SBOC REVIEW
Sobrevida com darolutamida em câncer de próstata não metastático resistente a castração – estudo ARAMIS
Resumo do artigo:
Câncer de próstata não metastático resistente a castração é definido pelo aumento no valor de PSA em pacientes sem evidencia de doença metastática em exames de imagem e que estão em terapia de derivação hormonal (TDH). Esses pacientes estão em risco de surgimento de metástase macroscópica que pode ser acompanhada de sintomas importantes. Darolutamida é um novo inibidor do receptor de androgênico que foi aprovado para uso nesse cenário, juntamente com a TDH, devido aos resultados do desse estudo (ARAMIS). Na sua primeira publicação o estudo demonstrou ganho em sobrevida livre de metástase em relação aos pacientes que seguiram em uso de TDH sozinha. A publicação atual traz a análise final de sobrevida global e atualização do demais endpoints.
O estudo incluiu pacientes com câncer de próstata não metastático resistente a castração, com PSA doubling time inferior ou igual a 10 meses e PSA de pelo menos 2ng/dl. Os pacientes foram randomizados 2:1 para receber darolutamida + TDH versus placebo + TDH. Foram incluídos 1509 pacientes no total: 95 no braço da darolutamida e 554 no braço placebo. O tempo de seguimento mediano foi de 29 meses. A porcentagem de pacientes vivos em 3 anos foi de 83% (95% CI, 80 a 86) no grupo da darolutamida e 77% (95%CI, 72 a 81) no grupo placebo (HR: 0.69, p=0.003). A mediana de tempo para progressão dolorosa foi de 40.3 meses para darolutamida vs. 25.4 meses para o grupo placebo (HR: 0.65; P<0.001). Em 3 anos, 83% dos pacientes do grupo da darolutamida não haviam recebido quimioterapia vs, 75% do grupo placebo (HR: 0.58; p<0.001). A terapia com darolutamida foi bem tolerada. 8.9% dos pacientes descontinuaram tratamento por efeitos colaterais. Fadiga foi reportada em 13.2% dos pacientes e foi o efeito adverso mais comum.
Nonmetastatic, Castration-Resistant Prostate Cancer and Survival with Darolutamide. Fizazi et al. N Engl J Med 2020 Sep 10; 383:1040.
Sobrevida com darolutamida em câncer de próstata não metastático resistente a castração – estudo ARAMIS.
Comentários do avaliador científico:
Esse é um importante estudo em câncer de próstata. A publicação inicial já havia demonstrado ganho em sobrevida livre de metástase, o que levou à aprovação dessa droga pelo FDA. A publicação atual mostra o ganho em sobrevida global. Sem dúvida é uma importante arma no câncer de próstata não metastático resistente a castração.
Esse estudo se insere no mesmo espaço de outros dois estudos: PROSPER e SPARTAN que avaliaram enzalutamida e apalutamida nesse mesmo cenário em desenhos muito semelhantes. Os dois estudos também reportaram esse ano atualizações com dados de sobrevida global e também foram positivos para esse cenário. Portanto, em um cenário que até bem pouco tempo atrás era carente de tratamento efetivo, agora temos 3 drogas com ganhos robustos de sobrevida global em estudos de fase 3.
Uma vantagem que a darolutamida leva em relação a enzalutamida e apalutamida nesse cenário é o perfil de segurança. Com uma menor penetração na barreira hemato-encefálica, a darolutamida está associada a menos efeitos colaterais em sistema nervoso central como convulsão, queda e alterações cognitivas.
No Brasil a medicação já é aprovada pela ANVISA para uso em pacientes com câncer de próstata não-metastático resistente a castração.
Avaliador científico:
Dr. Daniel Girardi
Oncologista clínico do Hospital Sírio-Libanês Brasília e do Hospital de Base do Distrito Federal
Advanced fellow no programa de tumores geniturinários do National Cancer Institute, Bethesda, Estados Unidos da América