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SBOC REVIEW

Veliparibe com carboplatina e paclitaxel em câncer de mama avançado BRCA mutado (BROCADE3): Um estudo fase 3, randomizado, duplo cego, placebo controlado

Resumo do artigo:

Os tumores de mama com mutação dos genes BRCA1 e BRCA2 apresentam deficiência de reparo por recombinação homóloga, o que confere sensibilidade aos inibidores de PARP (iPARP) e às platinas. Estudos prévios demonstraram o benefício de cada droga separadamente no tratamento de pacientes com câncer de mama HER-2 negativo BRCA mutado. Entretanto, nenhum estudo combinou as duas drogas uma vez que existe preocupação quanto ao conceito de resistência cruzada.

O estudo BROCADE3 recrutou pacientes com câncer de mama metastático Her2 negativo com mutação nos genes BRCA 1 ou 2 que receberam até 2 linhas prévias de tratamento sistêmico para doença metastática. Os pacientes foram aleatorizados (2:1) para receber carboplatina (AUC6 no D1) e paclitaxel (80mg/m2 no D1, D8 e D15) a cada 21 dias com veliparibe (120mg via oral 12/12 horas do D2 ao D5 – grupo experimental) ou com placebo (grupo controle). Pacientes sem progressão de doença que apresentaram necessidade de descontinuar carboplatina e paclitaxel poderiam manter veliparibe ou placebo com dose intensificada (300-400mg 12/12 horas) até a progressão ou toxicidade inaceitável. Cross-over era permitido.

O desfecho primário foi SLP, a qual foi definida como tempo entre a randomização até a progressão da doença ou morte por qualquer causa.

Foram incluídas 513 pacientes e 509 compuseram a análise por intenção de tratamento (337 no grupo experimental e 172 no controle). 48% dos pacientes era triplo negativo e 80% estavam na primeira linha de tratamento.

O estudo foi positivo para o desfecho primário: após acompanhamento mediano de 35 meses, a SLP mediana foi de 14,5 meses no grupo de veliparibe versus 12,6 meses no grupo placebo (HR 0,71 [IC 95% 0,57–0,88], p = 0,0016). Em 3 anos, a diferença absoluta em SLP foi de 15% favorecendo o grupo experimental (25,7% vs 10,7%).

Apesar de os dados ainda serem imaturos para sobrevida global, a análise interina pré-planejada demonstrou sobrevida global mediana de 33,5 meses no grupo de experimental versus 28,2 no grupo de controle (HR 0,095, 95% IC 0,73–1,23, p = 0,67). No momento da análise, 44% dos pacientes do grupo controle haviam recebido veliparibe (crossover) como primeira terapia subsequente. Pacientes tratados com veliparibe apresentaram maior número de eventos adversos sérios (34% versus 29%), sendo eles principalmente hematológicos. Não houve mortes relacionadas ao uso de veliparibe.

 

Veliparib with carboplatin and paclitaxel in BRCA-mutated advanced breast cancer (BROCADE3): a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 3 trial. Diéras V, Han HS, Kaufman B, Wildiers H et al. Lancet Oncol. 2020 Oct;21(10):1269-1282. PMID: 32861273.
Veliparibe com carboplatina e paclitaxel em câncer de mama avançado BRCA mutado (BROCADE3): Um estudo fase 3, randomizado, duplo cego, placebo controlado.

 

Comentário da avaliadora científica:

Esse é o primeiro estudo a mostrar benefício de iPARP combinado à platina em pacientes com tumores luminais e triplo negativos BRCA mutado. Diferente dos estudos EMBRACA e OlympiAD que também avaliaram iPARP nesse cenário, o BROCADE3 tinha o braço controle baseado em doublet de platina, que é sabidamente muito efetivo nessa população. A combinação com veliparibe demonstrou ganho em SLP e com respostas mais duradouras em todos os subgrupos. Destaca-se ainda que pacientes com tumores triplo negativo apresentaram SLP em 3 anos de 35.3% no grupo experimental versus 13% no placebo. Portanto, mesmo no subgrupo de pacientes com prognóstico desfavorável um número expressivo continuava em resposta comparado ao placebo.

O estudo traz reflexões quanto ao tratamento dos tumores de mama em pacientes BRCA mutadas e se aproxima das evidências do tratamento das neoplasias de ovário portadoras dessa mesma mutação. Provavelmente, as pacientes com câncer de mama também se beneficiarão de indução com quimioterapia seguido de manutenção com inibidores da PARP. Entretanto, ainda ficam algumas questões que deverão ser respondidas em estudos futuros, como a necessidade de iPARP concomitante à quimioterapia, a quantidade de ciclos de indução necessários e o perfil de paciente que mais se beneficia dessa estratégia.

 

Avaliadora científica:
Dra. Ana Carolina Lima Chaves Veneziani, MD.
Oncologista Clínica da Rede D`OR e do departamento de tumores femininos do Hospital de Base do Distrito Federal.
Residência em oncologia clínica pelo Hospital de Amor de Barretos.