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SBOC REVIEW

[▶ Comentário em vídeo] Terapia anti-EGFR após quimiorradioterapia em pacientes com câncer de pulmão estádio III irressecável EGFR-mutado (estudo LAURA)

Comentário em vídeo:

 

Resumo do artigo:

Mutações no receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) são encontradas em até um terço dos pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) estágio III irressecável que recebem quimiorradioterapia (QRT). O tratamento padrão para esses pacientes é QRT concomitante seguida de terapia de consolidação com durvalumabe nos pacientes sem progressão após tratamento definitivo. Embora os inibidores do checkpoint imunológico (ICI) forneçam benefícios substanciais na sobrevida global para pacientes com CPCNP metastático sem mutações detectáveis ​​de EGFR, o mesmo benefício não foi demonstrado em pacientes com CPCNP com mutação de EGFR. Da mesma forma, dados limitados demonstram que o benefício da terapia de consolidação com durvalumabe especificamente em pacientes com CPCNP irressecável com mutação de EGFR em estágio III é incerta. O osimertinibe é um inibidor de tirosina quinase de terceira geração, utilizado na primeira linha de tratamento de pacientes com CPCNP com mutação de EGFR além de terapia adjuvante para CPCNP com mutação de EGFR estágio IB-IIIA ressecado.

LAURA é um estudo de fase III, duplo-cego, em que pacientes com CPCNP estágio III irressecável, com mutação de EGFR (ex19del ou L858R), sem progressão durante ou após quimiorradioterapia, foram randomizados 2:1 para receber osimertinibe oral na dose de 80 mg uma vez ao dia ou placebo, por tempo ilimitado, até a progressão da doença ou toxicidade limitante. O desfecho primário do estudo é sobrevida livre de progressão, de acordo com revisão central independente. E os desfechos secundários eram sobrevida global, sobrevida livre de progressão em SNC, taxa de resposta objetiva, duração de resposta e qualidade de vida relacionada à saúde e segurança.  Foram incluídos 216 pacientes, 143 no grupo do osimertinibe e 73 no grupo placebo.

Osimertinibe apresentou benefício significativo em sobrevida livre progressão, reduzindo o risco de progressão ou morte em 84% comparado com placebo (HR 0,16; IC 95%, 0,10 – 0,24; p<0,001). A sobrevida livre de progressão foi de 39,1 meses no grupo tratado com osimertinibe versus 5,6 meses no grupo placebo.

Houve menor incidência de progressão local e de metástases à distância no grupo osimertinibe (21% e 16%, respectivamente) do que no grupo placebo (48% e 37%, respectivamente). A incidência de novas lesões cerebrais foi menor no grupo do osimertinibe (8% versus 29%).  A taxa de resposta objetiva com osimertinibe foi de 57% e de 33% com placebo. A duração média da resposta também foi maior com osimertinibe (36,9 versus 6,5 meses). Entre os pacientes que progrediram no grupo placebo, 81% receberam osimertinibe na progressão. Os dados de sobrevida global ainda são imaturos.

Os eventos adversos mais comuns foram pneumonite pós-radiação (48% com osimertinibe versus 38% com placebo), diarreia (36% versus 14%) e rash cutâneo (24% versus 14%). Incidência de eventos adversos de grau 3 ou superior foi de 35% no grupo osimertinibe e 12% no grupo placebo. A descontinuação do regime ocorreu em 63 pacientes (44%) no grupo osimertinibe e em 66 pacientes (90%) no grupo placebo, mais comumente devido à progressão da doença (25% versus 74%) e eventos adversos (13% versus 7%).

O estudo LAURA fase 3 demonstrou que a terapia com osimertinibe acarreta benefício em sobrevida livre de progressão em pacientes com CPCNP estágio III irressecável que não progrediram a quimiorradioterapia.

 

Comentário do avaliador científico:

Os pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) estágio III irressecável com mutação do EGFR tratados com quimiorradioterapia tem uma sobrevida livre de progressão muito curta. Em 1 ano, 78% dos pacientes do grupo placebo tinham progredido. Sendo assim, o estudo LAURA vem como uma boa opção de tratamento devido o benefício encontrado na redução do risco de progressão ou morte de 84% comparado com placebo.  Além disso, quem recebeu osimertinibe teve uma redução na incidência de recidiva em SNC, sugerindo que osimertinibe proporciona um efeito protetor contra a progressão no SNC.

Os dados imaturos de sobrevida global (maturidade 20%) demonstram uma tendência positiva a favor do osimertinibe, apesar da elevada proporção de pacientes (81%) que fizeram crossover do grupo placebo para osimertinibe. Os eventos adversos de osimertinibe após quimiorradioterapia foi consistente com o perfil geral de segurança já conhecido.

O estudo LAURA confirma a necessidade de testagem molecular de pacientes com CPCNP EC III irressecável para garantir que os pacientes recebam tratamento adequado.

Estudos futuros são necessários para descoberta de biomarcadores que possibilitem o descalonamento do tratamento (redução do tempo de uso do osimertinibe) nos pacientes que podem ser curados com quimiorradioterapia.

 

Citação: Lu S, Kato T, Dong X, Ahn MJ, Quang LV, Soparattanapaisarn N, Inoue T, Wang CL, Huang M, Yang JC, Cobo M, Özgüroğlu M, Casarini I, Khiem DV, Sriuranpong V, Cronemberger E, Takahashi T, Runglodvatana Y, Chen M, Huang X, Grainger E, Ghiorghiu D, van der Gronde T, Ramalingam SS; LAURA Trial Investigators. Osimertinib after Chemoradiotherapy in Stage III EGFR-Mutated NSCLC. N Engl J Med. 2024 Jun 2. doi: 10.1056/NEJMoa2402614.

 

Avaliador científico:

Dra. Ive Lima

Residência de Oncologia Clínica pelo Hospital Israelita Albert Einstein

Oncologista da Clínica AMO – Salvador Ba

Instagram: @ivelimas

Cidade de atuação: Salvador

Oncologista Senior colaboradora Dra Aknar Calabrich