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SBOC REVIEW

Tumores de Pele e Sarcomas – Especial ASCO

Crossover e re-exposição com pembrolizumabe em pacientes com recorrência no estudo de fase 3 EORTC 1325-MG/KEYNOTE-054, pembrolizumabe versus placebo após ressecção completa de melanoma de alto risco estádio III

Resumo do artigo:

Os dados atualizados na ASCO 2020 do estudo KEYNOTE-054 comprovaram um benefício em termos de aumento da sobrevida livre de recorrência (SLR) com a utilização de pembrolizumabe em comparação a placebo em pacientes com melanoma estádio III de alto risco, completamente ressecados. Com um período de acompanhamento médio de 3 anos, a SLR foi de 63,7% x 44,1%, ou seja, uma redução do risco de progressão de 44%, com um p<0,001. Além disso, os dados de sobrevida livre de metástases à distância foram de 65,3% x 49,4% com um follow-up médio de 3,5 anos, conforme dados apresentados na ESMO 2020.

Neste congresso virtual da ASCO 2021, foram apresentados, pela primeira vez, os dados planejados de cross-over dos pacientes que haviam progredido no braço placebo e dos pacientes que haviam progredido no braço de pembrolizumabe, desde que esta progressão tivesse ocorrido após 6 meses do final do tratamento. Nesta parte 2 do estudo, com cut-off em outubro de 2020, foram incluídos 175 pacientes, 155 provenientes do braço placebo e 20 previamente tratados com pembrolizumabe. Destes, 50 e 7, respectivamente, apresentaram progressão passível de nova ressecção. A sobrevida livre de progressão (SLP) mediana após o cross-over foi de 8,5 meses, com 32,2% dos pacientes sem apresentar progressão após 36 meses (33,2% nos pacientes submetidos a nova ressecção e 32,0% nos não ressecados). Daqueles pacientes não ressecados em cross-over, 38,8% apresentaram respostas (CR+PR) e 35% apresentaram doença progressiva. Nos pacientes submetidos à re-exposição ao pembrolizumabe, a SLP mediana foi de 4,1 meses, sendo que a maioria apresentou doença estável ou progressiva por RECIST (89%). O perfil de toxicidade e de iRAEs foi semelhante e comparável aos dados iniciais já publicados do estudo KEYNOTE-054.

 

Crossover and rechallenge with pembrolizumab in recurrent patients from the EORTC 1325-MG/KEYNOTE-054 phase 3 trial, pembrolizumab versus placebo after complete resection of high-risk stage III melanoma. ABSTRACT 9500.
Crossover e re-exposição com pembrolizumabe em pacientes com recorrência no estudo de fase 3 EORTC 1325-MG/KEYNOTE-054, pembrolizumabe versus placebo após ressecção completa de melanoma de alto risco estádio III.

 

Comentários Dr. Rodrigo Perez Pereira:

Mesmo com o estabelecimento, em anos recentes, da adjuvância moderna em melanoma cutâneo estádio III, algumas questões ainda permanecem em aberto. O estudo KEYNOTE-054 foi desenhado com um cross-over planejado, na tentativa de responder a uma destas questões: tratar ‘agora’ ou tratar apenas na recorrência. Os dados apresentados, pela primeira vez, analisando 155 pacientes que realizaram o cross-over (cerca de 52% do total de pacientes que recorreram no braço placebo), bem como dos pacientes que foram re-expostos a tratamento com pembrolizumabe se apresentassem recorrência após 6 meses do final do tratamento adjuvante, permite algumas conclusões: o tratamento com pembrolizumabe, quando realizado na recorrência após placebo, parece oferecer o mesmo benefício do que a monoterapia no tratamento de pacientes com MM estádio IV, no entanto, apenas 52% dos pacientes fizeram o cross-over no estudo, restando o questionamento sobre se e qual tratamento realizaram os demais pacientes. Além disso, nos pacientes submetidos à re-exposição ao pembrolizumabe, os resultados de controle de doença foram considerados pobres e com benefício bastante limitado, sendo esta população ainda carente de um tratamento mais eficaz.

Outra questão importante ainda pendente é a necessidade de biomarcadores que permitam tratar na adjuvância apenas aqueles pacientes que realmente se beneficiarão do tratamento (cerca de 1/5 dos pacientes), evitando toxicidade e custos elevados naqueles que recorrem a despeito do tratamento e naqueles que jamais apresentaram recorrência.

 


 

Neoadjuvância e adjuvância com nivolumabe (NIVO) e anticorpo anti-LAG3 relatlimabe (RELA) para pacientes com melanoma estádio clínico III ressecável

Resumo do artigo:

LAG-3 (Lymphocyte activating gene 3) é um check-point imunológico (ICI) que inibe a atividade das células T e cuja expressão está aumentada em algumas neoplasias, incluindo melanomas. RELA é um anticorpo monoclonal que bloqueia LAG-3 e reestabelece a atividade de células T exauridas e, em estudos pré-clínicos demonstrou atividade sinergística com NIVO.

Neste estudo, 30 pacientes com melanoma cutâneo estádio IIIb/c (AJCC 8ª edição) ressecável, receberam duas infusões de RELA + NIVO, seguidas de cirurgia com avaliação da resposta patológica e tratamento adjuvante com RELA + NIVO por 10 ciclos. O desfecho primário foi a determinação da pCR e os desfechos secundários incluíam: respostas por RECIST 1.1 (ORR), sobrevida livre de recorrência, sobrevida livre de eventos, sobrevida global e segurança. Dos pacientes incluídos, 29 foram submetidos à ressecção cirúrgica, com 59% atingindo pCR, 7% near pCR (major pCR 66%) e 7% partial pCR, além de 27% que não apresentaram resposta patológica (nPR). As respostas radiológicas por RECIST 1.1 atingiram 57% e, segundo os autores, a avaliação radiológica tendeu a subestimar as respostas patológicas. Com cerca de 16 meses de follow up, nenhum dos pacientes que apresentaram major pathologic response (pCR + near pCR) haviam apresentado progressão de doença por RECIST 1.1. A avaliação de segurança não demonstrou eventos adversos relacionados à imunoterapia (iRAEs) importantes e não houve atraso da cirurgia proposta por eventos adversos. Durante o período de tratamento adjuvante, 26% dos pacientes apresentaram iRAEs grau 3, sendo o perfil de toxicidade semelhante às demais combinações.

 

Neoadjuvant and adjuvant nivolumab (nivo) with anti-LAG3 antibody relatlimab (rela) for patients (pts) with resectable clinical stage III melanoma. ABSTRACT 9502.
Neoadjuvância e adjuvância com nivolumabe (NIVO) e anticorpo anti-LAG3 relatlimabe (RELA) para pacientes com melanoma estádio clínico III ressecável.

 

Comentários Dr. Rodrigo Perez Pereira:

A utilização da estratégia de tratamento neoadjuvante vem ganhando espaço crescente na investigação em melanoma, inclusive com o estabelecimento do International Neoadjuvant Melanoma Consortium, que propôs orientações e guidelines para a realização dos estudos de neoadjuvância. Algumas vantagens possíveis desta opção terapêutica incluem uma resposta imune mais robusta pela preservação do microambiente tumoral original, a utilização da resposta patológica completa (pCR) como um surrogate endpoint de desfechos clínicos, além da possibilidade extremamente atraente de podermos usar o tratamento adjuvante posterior ‘sob medida’, isto é, conforme os resultados iniciais da terapia neoadjuvante. Este é mais um dos estudos apresentados em congressos recentes demonstrando o benefício da estratégia neoadjuvante na obtenção de respostas patológicas, tanto completas como maiores, sendo que, dos pacientes que apresentaram o desfecho major pCR, nenhum havia apresentado progressão ao final do prazo de cut-off dos dados desta análise. A toxicidade foi a esperada para uma associação de ICIs, sem novos eventos e com manejo adequado. Uma outra vantagem da abordagem neoadjuvante é permitir a coleta longitudinal de biomarcadores. Neste estudo, houve associação da ocorrência de major pCR com um aumento da expressão de células CD8+ e com uma diminuição de macrófagos M2 imunossupressores.

 


 

Relatlimabe (RELA) mais nivolumabe (NIVO) versus NIVO como primeira linha em melanoma avançado: resultados primários do estudo fase III RELATIVITY-047 (CA224-047)

Resumo do artigo:

LAG-3 (Lymphocyte activating gene 3) é um check-point imunológico que inibe a atividade das células T e cuja expressão está aumentada em algumas neoplasias, incluindo melanomas. RELA é um anticorpo monoclonal que bloqueia LAG-3 e reestabelece a atividade de células T exauridas e, em estudos pré-clínicos demonstrou atividade sinergística com NIVO.

Este é um estudo randomizado, duplo-cego, de fase 2/3, comparando a associação de RELA+NIVO com NIVO em pacientes com melanoma cutâneo metastático ou localmente avançado e irressecável, em tratamento de primeira linha. Os fatores de estratificação incluíam LAG-3, PD-L1, BRAF e o estadiamento clínico pela AJCC 8ª edição. O endpoint primário é a sobrevida livre de progressão (SLP) avaliado por comitê independente (BIRC) e os secundários incluem a sobrevida global (SG) e a melhor resposta (ORR) avaliada pelo BIRC, sendo a análise estatística hierarquizada. Os dados apresentados fazem referência a 365 eventos de SLP, e, neste momento, os dados de SG e ORR permanecem cegados. Com relação à população estudada, a maioria consistia em pacientes com comprometimento M1B/C, cerca de 45% tinham LDH elevada, 75% tinham LAG-3 ≥ 1%, 41% tinham PD-L1 ≥1% e 39% eram positivos para a mutação BRAF V600. A SLP foi de 10,1 meses contra 4,6 meses em favor do braço do tratamento combinado, com uma SLP aos 12 meses de 47,7% e 36,0%, respectivamente, com uma razão de risco (RR) de 0,75 e p = 0,0055. O benefício se estendeu a todos os subgrupos analisados, e a SLP do tratamento combinado foi melhor tanto em pacientes com LAG-3 enriquecido como naqueles com LAG-3 abaixo de 1%, apesar de os números absolutos serem maiores em pacientes com LAG-3 enriquecido. O perfil de toxicidade foi o esperado para a combinação de dois inibidores de check-point imunológicos, sem a ocorrência de novos iRAEs ou aumento significativo da toxicidade.

 

Relatlimab (RELA) plus nivolumab (NIVO) versus NIVO in first-line advanced melanoma: Primary phase III results from RELATIVITY-047 (CA224-047). ABSTRACT 9503.
Relatlimabe (RELA) mais nivolumabe (NIVO) versus NIVO como primeira linha em melanoma avançado: resultados primários do estudo fase III RELATIVITY-047 (CA224-047).

 

Comentários Dr. Rodrigo Perez Pereira:

Desde a publicação dos dados do estudo CheckMate-067, cujos dados de follow up de 6,5 anos foram apresentados nesta edição virtual da ASCO, a combinação de dois agentes inibidores de checkpoint imunológicos (ICIs), como ipilimumabe e nivolumabe tornou-se a primeira escolha para o tratamento de pacientes com melanoma cutâneo metastático, com benefícios clínicos evidentes, a despeito de níveis importantes de toxicidade. A apresentação dos dados iniciais do estudo RELATIVITY-047, da combinação de dose fixa em infusão única de relatlimabe e nivolumabe, em comparação a nivolumabe isolado parece confirmar a superioridade da combinação de agentes ICIs, com dados de SLP de 10,1 meses contra 4,6 meses de nivo isolado. Ainda não estão disponíveis os dados de SG e de respostas, mas a julgar pelos dados conhecidos em melanoma cutâneo metastático, devemos esperar resultados positivos naqueles endpoints em próximas atualizações. A avaliação de toxicidade não demonstrou novos iRAEs preocupantes e os eventos apresentados estiveram dentro do esperado para o uso combinado de ICIs. Ainda, uma análise estratificada de biomarcadores como os níveis de PD-L1 e LAG-3 não conseguiu discriminar o benefício da combinação em SLP. Uma questão levantada durante a discussão do abstract foi sobre o braço controle ter sido Nivo isolado e não a combinação de ipi+nivo, mas não temos uma resposta definitiva para esta escolha. Devemos aguardar o amadurecimento dos dados deste estudo para avaliá-los em comparação, ainda que indireta, com os resultados do estudo CheckMate-047.

 


 

Lifileucel (LN-144), uma terapia de linfócitos infiltradores de tumor (TIL) autólogos criopreservados em pacientes com melanoma avançado: avaliação do impacto do tratamento prévio com anti-PD-1

Resumo do artigo:

Atualmente, os pacientes com melanoma cutâneo metastático (MM) e que apresentam progressão de doença após tratamento inicial com terapia alvo (TA) ou inibidores de check-point imunológico (ICI) apresentam poucas opções de tratamento e com resultados pobres em termos de controle de doença.

Lifileucel é um tratamento com transferência de células T autólogas infiltradoras de tumor, que já havia apresentado dados significativos em pacientes com melanoma cutâneo metastático após falha a ICIs. Nesta apresentação, são avaliados os dados de um estudo de fase 2, multicoorte, com relação ao impacto do tratamento prévio com inibidores PD-1 ou PD-L1 na duração da resposta ao uso de Lifileucel.

Na coorte 2, pacientes com MM que haviam progredido a um ICI ou a TA se fossem BRAF mutados, receberam uma infusão de Lifileucel, que consistiu em média de 27,3 x 109 células. Em média, os pacientes haviam recebido 3,3 tratamentos anteriores, 68% eram BRAF selvagens, 41% tinham LDH elevada e 35% tinham PD-L1 maior do que 5%. Após um follow up médio de 33,1 meses, 36,4% dos pacientes apresentaram resposta, sendo 4,5% de respostas completas e 31,8% de respostas parciais. A duração média de resposta ainda não foi atingida.

Progressão de doença aconteceu inicialmente em 13,6% dos pacientes. Dos pacientes que responderam ao tratamento, 79% haviam recebido tratamento prévio com ipilimumabe e 46% com a combinação anti-CTLA4/anti-PD-1.

Em análise multivariada, não houve associação de resposta com fatores tais como: LDH, ECOG-PS, presença de metástases hepáticas ou em sistema nervoso central e duração do tratamento anterior com ICI. Tanto o nível sérico de LDH como um menor tempo de exposição a tratamento anterior com ICI estiveram associados a uma melhor duração de resposta. A toxicidade esteve dentro dos padrões esperados para o tipo de intervenção, sem novos eventos adversos e de segurança observados.

 

Lifileucel (LN-144), a cryopreserved autologous tumor infiltrating lymphocyte (TIL) therapy in patients with advanced melanoma: Evaluation of impact of prior anti-PD-1 therapy. ABSTRACT 9505.
Lifileucel (LN-144), uma terapia de linfócitos infiltradores de tumor (TIL) autólogos criopreservados em pacientes com melanoma avançado: avaliação do impacto do tratamento prévio com anti-PD-1.

 

Comentários Dr. Rodrigo Perez Pereira:

A infiltração tumoral por linfócitos T, ou tumor infiltrating lymphocytes (TIL), tem correlação com desfechos clínicos favoráveis em uma série de neoplasias avançadas, incluindo melanoma cutâneo metastático. O abstract em questão avalia resultados de resposta (ORR) e duração de resposta (DoR) em pacientes com melanoma cutâneo metastático que haviam progredido a tratamentos anteriores com ICIs ou com terapia alvo, portanto uma população com opções limitadas de tratamento, de infusão de TILs coletados a partir de amostras tumorais ressecadas do próprio paciente (15 mm). O processo terapêutico incluía a coleta, o preparo e a expansão dos TILs, quimioterapia ablativa, seguida pela infusão dos TILs (em média 27,3 x 109 células) e até seis doses de IL-2. Considerando ser esta uma população submetida a vários tratamentos anteriores, as respostas demonstradas (36,4%), com uma DoR ainda não atingida e com um perfil de toxicidade e segurança aceitáveis, tornam esta terapia uma opção viável e interessante em um futuro bastante próximo. Importantemente, a procura por biomarcadores que possam melhor orientar a escolha de pacientes a serem submetidos ao tratamento revelou que os níveis séricos de LDH e um tempo menor de exposição a agentes ICIs estão relacionados a melhores respostas.

 

 

Avaliador científico:

Dr. Rodrigo Perez Pereira
Residência médica em oncologia clínica pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Pesquisador da Unidade de Pesquisa Clínica em Oncologia do HCPA
Líder de Práticas Assistenciais em Tumores Cutâneos do Grupo Oncoclínicas

 

 


 

TK216 para sarcoma de Ewing recidivado/refratário: resultados interinos de fase 1/2

Resumo do artigo:

Considerando as poucas opções de tratamento para os pacientes com sarcoma de Ewing recidivado ou refratário, foi realizado um estudo fase 1/2 que avaliou a droga TK216 (que poderia ser associada à vincristina a partir do ciclo 2), que é a primeira molécula direcionada à translocação característica do sarcoma de Ewing, bloqueando a ligação entre o EWS-FLI1 e a RNA helicase.

Através do desenho 3+3, foram avaliados 32 pacientes submetidos à infusão IV do TK216 na coorte de dose/posologia e 31 pacientes na coorte de expansão da fase 2, com uma mediana de 3 tratamentos prévios e 3,5 anos desde o diagnóstico da doença metastática.

A dose recomendada para a fase 2 (RP2D) foi de 200 mg/m2/dia, durante 14 dias e os eventos adversos mais comuns foram anemia, neutropenia e fadiga, sendo a mielotoxicidade transitória e manejável. A taxa de resposta avaliada nos pacientes que receberam a RP2D mostrou uma taxa de controle da doença de 46,4%, dos quais 7,1% apresentaram resposta completa.

Portanto, o esquema de TK216 + vincristina foi considerado promissor para os pacientes com sarcoma de Ewing, incluindo os pacientes com alto volume de doença e grande número de tratamentos prévios, e deverá ser avaliado em estudos subsequentes.

 

TK216 for relapsed/refractory Ewing sarcoma: Interim phase 1/2 results. ABSTRACT 11500.
TK216 para sarcoma de Ewing recidivado/refratário: resultados interinos de fase 1/2.

 


 

Associação de atraso no tratamento com resultado desfavorável em pacientes com sarcoma de Ewing localizado: análise retrospectiva do estudo GPOH Euro-E.W.I.N.G.99

Resumo do artigo:

O estudo GPOH EURO-E.W.I.N.99 TRIAL randomizou os pacientes para receberem diferentes esquemas de quimioterapia após a realização de 6 ciclos de VIDE, seguida de tratamento local e na ASCO foi apresentada uma análise retrospectiva baseada nos dados desse estudo, com o intuito de entender quais seriam os fatores prognósticos mais relevantes no sarcoma de Ewing localizado.

Nessa análise retrospectiva, foram incluídos 692 pacientes com sarcoma de Ewing localizado submetidos ao tratamento cirúrgico, com uma mediana de 14 dias entre a biópsia e o início da quimioterapia, a realização de cirurgia após 6 ciclos de VIDE em 485 desses pacientes e uma mediana de 17 dias entre a cirurgia e o reinício da quimioterapia.

Na análise retrospectiva, a sobrevida livre de eventos foi superior no subgrupo de pacientes com o início precoce da quimioterapia (<22 dias) quando comparados ao subgrupo de início tardio (>22 dias), após a realização da biópsia inicial. Não houve, no entanto, diferença estatisticamente significativa em relação à sobrevida global (p=0,06).

Em relação ao período entre o término dos primeiros ciclos de VIDE e a cirurgia, a análise mostrou haver uma diferença estatisticamente significativa em sobrevida livre de eventos, quando comparados os pacientes cujo intervalo foi de até 150 dias, com aqueles cujo intervalo foi maior que 150 dias (p=0,01), também sem diferença em relação à sobrevida global. Uma interessante observação foi a de que o atraso para a realização da cirurgia ocorreu com maior frequência em centros de tratamento com menor volume de pacientes com sarcoma.

Por fim, o impacto do atraso do reinício da quimioterapia após a cirurgia (<21 dias vs >21 dias) foi estatisticamente significativo para a sobrevida livre de eventos (p=0,003) e para a sobrevida global desses pacientes (p=0,008) e o atraso foi relacionado às complicações pós-operatórias. Na análise multivariada, o impacto em sobrevida global foi estatisticamente significativo em relação a localização pélvica, baixa resposta à quimioterapia pré-operatória e intervalo entre a quimioterapia e a cirurgia superior a 150 dias. Nessa análise, o atraso para o início da quimioterapia pós-operatória foi estatisticamente significativo apenas para sobrevida livre de eventos.

Dessa forma, concluímos que tanto o atraso para a cirurgia (após a quimioterapia de indução) quanto o atraso para o reinício da quimioterapia são fatores de pior prognóstico no sarcoma de Ewing localizado, o que reforça a premissa de que o manejo desses pacientes deve ser feito idealmente em grandes centros com maior expertise nessa doença.

 

Association of treatment delays with an unfavorable outcome in patients with localized Ewing sarcoma: A retrospective analysis of data from the GPOH Euro-E.W.I.N.G.99 trial. ABSTRACT 11502.
Associação de atraso no tratamento com resultado desfavorável em pacientes com sarcoma de Ewing localizado: análise retrospectiva do estudo GPOH Euro-E.W.I.N.G.99.

 


 

SPEARHEAD-1: Um ensaio clínico de fase 2 de afamitresgene autoleucel (anteriormente ADP-A2M4) em pacientes com sarcoma sinovial avançado ou lipossarcoma mixoide / de células redondas

Resumo do artigo:

Foram apresentados os resultados do estudo fase 2 SPEARHEAD-1, que avaliou a administração de células afamitresgene autoleucel (1-10 x 109 células T transduzidas) após uma quimioterapia linfodepletora, em pacientes com sarcoma sinovial e lipossarcoma mixoide metastáticos, que apresentam HLA-A*02 positivo com tumores que expressam MAGE-A4.

Dentre os 32 pacientes avaliados, foi possível avaliar a eficácia em 25 (23 com sarcoma sinovial e 2 com lipossarcoma mixoide), revelando 2 com resposta completa, 8 com resposta parcial, 11 com doença estável e 4 com progressão de doença.

Os eventos adversos mais comumente observados foram neutropenia, linfopenia, e síndrome da liberação de citocinas, que ocorreu em 19 dos 32 pacientes. Não houve nenhum caso de neurotoxicidade.

Esses resultados demonstram a segurança e a potencial eficácia da terapia celular afamitresgene autoleucel em pacientes com sarcoma sinovial e liposarcoma mixoide metastáticos previamente tratados com diversas linhas.

 

SPEARHEAD-1: A phase 2 trial of afamitresgene autoleucel (Formerly ADP-A2M4) in patients with advanced synovial sarcoma or myxoid/round cell liposarcoma. ABSTRACT 11504.
SPEARHEAD-1: Um ensaio clínico de fase 2 de afamitresgene autoleucel (anteriormente ADP-A2M4) em pacientes com sarcoma sinovial avançado ou lipossarcoma mixoide / de células redondas.

 


 

Estudo de fase III (APROMISS) de monoterapia com cloridrato de AL3818 (catequentinibe, anlotinibe) em indivíduos com sarcoma sinovial metastático ou avançado

Resumo do artigo:

O estudo fase 3 que avaliou o uso da droga AL3818, um inibidor de tirosina-quinase que tem como alvo diversas moléculas como VEGFR, FGFR, PDGFR e c-Kit, nos pacientes com sarcoma sinovial após progressão ao tratamento prévio com esquemas contendo antraciclinas e teve a sua coorte C apresentada na ASCO. Essa coorte corresponde a 79 pacientes, dos quais 52 receberam o AL3818 e 27 receberam dacarbazina como braço controle, cujos resultados mostraram uma diferença na sobrevida livre de progressão de 2,8 (T) versus 1,6 meses (C), estatisticamente significativa (HR 0,449 e IC 0,27 a 0,74), atingindo o endpoint primário. Foram documentados 23% de eventos adversos grau 3 com o AL3818 e 25% com a dacarbazina e o evento mais comum foi diarreia.

 

A phase III study (APROMISS) of AL3818 (catequentinib, anlotinib) hydrochloride monotherapy in subjects with metastatic or advanced synovial sarcoma. ABSTRACT 11505.
Estudo de fase III (APROMISS) de monoterapia com cloridrato de AL3818 (catequentinibe, anlotinibe) em indivíduos com sarcoma sinovial metastático ou avançado.

 

Comentários Dra. Mirella Nardo:

Apesar do resultado estatisticamente significativo, idealmente devemos aguardar os dados de sobrevida global para considerar o benefício clínico dessa droga. Além disso, uma crítica a ser feita ao estudo está relacionada à escolha do braço controle, considerando que a dacarbazina não é uma droga com comprovada atividade nesses pacientes.

 


 

Inibidor de PD-1 em sarcomas de partes moles com estruturas linfoides terciárias: estudo multicêntrico de fase II

Resumo do artigo:

Estudos prévios mostraram baixa atividade dos inibidores de PD-1 para a população geral dos sarcomas de partes moles. No entanto, um potencial preditor de resposta à imunoterapia recentemente descrito corresponde à presença de estruturas linfoides secundárias e essa hipótese foi avaliada pelo estudo PEMBROSARC, apresentado na ASCO.

Esse estudo fase 2 de braço único avaliou a combinação de pembrolizumabe com baixas doses de ciclofosfamida em 35 pacientes com sarcoma de partes moles (dentre 48 identificados), selecionados pela presença de estruturas linfoides terciárias (PEL), dentre um total de 240 pacientes. As histologias mais frequentes foram lipossarcoma, sarcoma pleomórfico indiferenciado e leiomiossarcoma e 40% dos pacientes não haviam sido previamente tratados para a doença metastática.

O endpoint primário de taxa de controle de doença em 6 meses foi alcançado com 40% de sucesso comparado a 4,9% nas coortes prévias sem a seleção por PEL e a sobrevida livre de progressão foi superior (4,1 meses) quando comparada às coortes prévias (1,4 meses). A sobrevida global foi de 18,3 meses (sendo a de coortes prévias de 14,3 meses) e uma importante informação observada na curva de Kaplan-Meier é a presença de um platô a partir dos 18 meses.

A taxa de resposta global foi de quase 50%, sendo que os dados do estudo que avaliou o pembrolizumabe na população geral de sarcomas de partes moles mostraram uma taxa de resposta de 2,3%.

 

PD-1 inhibition in soft-tissue sarcomas with tertiary lymphoid structures: A multicenter phase II trial. ABSTRACT 11507.
Estudo de fase III (APROMISS) de monoterapia com cloridrato de AL3818 (catequentinibe, anlotinibe) em indivíduos com sarcoma sinovial metastático ou avançado.

 

Comentários Dra. Mirella Nardo:

Diante dessa análise prospectiva, o estudo PEMBROSARC sugere que a presença de estruturas linfoides terciárias pode ser um bom marcador preditivo de resposta aos inibidores de checkpoint em pacientes com sarcomas de partes moles.

 

 

Avaliadora científica:

Dra. Mirella Nardo
Residência de Oncologia Clínica pelo ICESP
Oncologista clínica do ICESP e da Rede D’or