SBOC REVIEW
SBOC Review ESMO 2016 – Tumores do Trato Gastrointestinal Alto
Abstract 1 – Mariette C. Is centralization needed for esophago-gastric cancer patients with low operative risk? A nationwide study. Nº 6090
O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto da mortalidade pós-operatória do câncer de esôfago e estômago de acordo com o volume cirúrgico dos centros médicos. Os serviços eram divididos em centros de baixo volume (< 20 casos/ano), volume intermediário (20 a 39 casos/ano), alto volume (40-59 casos/ano e altíssimo volume (≥ 60 casos/ano). 11.196 pacientes foram incluídos no estudo. A mortalidade em 30 dias do pós operatório foi de 5,7%, 4,3%, 3,3% e 1,7% respectivamente. A mortalidade em 90 dias de pós operatório foi de 10,2%, 7,9%, 6,7%, 3,6%, p < 0.001. Comparando centros de baixo volume e centros de altíssimo volume, a mortalidade em 30 dias para pacientes com a classificação de Charlson 0 foi de 4,0% vs 1,1% p = 0.001, 7,5% vs 3,4% p < 0.001 para Charlson 1-2, 14,7 vs 3,7% para Charlson 3 com p = 0.00 Comentário: Este trabalho mostra a importância da experiência do serviço de cirurgia na mortalidade pós-operatória do câncer de esôfago e estômago, sugerindo que esses pacientes devem ser operados em centros com grande volume cirúrgico.
Abstract 2 – H Yang. A phase III clinical trial of neoadjuvant chemoradiotherapy followed by surgery versus surgery alone for locally advanced squamous cell carcinoma of the esophagus. Nº 611O
451 pacientes com carcinoma escamocelular de esôfago torácico estágio IIB-III foram randomizados para 2 ciclos de quimioterapia + radioterapia 40 cGy seguido de cirurgia ou cirurgia somente. O esquema da quimioterapia era vinorelbina 25 mg/m2/dia em bolus no D1, D8, D22 e D29 + cisplatina 75 mg/m2/dia no D1 e D22 ou 25 mg/m2/dia no D1 ao D4 e D22 ao D25. Esofagectomia era realizada 4 a 8 semanas após o término do tratamento neoadjuvante. O desfecho primário do estudo foi sobrevida global em 3 e 5 anos. A taxa de ressecção R0 foi de 98,4% vs 91,2% (p= 0.002) e sobrevida global em 3 anos de 69,6% vs 62,4%, ; HR 0.71 [95% CI 0.52–0.98]; log-rank p = 0.035 a favor do grupo da neoadjuvância.
Comentário: Quimioterapia com carboplatina + paclitaxel semanal associado a RXT neoadjuvante é o tratamento de escolha para muitos pacientes com carcinoma escamocelular de esôfago ressecável. Este estudo mostra uma nova opção de esquema de quimioterapia associado a radioterapia neoadjuvante
Abstract 3 – A. Barbour, An AGITG trial –A randomised phase II study of pre-operative cisplatin, fluorouracil and doceetaxel +/-radioTherapy based on poor early response to cisplatin and fluorouracil for resectable esophageal adenocarcinoma Nº 610O
Neste estudo, foram incluídos pacientes com adenocarcinoma de esôfago/junção esofagogástrica ressecável, Siewert I e II, ≥ T2 , LN + no EUS ou T1 pouco diferenciado. PET-CT era realizado no D15 após o 1º ciclo de QT com CF. Os pacientes foram classificados em 2 grupos: aqueles com resposta metabólica precoce (RMP) cuja a definição é diminuição do SUV máx ≥ 35%, e os demais como resposta metabólica não precoce (RMNP). Pacientes com RMP complementavam com 2º ciclos de CF seguido de cirurgia. Pacientes com RMNP eram randomizados 1:1 para mais 2 ciclos de quimioterapia com DCF ou DCF + radioterapia (RXT) concomitante com 45 cGy seguido de cirurgia. O desfecho primário foi resposta histológica importante definido como tumor residual < 10%. Dos 124 pacientes incluídos, 37% obtiveram resposta metabólica precoce e 63% não. Do grupo dos não respondedores, 31 pacientes foram randomizados para DCF, 35 pacientes para DCF + RXT. Esofagectomia foi realizada em 100% no grupo com RMP, 90% no grupo do DCF e 94% no grupo DCF + RXT. Taxa de ressecção R0 foi de 69% no grupo com RMP, 64% no DCF e 94% no DCF + RXT. Tumor residual < 10% em 7% no grupo com RMP, 20% no DCF e 63% no DCF + RXT. Toxicidade G3/4 em 33% no grupo CF, 45% no DCF e 71% no DCF+ RXT Comentário: Pacientes com adenocarcinoma de esôfago/junção esofagogástrica ressecável tratado com quimioterapia e que não apresenta resposta metabólica precoce no PET-CT , evoluem com pior prognóstico. DCF + RXT aumentam a chance de resposta ao tratamento em pacientes que não apresentam resposta metabólica precoce no PET-CT, às custas de maior toxicidade; porém é necessário um seguimento mais longo para avaliar o impacto na sobrevida global.
Abstract 4 – Schuler M. Final results of the FAST study, an international, multicenter, randomized, phase II trial of epirubicin, oxaliplatin, and capecitabine (EOX) with or without the anti-CLDN18.2 antibody IMAB362 as first-line therapy in patients with advanced CLDN18.2+ gastric and gastroesophageal junction (GEJ) adenocarcinoma. Nº 614O
O IMAB362 é um anticorpo quimérico que atua nas células tumorais que expressam proteína de junção CLDN 18.2. Pacientes com adenocarcinoma de estômago/junção esôfagogástrica avançado ou recorrente, cuja a expressão de CLDN 18.2 ≥ 2 por imunohistoquímica em ≥ 40% da células tumorais, ECOG PS 0-1 e que não eram elegíveis para trastuzumabe eram randomizados para QT 1ª linha com EOX ou EOX + IMAB362. Dos 334 pacientes testados para CLDN 18.2, 161 foram randomizados. O desfecho primário do estudo foi sobrevida livre de progressão. A sobrevida livre de progressão mediana foi de 4.8 vs 7.9 meses; HR 0.47; 95% intervalo de confiança [IC] 0.31–0.70, 1-sided p = 0.0001), sobrevida global mediana foi de 8.4 vs 13.2 meses; HR 0.51, 95% IC 0.36–0.73, p = 0.0001 e taxa de resposta de 28% vs 43% a favor do grupo com IMAB362. Não houve diferença estatisticamente significativa para toxicidade G3/4 entre os grupos.
Comentários: A associação do IMAB362 + EOX surge como uma promessa terapêutica para pacientes com câncer gástrico avançado ou recorrente CLDN 18.2 positivos. É necessário aguardar estudos de fase 3.
Abstract 5 – Bruix J. Efficacy, safety, and health-related quality of life (HRQoL) of regorafenib in patients with hepatocellular carcinoma (HCC) progressing on sorafenib: Results of the international, double-blind phase 3 RESORCE trial l. Nº LBA28
573 pacientes com CHC, BCLC estágio B ou C, Child-Pugh A, ECOG PS 0–1 e que tiveram progressão radiológica ao sorafenibe foram randomizados 2:1 para regorafenibe 160 mg/dia por 3 semanas a cada 28 dias ou placebo. O desfecho primário do estudo foi sobrevida global. A sobrevida global mediana foi de 10.6 vs 7.8 m, HR 0.63; 95%IC 0.50–0.79; p < 0.001 a favor do regorafenibe. HR 0.46; 95% IC 0.37–0.56; p < 0.001 para sobrevida livre de progressão, HR 0.44; 95% IC 0.36–0.55; p < 0.001 para tempo até progressão. Taxa de controle de doença de 65,2% vs 36,1%; p< 0.001 a favor do regorafenibe. Toxicidade ≥ grau 3 foi de 79,7% com o regorafenibe e 58,5% para o grupo placebo. As principais toxicidades ≥ grau 3 foram hipertensão, síndrome mão pé, fadiga e diarreia. As classificações de qualidade de vida EQ-5D index, EQ-5D VAS e FACT-G foram similares em ambos os grupos, sendo que o FACT-Hep total favoreceu o grupo placebo. Comentário: O Regorafenibe é a única medicação até o momento que demonstrou ganho de sobrevida global estatisticamente significativo para pacientes com CHC avançado, CHILD A, ECOG PS 0-1 após falha do sorafenibe, sendo, portanto, considerado tratamento padrão em 2ª linha para pacientes com essas características.
Marcos Castro Lyra, MD
Oncologista clínico do aparelho digestivo do hospital São Rafael, Salvador-BA.