRA). OS resultados demonstraram um melhor índice-C em comparação com a classificação NCCN e CAPRA (0,84 vs 0,71 vs 0,71, respectivamente) e que 33,4% dos pacientes foram reclassificados com base nesta nova classificação.

Comentário: O estudo demonstra que a integração de análise da expressão gênica aos critérios clínicos de risco já estabelecidos, aumenta a acurácia na definição prognóstica e é capaz de realizar melhor estratificação entre pacientes de risco baixo, intermediário e alto. Para incorporação destes dados ainda é necessária validação dos dados em coorte independente prospectiva.

Estudo 5 – Extended versus limited pelvic lymphadenectomy during radical prostatectomy for intermediate- and high-risk prostate cancer: Early outcomes from a randomized controlled phase III study. First Author: Jean Felipe Prodocimo Lestingi. Abstract# 5018.

Estudo brasileiro unicêntrico de fase 3 que randomizou 291 pacientes com câncer de próstata localizado de risco intermediário ou alto, para realização de linfadenectomia limitada ou extendida durante a prostatectomia radical. Neste estudo, as características dos pacientes foram bem balanceadas entre os grupos, inclusive com relação ao estadiamento patológico T e percentual de pacientes com margem positiva. Entretanto, pacientes submetidos a linfadenectomia extendida tiveram maior percentual de comprometimento linfonodal (15,9% vs 4,1%). Em termos de toxicidade, houve maior sangramento e complicações pós operatórias no grupo da linfadenectomia extendida (8,3% vs 2,7% complicações Clavien ≥ 3). Apesar do maior número de metástases linfonodais no grupo da linfadenectomia extendida, não houve diferença em sobrevida livre de recorrência bioquímica entre os grupos no seguimento de 35,2 meses.

Comentário: Interessante observar o maior número de pacientes com comprometimento linfonodal patológico no grupo que realizou linfadenectomia extendida, mas sem diferença significativa na taxa de recidiva bioquímica. Dado o seguimento o seguimento ainda curto para o desfecho primário de sobrevida livre de recidiva bioquímica em 5 anos, ainda não se pode concluir que as duas modalidades de linfadenectomia são semelhantes.

Diogo Assed Bastos, MD.
Membro Titular do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês e Médico Oncologista do Serviço de Uro-Oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).