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SBOC REVIEW

Trastuzumabe-deruxtecana para carcinossarcoma uterino com expressão do Receptor 2 de Crescimento Epidérmico: STATICE Trial

Resumo do artigo:

O carcinossarcoma é um tumor maligno endometrial raro e com alta mortalidade. O tratamento na primeira linha é com carboplatina e paclitaxel e não há tratamento padrão de segunda linha, sendo esta uma necessidade emergencial a ser atendida.

A amplificação do HER2 está presente em até um terço dos carcinossarcomas uterinos (CSU) e por isso este é um alvo terapêutico promissor. O trastuzumabe-deruxtecana (T-DXd) é um anticorpo monoclonal humanizado direcionado ao HER-2 conjugado a um quimioterápico inibidor da topoisomerase I.

Este estudo japonês, multicêntrico, de fase II, braço único, publicado no JCO em fevereiro de 2023 avaliou a eficácia do T-DXd em pacientes com CSU avançado ou recidivado com expressão de HER2 por imuno-histoquímica (IHQ) após tratamento prévio com quimioterapia.

O FISH não foi critério para a avaliação do HER2 e as pacientes foram classificadas de acordo com o escore da IHQ em HER2-high (2+ ou 3+) e HER2-low (+1). Foram excluídas pacientes com segundo tumor primário, história de insuficiência cardíaca congestiva sintomática ou metástases cerebrais sintomáticas.

A dose inicial do T-DXd no estudo foi de 6,4 mg/kg a cada 3 semanas, sendo adaptada para 5,4 mg/kg após a mudança nos protocolos dos estudos de câncer de mama. O T-DXd foi mantido até a progressão da doença ou toxicidade limitante.

O objetivo primário foi a taxa de resposta objetiva (TRO) avaliada pelo investigador central no grupo HER2-high. Os objetivos secundários foram taxa de resposta pela avaliação do investigador no grupo HER2-high, taxa de resposta objetiva no grupo HER2-low, sobrevida livre de progressão (SLP), sobrevida global (SG) e segurança. A taxa de controle da doença e a duração da resposta também foram determinadas em ambos os grupos.
O estudo analisou 32 pacientes (22 no grupo HER2-high e 10 no grupo HER2-low) com tempo médio de acompanhamento de 13,5 meses. No grupo HER2-high a TRO por revisão central foi de 54,5% (IC 95% 32,2 – 75,6), sendo resposta completa 4,5% (1), resposta parcial 50% (11) e doença estável em 45,5% (10 pacientes) e duração de resposta de 6,9 meses (IC 95% 4,1 – 12,6). No grupo a TRO HER2-low, a TRO foi de 70% (IC 95% 34,8 – 93,3).

A SLP mediana foi de 6,7 meses (IC 95% 5,4 – 8,8) em toda a coorte, sendo 6,2 meses (IC 95% 4,0 – 8,8) no grupo HER2-high e 6,7 meses (IC 95% 2,6 – 13,8) no grupo HER2-low. A SG mediana foi de 15,8 meses (IC 95% 10,5 – NA) em toda a coorte, sendo 13,3 meses (IC 95% 8,8 – NA) no grupo HER2-high e não atingida no grupo HER2-low (IC 95% 9,8 – NA).

A pneumonite, evento adversos de interesse especial do T-DXd, ocorreu em 8 pacientes com grau 1/2 e em 1 paciente com grau 3.

Por fim, este estudo mostrou que o trastuzumabe-deruxtecana tem atividade em CSU, com expressão do HER2 high ou low, em pacientes já previamente tratadas com quimioterapia.

Comentário do avaliador científico:
O T-DXd revolucionou o tratamento das pacientes com câncer de mama e vem mostrando resultados animadores em outros tumores com expressão do HER2. A alta permeabilidade de carga útil permite que o T-DXd exerça seu potencial efeito citotóxico inclusive em células tumorais vizinhas, tornando-se eficaz mesmo em tumores com expressão baixa, como evidenciado no caso dos carcinossarcomas uterinos.
A eficácia do T-DXd superou resultados prévios de terapias alvo já testadas para CSU em segunda linha. Os inibidores de PI3K/mTOR, por exemplo, pazopanibe e imatinibe mostram taxas de resposta em torno de 5%. O topotecano, inibidor de tipoisomerase I, quimioterápico da mesma classe do conjugado ao payload do T-DXd, apresenta TRO de 10% em UCS com alta toxicidade.
A pneumonite, o evento adverso mais preocupante do T-DXd, mostrou-se manejável com monitoramento apropriado e intervenção precoce.
As principais limitações deste estudo são tratar-se de um estudo aberto que incluiu apenas população japonesa e uma baixa amostragem de pacientes. Porém, diante da eficácia superior a outros tratamentos já avaliados neste cenário, T-DXd deve ser considerado no tratamento de segunda linha em pacientes com expressão de HER2 na IHQ a partir de 1+.

Citação: Nishikawa T., Hasegawa K., Matsumoto K. et al. Trastuzumab Deruxtecan for Human Epidermal Growth Factor Receptor 2–Expressing Advanced or Recurrent Uterine Carcinosarcoma: The STATICE Trial. Published online on March 28, 2023 JCO DOI: 10.1200/JCO.22. 02558

Avaliador científico:
Dra. Débora Maciel Santana Dornellas
Residência Médica em Oncologia Clínica pela Fundação Antônio Prudente do A.C. Camargo Cancer Center
Título de Especialista em Oncologia Clínica pela SBOC/AMB
Oncologista Clínica no Hospital Israelita Albert Einstein