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SBOC REVIEW

Suporte nutricional durante hospitalização reduz mortalidade em pts com diferentes tipos de câncer: análise secundária de estudo prospectivo randomizado

Resumo do artigo:

O EFFORT, estudo aberto, randomizado e controlado realizado em 8 centros suíços, investigou o impacto do suporte nutricional precoce em pacientes (pts) em risco nutricional. Os centros tinham um rastreamento ativo de má nutrição usando o NRS 2002. Foram incluídos pts com escore ≥ 3, que indica risco nutricional aumentado, e hospitalização estimada em >4 dias. Foram excluídos pts admitidos inicialmente em unidades de terapia intensiva (UTI) ou cirúrgica, doença terminal, anorexia nervosa, pancreatite aguda, fibrose cística, insuficiência hepática aguda, by-pass gástrico, transplante de células-tronco, incapazes de ingesta oral ou aqueles já recebendo ou com contraindicação ao suporte nutricional. Nesta análise secundária pré-planejada do estudo, os pts tinham admissão principal por câncer.

Foram randomizados na proporção 1:1 para receber suporte nutricional individualizado ou comida hospitalar padrão. O suporte nutricional individualizado era definido por nutricionista treinado e seguia protocolo de implementação para atingir alvos de proteína e energia. As necessidades em energia eram calculadas usando a equação de Harris-Benedict e a ingestão proteica diária era de 1,2-1,5 g/kg, sendo 0,8 g/kg para pts com insuficiência renal aguda. O plano inicial incluía nutrição oral fornecida pelo hospital, com ajuste de acordo com preferência do paciente, enriquecimento dos alimentos (usando proteína em pó, por exemplo), lanches e suplementos orais. Os pts eram reavaliados a cada 24-48 horas. Se 75% dos alvos de proteína e energia não fossem atingidos até 5 dias, era indicado suporte enteral ou parenteral. Na alta, os pts recebiam orientações e prescrição de suplementos orais se necessário, mas não foi previsto acompanhamento ambulatorial.

O desfecho primário foi mortalidade em 30 dias. O desfecho secundário foi desfecho combinado, que incluía mortalidade por todas as causas, admissão em UTI, readmissão hospitalar não eletiva após alta, e complicações maiores. Foram consideradas complicações maiores: infecção nosocomial, insuficiência respiratória, evento cardiovascular maior (AVC, hemorragia intracraniana, IAM, parada cardíaca), embolia pulmonar, insuficiência renal aguda, eventos gastrointestinais (hemorragia, perfuração intestinal, pancreatite aguda), ou queda >10% da funcionalidade da admissão até 30 dias de seguimento. Foi analisada mortalidade em 6 meses para 1995 (98%) dos 2028 pts com informação disponível.

Foram incluídos 506 pts: 255 no grupo intervenção e 251 no grupo controle. As características foram bem balanceadas, exceto para tipo tumoral: 25,1 vs 19,5% câncer de pulmão e 12,9 vs 20,3% de tumores GI nos grupos intervenção e controle, respectivamente.

O risco nutricional medido por NRS 2002 foi fortemente associado com mortalidade em 180 dias, com razão de risco (RR) de 1,37 (IC 95% 1,15-1,61; p<0,001), e desfecho combinado, com RR de 1,42 (IC 95% 1,11-1,83; p=0,006).

Em 30 dias, houve 36 óbitos (14,1%) do grupo intervenção vs 50 óbitos (19,9%) do grupo controle (RR 0,57; IC95% 0,35-0,94; p=0,027). Em 6 meses, ocorreram 115 (47,3%) vs 128 (52,7%) óbitos nos grupos intervenção e controle, respectivamente (RR 0,83; IC 95% 0,65-1,08; p=0,18). Houve maior risco de declínio da funcionalidade (escala de Barthel) no grupo controle, com RR de 0,59 (IC 95% 0,38-0,93; p=0,021). Pacientes do grupo intervenção tiveram melhora significativa de qualidade de vida, avaliada por questionário EQ-5D (p=0,016). Não houve diferença significativa no desfecho combinado, duração da hospitalização e readmissão não-eletiva.

 

L. Bargetzi, C. Brack, J. Herrmann, A. Bargetzi, L. Hersberger, M. Bargetzi, N. Kaegi-Braun, P. Tribolet, F. Gomes, C. Hoess, V. Pavlicek, S. Bilz, S. Sigrist, M. Brändle, C. Henzen, R. Thomann, J. Rutishauser, D. Aujesky, N. Rodondi, J. Donzé, A. Laviano, Z. Stanga, B. Mueller, P. Schuetz. Nutritional support during the hospital stay reduces mortality in patients with different types of cancers: Secondary analysis of a prospective randomized trial. Annals of Oncology, 2021. ISSN 0923-7534. https://doi.org/10.1016/j.annonc.2021.05.793.
Suporte nutricional durante hospitalização reduz mortalidade em pts com diferentes tipos de câncer: análise secundária de estudo prospectivo randomizado.

 

Comentário da avaliadora científica:

Em pacientes com câncer, má nutrição é associada com piora de qualidade de vida, redução de sobrevida e aumento de toxicidade dos tratamentos oncológicos. Há evidência de que o início precoce de cuidados paliativos associado ao tratamento oncológico resulta em ganho de sobrevida em pacientes com câncer.

O EFFORT avalia o impacto da intervenção nutricional, um dos pilares dos cuidados paliativos. Neste estudo, o risco nutricional é um fator prognóstico independente de mortalidade em 6 meses nos pacientes com câncer. Nos pacientes em risco nutricional, a intervenção com suporte nutricional individualizado durante hospitalização reduziu a mortalidade em 30 dias e melhorou desfechos de funcionalidade e qualidade de vida. Não houve impacto na mortalidade em 6 meses ou readmissão, mas vale ressaltar que os pacientes não seguiram acompanhamento nutricional após alta hospitalar.

O cuidado oncológico de qualidade inclui acompanhamento multidisciplinar, aliando estratégias de cuidados paliativos ao tratamento oncológico. Os resultados apresentados trazem evidência da importância do acompanhamento e intervenção nutricional individualizada.

 

Avaliadora científica:

Dra. Carolina Alves Costa Silva
Residência em oncologia clínica pelo ICESP-FMUSP
Clinical research fellow, grupo de tumores genitourinários do Instituto Gustave Roussy
Doutoranda pela Universidade Paris-Saclay