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SBOC REVIEW

SOLO 3: análise final com dados de sobrevida global para o uso de inibidor de PARP na recidiva de câncer de ovário

Resumo do artigo:

O estudo SOLO 3, randomizado de fase III e multicêntrico, avaliou a eficácia de olaparibe monoterapia versus quimioterapia agente único sem platina em pacientes com carcinoma seroso de alto grau ou endometrióide de ovário, tuba ou peritônio, portadoras de mutação germinativa em BRCA 1/2, com recidiva seis meses ou mais após, pelo menos, duas linhas de quimioterapia baseada em platina.

Foram randomizadas 266 pacientes, em proporção 2:1, para receberem olaparibe (n=178) 300 mg duas vezes ao dia ou quimioterapia sem platina a escolha do médico (n=88) (doxorrubicina lipossomal peguilada, paclitaxel, gencitabina ou topotecano).

O objetivo primário do estudo foi taxa de resposta (TR) e o resultado a favor de olaparibe já havia sido reportado em análise anterior: 72,2% versus  51,4%; HR=2,53; IC 95%: 1,40-4,58; p=0,002. Dados positivos de sobrevida livre de progressão (SLP), endpoint secundário, também já haviam sido apresentados: 13,4 versus  9,2 meses; HR=0,62; IC 95%: 0,43-0,91; p=0,013.

Nesta análise final, foram reportadas a sobrevida global (SG) geral e a análise post hoc da SG de acordo com o número de linhas prévias de quimioterapia.

As características das populações foram consideradas bem balanceadas entre os dois grupos. Em ambos os braços, cerca de 60-65% das pacientes tinham recidiva considerada parcialmente sensível à platina (progressão entre 6-12 meses após platina) e 35-40% tinham recidiva sensível à platina (progressão 12 meses após platina). Histologia serosa de alto grau era a maioria: entre 88-90% dos casos.

Após seguimento mediano de 48,9 meses no grupo de olaparibe e de 25,4 meses no grupo de quimioterapia, a sobrevida global geral foi semelhante entre os dois grupos: 34,9 meses para olaparibe versus 32,9 meses para quimioterapia (HR=1,07; IC 95%: 0,76-1,49; p=0,71). Em análise post hoc de subgrupos conforme o número de linhas prévias de quimioterapia, TR, SLP e SG (37,9 meses versus 28,8 meses (HR=0,83; IC 95%: 0,51-1,38)) foram estatisticamente superiores para as pacientes que haviam recebido até duas linhas de quimioterapia, anteriormente. Para o subgrupo de pacientes que receberam três ou mais linhas prévias de quimioterapia, apenas TR e SLP foram favoráveis ao uso de inibidor de PARP, enquanto que SG foi superior para o braço que recebeu quimioterapia sem platina.

Em 6 (3,5%) pacientes foi identificada, por amostra de sangue, reversão na mutação de BRCA. A maioria (5 de 6) dessas reversões foi identificada em pacientes que haviam recebido quatro ou mais tratamentos anteriores. Nenhuma delas apresentou resposta objetiva com o uso olaparibe.

É importante destacar que 25% das pacientes no grupo de quimioterapia retiraram o termo de consentimento (2,3 vezes mais que no grupo de olaparibe). Outro ponto importante a considerar é que 37,5% das pacientes desse grupo receberam inibidor de PARP como terapia subsequente.   

Nesta análise mais longa, o perfil de segurança foi mantido em relação ao conhecido na análise inicial.

 

Comentário da avaliadora científica:

Com potencial de explorar deficiências na via de reparo aos danos do DNA, os inibidores de PARP são especialmente importantes em pacientes portadoras de mutações somáticas ou germinativas em BRCA.

O estudo SOLO3 avaliou o uso de olaparibe em pacientes com carcinoma de ovário sensível à platina e merece destaque por incluir mulheres do mundo real. Ainda que tenha incluído pacientes bastante pré-tratadas, o estudo atingiu o seu desfecho primário, demonstrando melhor TR. Resultado de SG não atingiu significância estatística na população total. Analisando a SG por subgrupos, houve benefício do uso de olaparibe para pacientes com até duas linhas de quimioterapias prévias, mas potencial deletério em pacientes mais tratadas (três ou mais linhas). Essa análise reforça a importância de individualizar com base na estratificação por número de tratamentos anteriores.

A elevada porcentagem de pacientes que retiraram consentimento, o número de pacientes que receberam inibidor de PARP na terapia sequencial e a diferença de tempo de seguimento entre os braços, podem ter contribuído para confundir os dados de sobrevida global.

Reversão adquirida em mutações de BRCA, mais comumente encontrada em pacientes mais expostas a tratamentos citotóxicos, deve ser explorada como possível mecanismo de resistência à platina e aos inibidores de PARP.

 

Citação: Scambia G, Villalobos Valencia R, Colombo N, Cibula D, Leath CA 3rd, Bidziński M, et al. Olaparib as Treatment Versus Nonplatinum Chemotherapy in Patients With Platinum-Sensitive Relapsed Ovarian Cancer: Phase III SOLO3 Study Final Overall Survival Results. J Clin Oncol. 2025 Apr 20;43(12):1408-1416. doi: 10.1200/JCO.24.00933.

 

Avaliadora científica:

Dra. Carine de Cássia Mauro

Oncologista clínica pelo A.C.Camargo Cancer Center – São Paulo/SP

Oncologista clínica no Hospital de Câncer de Catanduva – Catanduva/SP

Título de Especialista em Oncologia Clínica pela SBOC/AMB

Instagram: @ca.mauro_

Cidade de atuação: Catanduva/SP.