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SBOC REVIEW

Tratamento de lesão anal intraepitelial escamosa de alto grau previne câncer de canal anal

Resumo do artigo:

Assim como no câncer de colo de útero, o câncer de canal anal tem como principal fator de risco infecção por HPV e também é precedido por lesões intraepiteliais escamosas de alto grau – também conhecido como NIA (neoplasia intraepitelial anal) grau 2 ou 3.

Apesar de raro (com incidência geral de 1,6 a cada 100.000 pessoas-ano), a incidência de câncer de canal anal aumenta em populações com imunossupressão, homens HIV positivo tem incidência estimada de 89 a cada 100.000 pessoas-ano, além de maior risco.

Alguns especialistas recomendavam realização de programas de prevenção secundária em população de alto risco com realização de rastreamento e tratamento de lesões, porém sem embasamento por estudos prospectivos. O estudo ANCHOR (Anal Cancer HSIL Outcomes Research) teve como objetivo avaliar se o tratamento de lesões precursoras em população HIV confirmaria menor risco de progressão para doença invasiva – a qual é associada com maior morbidade e em estádios mais avançados, menor sobrevida.

O estudo de fase 3 ANCHOR, randomizado, multicêntrico realizou rastreamento de lesões precursoras em pacientes portadores de HIV, com idade acima de 35 anos, através de exame físico completo e anuscopia de alta resolução. Foram incluídos 10.723 pacientes (sendo que 17 já receberam diagnóstico de câncer de canal invasivo no início) e 4.459 foram diagnosticados com lesões precursoras de alto grau (NIA grau 3 ou NIA grau 2 com p16 positivo) – estes pacientes foram randomizados para realizar tratamento imediato com objetivo de erradicação ou monitoramento (sem tratamento ativo) com desfecho principal de avaliar taxa de progressão para câncer de canal anal.

As opções de tratamento poderiam ser procedimentos ablativos (eletrocautério, laser, coagulação por infravermelho), ablação ou excisão local sob anestesia ou uso tópico de fluorouracil ou imiquimode. Importante destacar que 80% da população era masculina, idade mediana de 51 anos, 77% homens com sexo com homens, 10% com histórico de tratamento prévio de lesão precursora há mais de 6 meses e menos de 1% era vacinada para HPV.

No grupo tratamento, 83,6% realizaram ablação com eletrocautério. Ao longo do estudo, 86,3% das lesões foram tratadas com um método terapêutico, 10,5% com dois métodos e 1,5% com três métodos.

Com o seguimento mediano de 25,8 meses, foi visto uma redução de risco para câncer de canal anal com taxa para progressão de câncer de canal anal menor em 57% no grupo de tratamento (IC 95% 6-80, p=0,03). No grupo de tratamento foram 9 casos diagnosticados com lesão invasiva enquanto no grupo de vigilância 21 casos, refletindo em uma taxa de incidência de câncer anal na população com tratamento de 173 por 100.000 pessoas-ano versus 404 por 100.000 pessoas-ano com monitoramento.

A incidência cumulativa de progressão para câncer em 48 meses foi 0,9% no grupo tratamento e 1,8% no monitoramento. Foi encontrado associação com tamanho da lesão (maior que 50% do canal anal) com tempo para progressão para câncer.

 

 

Palefsky JM, Lee JY, Jay N, et al; ANCHOR Investigators Group. Treatment of Anal High-Grade Squamous Intraepithelial Lesions to Prevent Anal Cancer. N Engl J Med. 2022 Jun 16;386(24):2273-2282. doi: 10.1056/NEJMoa2201048.
Tratamento de lesão anal intraepitelial escamosa de alto grau previne câncer de canal anal.

 

Comentário da avaliadora científica:

ANCHOR é o primeiro estudo prospectivo que confirma que o tratamento de lesões anais precursoras com NIA grau 2 ou 3, em população de HIV positivo, reduz o risco de câncer invasivo de canal anal em 57%. Dessa forma, esse estudo embasa programa de prevenção secundária com rastreamento em pacientes com HIV com mais de 35 anos, a fim de diagnosticar e tratar lesões precursoras de alto grau.

O estudo não comparou opções de tratamento, porém a maior parte dos pacientes realizou procedimento com ablação com eletrocautério, opção que pode ser realizada ambulatorial, rápida, com baixa incidência de evento adverso grave.

Estudos adicionais são importantes para melhorar a identificação de lesões precursoras de alto grau em região anal, pois anuscopia com alta resolução não é uma ferramenta amplamente disponível (com necessidade de equipe treinada) e a análise por citologia tem limitações. Assim como para determinar intervalo de exames, idade para iniciar e cessar rastreamento e o papel de vacinação para HPV.

 

Avaliadora científica:

Dra. Carolina Ribeiro Victor
Residência de Oncologia Clínica pelo ICESP-USP
Oncologista no ICESP no Grupo de Tumores Gastrointestinais e oncologista na Oncologia D’OR (Hospital São Luiz Anália Franco- São Paulo)