SBOC REVIEW
Terapia de manutenção com niraparibe na primeira linha em pacientes com câncer de ovário avançado recém-diagnosticado: resultados finais de sobrevida global do estudo PRIMA
Resumo do artigo:
Ainda muito desafiador, devido à sua agressividade e habitual diagnóstico tardio, o câncer de ovário segue sendo uma das principais causas de mortes em mulheres, correspondendo à sexta maior causa de morte em mulheres nos Estados Unidos e à oitava maior causa de morte em mulheres no mundo. Hoje, o tratamento padrão é composto por cirurgia seguida de quimioterapia baseada em platina, com ou sem bevacizumabe. Para pacientes com resposta completa ou parcial à terapia inicial, recomenda-se manutenção com inibidores de PARP, isolados ou combinados com bevacizumabe.
O estudo de fase 3 PRIMA alcançou seu desfecho primário demonstrando que o inibidor de PARP niraparibe, como manutenção de primeira linha, estendeu significativamente a sobrevida livre de progressão (PFS) em pacientes com câncer de ovário avançado de alto risco (estágio III com tumor residual visível, estágio III inoperável ou qualquer doença em estágio IV) que responderam à quimioterapia de primeira linha nas populações com deficiência de recombinação homóloga (HRD) e geral, quando comparado a placebo. Na população geral, o niraparibe reduziu o risco de progressão ou morte em 38% (HR=0,62; IC 95%, 0,50–0,76). Pacientes com HRD apresentaram os melhores resultados, com uma redução de 57% no risco de progressão (HR=0,43; IC 95%, 0,31–0,59). Mesmo entre pacientes com proficiência de recombinação homóloga (HRP), o niraparibe mostrou eficácia, reduzindo o risco de progressão em 32% (HR=0,68; IC 95%, 0,49–0,94). Nesta atualização, os autores apresentaram os resultados planejados de sobrevida global e os resultados atualizados de PFS ad hoc.
Os dados finais de sobrevida global (SG) do estudo PRIMA mostraram que o niraparibe, como terapia de manutenção no câncer de ovário avançado, não proporcionou um benefício estatisticamente significativo em SG em comparação ao placebo. Na população geral, a mediana de SG foi de 46,6 meses no grupo niraparibe versus 48,8 meses no grupo placebo (HR=1,01; p=0,8834). No subgrupo com HRD, a mediana foi de 71,9 meses com niraparibe e 69,8 meses com placebo (HR=0,95; IC 95%, 0,70–1,29). No subgrupo com HRP, a mediana foi de 36,6 meses com niraparibe versus 32,2 meses com placebo (HR=0,93; IC 95%, 0,69–1,26). Com até sete anos de seguimento, o perfil de segurança do niraparibe permaneceu consistente, sem novos sinais de toxicidade. A incidência de síndrome mielodisplásica e leucemia mieloide aguda foi de 2,3% no grupo niraparibe e 1,6% no grupo placebo.
Concluindo, em pacientes com câncer de ovário avançado recém-diagnosticado e com alto risco de recidiva, não houve diferença na sobrevida global entre os braços de tratamento. Na população HRd, os pacientes vivos após 5 anos tiveram duas vezes mais chances de estarem livres de progressão com o tratamento com niraparibe em comparação ao placebo.
Comentário do avaliador científico:
O estudo PRIMA apresentou resultados complexos que requerem análise cuidadosa ao serem comparados com outros estudos de inibidores de PARP, como SOLO-1 e PAOLA-1. Uma diferença importante entre os estudos é o perfil de risco dos pacientes: PRIMA incluiu uma população de maior risco, com 66,7% recebendo quimioterapia neoadjuvante, enquanto PAOLA-1 mostrou maior benefício em pacientes de menor risco, como aqueles com ressecção completa de doença estágio III. Na população com deficiência de recombinação homóloga, a sobrevida global no braço experimental foi similar entre os estudos PRIMA e PAOLA-1, mas o desempenho surpreendentemente bom do grupo placebo no PRIMA levanta questões.
Uma hipótese para esses resultados é o crossover de tratamento, já que 48,4% dos pacientes do grupo placebo no estudo PRIMA receberam inibidores de PARP posteriormente. No entanto, outros estudos com taxas semelhantes de crossover ainda demonstraram melhorias na sobrevida global. Além disso, o tempo de manutenção com niraparibe no estudo PRIMA foi mais longo, o que pode influenciar os desfechos, pois pacientes que progridem após uso prolongado de inibidores de PARP apresentam frequentemente resultados piores. Isso levanta dúvidas sobre a eficácia do uso de três anos de niraparibe como estratégia ideal.
Apesar das limitações, o niraparibe permanece uma opção padrão de manutenção no câncer de ovário avançado. Entretanto, questões sobre a sinergia de sua combinação com bevacizumabe continuam abertas. Ensaios clínicos em andamento, como AGO-OVAR 28 e NIRVANA-1, podem fornecer respostas importantes sobre como otimizar o tratamento para esses pacientes.
Citação: A. González-Martín, B. Pothuri, M. Ginesta, et al. Final overall survival (OS) in patients (pts) with newly diagnosed advanced ovarian cancer (aOC) treated with niraparibe (nir) first-line (1L) maintenance: Results from PRIMA/ENGOT-OV26/GOG-3012. ESMO Congress 2024 (LBA29), 2024.
Avaliador científico:
Dra. Andressa Moretti Izidoro
Oncologista Clínica pelo Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON) – Florianópolis/SC
Oncologista Clínica no CEPON e na Clínica Viver – Florianópolis/SC
Instagram: @dra.andressa.oncologia
Cidade de atuação: Florianópolis/SC