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SBOC REVIEW

Sequenciamento ótimo de enzalutamida e abiraterona em câncer de próstata metastático resistente à castração: estudo randomizado de fase 2 de cruzamento

Resumo do artigo:
O câncer de próstata metastático resistente à castração é uma doença letal e muitas vezes relacionada à grande morbidade. O melhor entendimento da biologia molecular dessa doença evidenciou que o principal mecanismo de progressão da doença resistente à castração se dá ainda pelas vias de sinalização do receptor de androgênio, possibilitando o desenvolvimento de novas drogas que bloqueiem esse eixo, como a abiraterona e a enzalutamida. Ambas as drogas já demonstraram ganhos em sobrevida global equivalentes no cenário castração-resistente nos contextos pré e pós-quimioterapia, mas nunca foram formalmente comparadas entre si e, portanto, ambas representam drogas de escolha para este cenário.

Neste estudo, os pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração e virgens de tratamento foram randomizados para receber abiraterona (1000mg) + prednisona (5mg 2x ao dia) seguido de enzalutamida (160mg) após progressão de doença (braço A) ou a sequência inversa (braço B). Teve como desfechos primários o tempo de sobrevida livre de 2ª progressão por PSA e queda de PSA >30% em relação ao basal com a segunda linha hormonal. 101 pacientes foram randomizados para o braço A e 101 para o braço B. Após pouco mais de dois anos, o tempo para segunda progressão por PSA foi maior no braço A em relação ao braço B (19.3 meses vs 15.2 meses; HR 0.66; p = 0.036). A queda de PSA >30% na segunda linha hormonal foi maior com braço A do que no braço B (36% vs 4%; p<0.0001).

 

Optimal sequencing of enzalutamide and abiraterone acetate plus prednisone in metastatic castration-resistant prostate cancer: a multicentre, randomised, open-label, phase 2, crossover trial. Khalaf, DJ et al. Lancet Oncol. 2019 Dec;20(12):1730-1739.
Sequenciamento ótimo de enzalutamida e abiraterona em câncer de próstata metastático resistente à castração: estudo randomizado de fase 2 de cruzamento.

 

Comentários do editor:
- Trata-se do único estudo prospectivo randomizado que compara abiraterona e enzalutamida.

- Os autores demonstraram que o uso de enzalutamida como 2ª linha hormonal mostrou-se mais efetivo do que abiraterona, prolongando o tempo para 2ª progressão de PSA e produzindo maiores taxas de resposta de PSA. Assim, a sequência abiraterona seguida de enzalutamida parece ser a que traz melhores benefícios. Apesar disso, a atividade de enzalutamida após abiraterona é modesta, não justificando o emprego rotineiro dessa sequência.

- Embora interessantes e provocadores, os dados não causam grande impacto na prática clínica, uma vez que, geralmente, a progressão de doença à abiraterona ou enzalutamida está relacionada ao surgimento de variantes do receptor de androgênio (por exemplo: ARv7), as quais mantém constitucionalmente ativa essa via independente da ligação de andrógenos. Portanto, é esperada baixa atividade de ambas as drogas quando usadas sequencialmente e geralmente recomenda-se sequenciar o tratamento com quimioterapia (docetaxel ou cabazitaxel).

- A aplicabilidade dos achados desse estudo na atualidade também é incerta, pois essas drogas já têm aprovação para o cenário metastático castração sensível. Portanto, novos estudos para avaliar a melhor sequência terapêutica são necessários.

 

Editor:
Dr. Manuel Caitano Maia

Membro da SBOC; Oncologista Clínico pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP); atua no Centro de Oncologia do Paraná e no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie; Ex-Research Fellow em Tumores Genitourinários do City of Hope Cancer Center (Duarte, Califórnia, EUA).

Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.