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SBOC REVIEW

Sobrevida com cemiplimabe em câncer cervical recorrente

Resumo do artigo:

Apesar de programas de screening com avaliação citológica, disponibilidade de detecção do HPV de alto risco e vacinação profilática, há aproximadamente 600 mil casos novos de câncer de colo de útero e 350 mil mortes no mundo anualmente. Para o tratamento da doença recorrente/metastática, o tratamento com quimioterapia a base de platina com ou sem bevacizumabe foi considerado o padrão por anos.

Este estudo fase 3, aberto e multicêntrico avaliou o uso de cemiplimabe monoterapia, um agente anti-PD-1 com atividade comprovada em câncer cervical, após progressão a tratamento de primeira linha com uso de quimioterapia a base de platina. Foram incluídas pacientes com câncer cervical recorrente ou metastático (histologias: carcinoma espinocelular, adenocarcinoma ou carcinoma adenoescamoso), com boa performance status (ECOG 0 ou 1), independentemente do seu status de PD-L1.

A pacientes foram randomizadas 1:1 para receber cemiplimabe (350 mg EV a cada 3 semanas) ou terapia a escolha do investigador (pemetrexede, topotecano, irinotecano, gencitabina, vinorelbine). O desfecho primário foi análise da sobrevida global (SG) e os desfechos secundários, sobrevida livre de progressão (SLP), resposta objetiva, duração de resposta e qualidade de vida.

Foram randomizadas 608 pacientes de julho de 2017 a agosto de 2020, sendo a maioria das pacientes (77,8%) com histologia escamosa. A média de duração do tratamento com cemiplimabe foi de 15,2 semanas versus 10,1 semanas para quimioterapia. Gencitabina foi a quimioterapia mais utilizada.

A SG com cemiplimabe foi de 12 meses (IC 95% 10,3 - 13,5) versus 8,5 meses com quimioterapia (IC 95% 7,5 – 9,6) (HR= 0,69; IC 95% 0,56 - 0,84; P <0,001).

Nas pacientes com carcinoma escamoso, a SG com cemiplimabe foi de 11,1 meses (IC 95% 9,2- 13,4) versus 8,8 meses com quimioterapia (IC 95% 7,6 – 9,8). Pacientes com histologia adenoescamosa ou adenocarcinoma também apresentaram SG maior com o uso do cemiplimabe 13,3 (IC 95% 9,6 – 17,6) x 7 meses (IC 95% 5,1 – 9,7). A resposta objetiva e a duração de resposta foram maiores no grupo que recebeu cemiplimabe.

A análise de expressão de PD-L1 foi avaliada em 254 amostras tumorais disponíveis, 126 no braço cemiplimabe e 128 no braço quimioterapia. PD-L1 positivo foi encontrado em 70,7% das pacientes com carcinoma escamoso e em apenas 32.6% das pacientes com adenocarcinoma/adenoescamoso. Entre as pacientes com PD-L1 positivo, a mediana de SG foi de 13,9 meses com cemiplimabe versus 9,3 meses com quimioterapia (HR=0,70; IC 95% 0,46-1,05). Entre as pacientes sem expressão de PD-L1, a mediana de SG foi de 7,7 meses com cemiplimabe versus 6,7 meses com quimioterapia (HR=0,98; IC 95% 0,59-1,62).

Efeitos adversos graves (grau 3) ocorreram em 45% das pacientes que receberam cemiplimabe e em 53,4% daquelas que receberam quimioterapia. O evento adverso mais comum em ambos os grupos foi anemia (12% com cemiplimabe e 26,9% com quimioterapia). Eventos adversos imunomediados ocorreram em 15,7% das pacientes que receberam cemiplimabe.

Por fim, o estudo demonstrou aumento de SG com cemiplimabe como agente isolado na terapia de pacientes com câncer cervical recorrente após primeira linha com quimioterapia com platina.

 

 

Tewari KS, Monk BJ, Vergote I, et al. Survival with Cemiplimab in Recurrent Cervical Cancer. N Engl J Med 386;6.
Sobrevida com cemiplimabe em câncer cervical recorrente.

 

Comentário da avaliadora científica:

De extrema relevância, visto a prevalência do câncer cervical no Brasil (o mais comum dentre os tumores ginecológicos), o estudo tem um alto número de pacientes brasileiras recrutadas, em diferentes centros. Inclusive, a Dra. Andreia Cristina de Melo é uma das co-autoras do artigo.

Este trabalho possui grande valor por apresentar uma nova opção de tratamento com ganho de sobrevida global, com 31% de redução do risco de morte de câncer cervical recorrente com o cemiplimabe, dado ainda mais valoroso para mulheres com exposição prévia a platina. O cemiplimabe torna-se então uma nova opção de tratamento neste cenário, tanto para carcinoma escamoso quanto para adenocarcinoma/adenoescamoso.

Quanto aos eventos adversos (EA) reportados, é importante salientar que todas as pacientes haviam recebido quimioterapia previamente, e a anemia (EA mais comum) pode estar relacionada ao potencial maior risco de toxicidade medular neste contexto. No entanto, o tratamento foi bem tolerado e as toxicidades com cemiplimabe foram consistentes com outros agentes anti-PD-(L)1 já estudados.

Recentemente, o estudo KEYNOTE-826 demonstrou benefício da adição do pembrolizumabe à quimioterapia de primeira-linha (com ou sem bevacizumabe). A adição do pembrolizumabe resultou em aumento de sobrevida livre de progressão e sobrevida global nas populações PD-L1 positivo e por intenção de tratar, se tornando assim um novo padrão de tratamento para primeira linha. Dessa forma, o uso de cemiplimabe em segunda linha pode ficar mais restrito. Análises futuras sobre o papel da expressão de PD-L1 e novos biomarcadores podem auxiliar na melhor seleção das pacientes em cada cenário.

 

Avaliadora científica:

Dra. Ana Paula Dergham
Residência em Oncologia Clínica pelo Hospital de Clínicas HC-UFPR
Oncologista clínica NEO SAUDE - Núcleo de Estudos Oncológicos, Curitiba, PR