Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

SBOC Review ESMO 2016 – Tumores colorretais

Abstract 1 – E. Van Cutsem, Nintedanib plus best supportive care (BSC) versus placebo plus BSC for the treatment of patients (pts) with CRC refractory to standard therapies: Results of the phase III trial LUME-colon 1 study, LBA20.

O LUME-colon 1 é um estudo de fase III com 768 pacientes com câncer colorretal metastático que já haviam falhado às terapias padrões e que foram randomizados para receberem nintedanibe (inibidor multiquinase com atividade anti-angiogênica – com inibição de VEGF, PDGF e FGF) versus placebo. Os dois desfechos primários foram SLP e SG. Apesar de estatisticamente a SLP ter sido melhor no grupo do nintedanibe (1,5 vs 1,4 meses, p<0,0001) assim como a taxa de controle de doença (26% vs 11%, p<0,0001), não houve diferença de SG mediana (6,4 vs 6,1 meses, p=0,86).

Comentário: Este estudo ilustra que nem todos os inibidores multiquinase com atividade anti-angiogênica trazem benefício de SG nos pacientes com câncer colorretal refratário, mesmo quando os dados em estudos de fase I/II são promissores. Ainda há muito o que precisamos compreender acerca da biologia do câncer colorretal.


Abstract 2 – D. J. Jonker, A randomized phase III study of napabucasin [BBI608] (NAPA) vs placebo (PBO) in patients (pts) with pretreated advanced colorectal cancer (ACRC): the CCTG/AGITG CO.23 trial, Abstract 454.


O napabucasin é um inibidor de “stemness” por via oral que age no STAT3, inibindo com isso a capacidade de auto-renovação celular. Este foi um estudo de fase III que comparou o napabucasin com placebo em 282 pts com CCR refratário. Infelizmente, o estudo acabou parando na primeira análise interina por futilidade. No entanto, numa análise de subgrupo planejada, pacientes com STAT3+ por imuno-histoquímica (22% dos pacientes) tiveram, apesar de pior prognóstico em geral, benefício em termos de SG (3,0 vs 5,1 meses, p=0,002).

Comentário: Este estudo reforça a ideia de que ainda precisamos compreender melhor sobre fatores preditivos de benefício com muitas drogas. Parece que pts com STAT3 positivo por imuno-histoquímica, que corresponde a aproximadamente 22% dos pts com CCR metastático, podem se beneficiar de napabucasin, que é uma droga com mecanismo de ação inovador com alvo na STAT3, possibilitando a inativação de diversos genes que regulam a “stemness”.


Abstract 3 – R. B. Corcoran, Efficacy and circulating tumor DNA (ctDNA) analysis of the BRAF inhibitor dabrafenib (D), MEK inhibitor trametinib (T), and anti-EGFR antibody panitumumab (P) in patients ( pts) with BRAF V600E–mutated (BRAFm) metastatic colorectal cancer (mCRC), Abstract 455

Dados pré-clínicos sugerem que a inibição combinada do EGFR e da via MAPK aumentam a eficácia em pacientes com CCR B-RAF mutados. Neste estudo, 120 pacientes foram randomizados para Dabrafenibe + Panitumumabe (DP), Trametinibe + panitumumabe (TP) ou Dabrafenibe + Trametinibe + Panitumumabe (DTP). Foram realizadas coletas seriadas de DNA tumoral circulante e analisados quanto a mutações nos genes BRAF, KRAS, NRAS e PIK3CA. As taxas de resposta e de doença estável foram de 10% e 80% para DP, 0% e 53% para TP e 18% e 67% para DTP, respectivamente. Além disso, análise seriada de ctDNA para os pacientes recebendo DTP mostrou redução >70% na fração mutante de BRAF V600E em 86%dos pacientes na quarta semana. Com este estudo ainda preliminar, o regime triplo DTP parece ter atividade em pacientes com CCR B-RAF mutados, com perfil de toxicidade aceitável.

Comentário: A inibição da via do EGFR com panitumumabe e a dupla inibição da via MAPK (BRAF e MEK) parece ser a estratégia mais interessante de tratamento para pacientes com CCR metastático e BRAF mutado, que geralmente apresentam prognóstico ruim. No entanto, maiores estudos serão necessários antes que a inibição tripla seja implementada na prática clínica.


Abstract 4 – J. Evans, Results of a prospective randomised control 6 vs 12 trial: Is greater tumour downstaging observed on post treatment MRI if surgery is delayed to 12-weeks versus 6-weeks after completion of neoadjuvant chemoradiotherapy?, Abstract 452

O intervalo ideal para realização de cirurgia de reto após o término de QT-RT neoadjuvante ainda é desconhecido, embora na prática seja recomendado um prazo de aproximadamente 8 semanas. Este foi um estudo randomizado com 237 pacientes randomizados para cirurgia de CA de reto 6 semanas versus 12 semanas após o término de QT-RT neoadjuvante. Como resultados, houve maior downstaging por ressonância magnética no grupo de 12 semanas (58% versus 43%, p=0,019), além de maior taxa de pCR (20% versus 6%, p<0,05).

Comentário: Apesar deste estudo sugerir que esperar 12 semanas para realizar a cirurgia de adenocarcinoma de reto é melhor em termos de redução tumoral, o intervalo ideal permanece desconhecido, até porque faltam dados se isto se traduz em ganho de SLD ou SG.


Abstract 5 – S. A. Pugh, Scheduled use of CEA and CT follow-up to detect recurrence of colorectal cancer: 6-12 year results from the FACS randomised controlled trial, Abstract 453

O estudo FACS avaliou 4 estratégias de seguimento em 1.202 pts com CCR tratados cirurgicamente (estadios I a III): CEA regular, tomografia (TC) regular, CEA + TC regularmente ou seguimento mínimo (avaliação de sintomas +/- TC única). Na análise interina, as estratégias de seguimento (CEA, TC e TC + CEA) mostraram que são capazes de detectar mais recorrências passíveis de cirurgia com intuito curativo (desfecho primário), mas sem ganho estatístico de SG. Na ESMO 2016 foram apresentados os dados mais maduros. Apesar do seguimento mais intensivo identificar mais recorrências tratadas cirurgicamente (7,5 vs 2,7% ; p=0,003), não houve diferença de SG (p=0,45), embora numericamente mais pacientes que recorreram estavam vivos no grupo com seguimento mais intensivo (4,8 vs 2,3%, p=0,07)

Comentário: Com a atualização do estudo FACS na ESMO 2016, provavelmente não mudaremos a conduta no seguimento dos nossos pacientes, que geralmente envolve realização periódica de CEA e TC, embora o intervalo ideal permaneça desconhecido. Entretanto, em lugares com limitação financeira, não seria um erro acompanhar os pacientes com estratégia mínima visto que não parece comprometer a sobrevida.


Renata D’Alpino Peixoto, MD

Titular de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (Hospital São José). Ex-fellow de Tumores Gastrointestinais do BC Cancer Agency, Vancouver, Canadá. Coordenadora da Residência de Oncologia Clínica do Hospital São José. Preceptora de Medicina da Universidade Nove de Julho.