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SBOC REVIEW

Tratamento do Sarcoma de Kaposi associado a AIDS avançada no cenário de recursos limitados: Estudo randomizado, 3 braços, aberto, de não inferioridade

Resumo do artigo:

O Sarcoma de Kaposi relacionado à AIDS em estágios avançados continua a ser uma das principais causas de câncer em países em desenvolvimento, bem como em países subdesenvolvidos. Em 2018, estima-se que o Sarcoma de Kaposi foi o 2º tipo mais comum de câncer no Malawi e Uganda, e o 3º tipo mais comum no Zimbabwe, países que apresentam alta prevalência de infecção pelo HIV. Doxorrubicina Lipossomal e Paclitaxel possuem alta atividade no tratamento desta doença, sendo considerado tratamento de 1ª linha em países desenvolvidos, porém são pouco disponíveis em países com recursos limitados devido ao alto custo.

Este estudo objetivou avaliar a eficácia de esquemas quimioterápicos alternativos, e de menor custo, no tratamento do Sarcoma de Kaposi avançado. Trata-se de estudo aberto, de não inferioridade, conduzido em países de renda média e baixa (Brasil, Kenia, Malawi, África do Sul, Uganda e Zimbabwe), que randomizou 344 participantes em 3 grupos de tratamento: Bleomicina associado a Viscristina endovenoso ou Etoposideo oral ou Paclitaxel como braço controle. Todos os três braços associados à terapia antirretroviral. Não foi considerado Doxorrubicina lipossomal como grupo controle devido à instabilidade de fornecimento desta droga pela indústria farmacêutica à época do estudo. Como objetivo primário, avaliou sobrevida livre de progressão após 48 semanas de seguimento, utilizando margem de não inferioridade de 15% nos braços experimentais em relação ao braço controle. Após início do estudo em outubro de 2013, o braço Etoposideo oral foi fechado em março/2016 devido à recomendação do comitê de monitoramento de dados e segurança por conta da inferioridade em relação ao braço controle. O estudo seguiu com dois braços até que em março/2018 o estudo foi interrompido devido evidência de inferioridade de Bleomicina associado à Viscristina em relação ao braço controle. A sobrevida livre de progressão em 48 semanas de ambos os braços experimentais ultrapassou a margem do intervalo de confiança para não inferioridade, não conseguindo provar a não inferioridade destes regimes em relação ao braço controle Paclitaxel, conforme a seguir: Paclitaxel atingiu 50% (95% CI 32–67) versus 20% (6–33) do braço etoposideo; e Paclitaxel atingiu 64% (95% CI 55–73) versus 44% (35–53) do braço Bleomicina associado a Vincristina. Logo, a interpretação clínica deste estudo é que Paclitaxel associado ao tratamento antirretroviral é superior aos tratamentos com etoposideo oral e Bleomicina associado a Viscristina, associados aos antirretrovirais.

 

Treatment of advanced AIDS-associated Kaposi sarcoma in resource-limited settings: a three-arm, open-label, randomised, non-inferiority trial. Krown SE et al. Lancet 2020; 395: 1195-207
Tratamento do Sarcoma de Kaposi associado a AIDS avançada no cenário de recursos limitados: Estudo randomizado, 3 braços, aberto, de não inferioridade

 

Comentário do avaliador científico:
- Apesar do esquema Bleomicina associado a Viscristina ser um esquema bastante utilizado na primeira linha para tratamento de Sarcoma de Kaposi relacionado à AIDS em países com baixos recursos, este esquema demonstrou eficácia inferior em relação ao braço controle Paclitaxel.

- Estudo conseguiu importante adesão dos pacientes incluídos, reportando que quase 100% dos pacientes realizaram os seis ciclos de tratamento com Paclitaxel ou Bleomicina associado à Vincristina e 87% de etoposideo oral, o que não deve refletir a realidade local.
- Avaliação de eventos adversos mostrou resultados semelhantes entre os braços, incluindo neutropenia, baixa de albumina, anemia e perda ponderal, demonstrando que o braço Paclitaxel é bem tolerado.
- Esquema quimioterápico com Paclitaxel a cada três semanas é opção padrão para tratamento de Sarcoma de Kaposi relacionado à AIDS em países com baixos recursos econômicos.

 

Avaliador científico:
Dr. Rodrigo Antonio Vieira Guedes
Residência em Clinica Médica pela UNIFESP– Escola Paulista de Medicina, São Paulo/ SP. Residência em Oncologia Clínica pelo Hospital Sírio-Libanês, São Paulo/SP. Médico oncologista da Oncologia D´Or, em Salvador/ Bahia

 

Editor
Dr. Daniel da Motta Girardi
Oncologista clínico do Hospital Sírio-Libanês de Brasília e do Hospital de Base do Distrito Federal. Advanced fellow no programa de tumores geniturinários do National Cancer Institute, Bethesda, Estados Unidos.