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SBOC REVIEW

[▶ Comentário em vídeo] Disparidades raciais em câncer de mama no Brasil: uma necessidade de intervenção urgente

Comentário em vídeo:

 

Resumo do artigo:

Apesar de já existirem dados nos EUA sobre a diferença de mortalidade entre pacientes negras e brancas com câncer de mama, esse é um dos primeiros estudos populacionais a mostrar essa mesma realidade no Brasil. Neste estudo inovador, a incidência de câncer de mama foi avaliada de 2010 a 2015, por meio de registros brasileiros de câncer de base populacional, incorporando proporções brutas e a variação percentual média anual. Dados clínicos e sociodemográficos de 2000 a 2019 foram obtidos de registros de câncer hospitalares. Os dados de mortalidade de 2000 a 2020 foram provenientes do Sistema Nacional de Informações sobre Mortalidade, comparando mulheres brancas e mulheres negras.

Foram notificados 70.896 novos casos de câncer de mama de 2010 a 2015. A taxa de incidência mediana da doença foi notavelmente mais alta para as mulheres brancas (101,3 por 100.000) em comparação com as mulheres negras (59,7 por 100.000). Na população geral, ao longo de um período de seis anos, não houve variações significativas na incidência de câncer de mama entre mulheres brancas e negras.

No entanto, uma análise minuciosa comparativa entre os dois grupos raciais revelou desigualdades consideráveis nos fatores sociodemográficos e clinicopatológicos, favorecendo as mulheres brancas em relação às negras. As mulheres negras foram mais propensas a viverem em áreas subdesenvolvidas, a ter níveis de escolaridade mais baixos, a viverem sem parceiros e a terem níveis mais elevados de consumo de álcool, em comparação com as mulheres brancas.

Além disso, uma proporção maior de mulheres negras recebeu diagnóstico em estágio avançado (60,1% x 50,6%, p<0,001). Essas disparidades parecem explicar um aumento anual 3,83 vezes maior na taxa de mortalidade entre mulheres negras em comparação com as brancas ao longo de duas décadas.

 

Comentário do avaliador científico:

Este estudo sublinha a necessidade de políticas específicas para abordar as disparidades no acesso à detecção precoce e aos tratamentos adequados, especialmente para mulheres negras em regiões desfavorecidas, visando melhorar as taxas de sobrevivência das mulheres brasileiras com câncer de mama.

Vale ressaltar que, além dos já citados fatores socioeconômicos, tais disparidades nos desfechos em câncer de mama, podem ser influenciados por vieses implícitos entre os profissionais de saúde e entre pacientes, impactando em qualidade da comunicação, investigação clínica e decisões de tratamento para pacientes vulneráveis. No Brasil, a insatisfação com a assistência à saúde e hospitalização foram observados em 12,2% dos pacientes brancos e 17,4% de pacientes pretos e pardos. Indivíduos negros que procuravam os serviços de saúde tinham duas vezes mais probabilidade de não receberem assistência se comparados com indivíduos brancos.

Tais resultados ressaltam a urgência da implementação de políticas de saúde pública mais efetivas e da alocação adequada de recursos para o rastreamento, prevenção e tratamento do câncer de mama no Brasil, visando reduzir as disparidades raciais e melhorar os desfechos de saúde para todas as pacientes afetadas pela doença. Diante desse cenário, é mandatório viabilizar políticas públicas mais inclusivas e específicas, juntamente com investimentos em programas de conscientização, detecção precoce e tratamento.

Uma abordagem abrangente e sensível às questões raciais e sociodemográficas na prestação de cuidados oncológicos é vital para alcançar desfechos positivos e melhorar a qualidade de vida das mulheres negras afetadas pelo câncer de mama no Brasil. O estudo representa um apelo urgente à ação para enfrentar as disparidades raciais e promover a igualdade no acesso a serviços de saúde de alto padrão para todas as mulheres brasileiras.

Em resumo, o estudo enfatiza a importância crucial de abordar as disparidades raciais em câncer de mama, visando garantir um acesso equitativo a serviços de saúde de qualidade e diminuir as taxas de mortalidade entre mulheres negras no país.

Os achados completos estão disponíveis no respeitado periódico Breast Cancer Research and Treatment, tendo o oncologista clínico Dr. Jessé Lopes da Silva como investigador principal e a oncologista clínica Dra. Andréia Cristina de Melo como autora sênior deste relevante estudo. Além dos já mencionados da Silva e Melo, colaboraram neste estudo os pesquisadores Lucas Zanetti de Albuquerque, Mariana Espírito Santo Rodrigues e Luiz Claudio Santos Thuler.

 

Citação: da Silva, J.L., de Albuquerque, L.Z., Rodrigues, M.E.S. et al. Ethnic disparities in breast cancer patterns in Brazil: examining findings from population-based registries. Breast Cancer Res Treat (2024). https://doi.org/10.1007/s10549-024-07314-w https://link.springer.com/article/10.1007/s10549-024-07314-w

 

Avaliador científico:

Dra. Abna Vieira

Residência em Oncologia Clínica pela Fundação ABC – Santo André/SP

Oncologista Clínica no Grupo Oncoclínicas – São Paulo/SP

Membro do Grupo de Pesquisa em Saúde da População Negra da FMUSP.

Cidade de atuação: São Paulo/SP

 

Autoria do artigo:

Dr. Jessé Lopes da Silva

Residência em Oncologia Clínica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) – Rio de Janeiro/RJ

Oncologista pesquisador no INCA

Oncologista assistente no Grupo Oncoclínicas

Cidade de atuação: Rio de Janeiro/RJ