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[▶ Comentário em vídeo] Terapia alvo adjuvante em câncer de pulmão não pequenas células ALK positivo
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Resumo do artigo:
O tratamento do câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) em estágios iniciais está em constante evolução devido à caracterização molecular da doença. Cerca de 4 a 5% dos pacientes com CPCNP apresentam tumores com rearranjo do gene ALK (ALK positivo). Tal alteração se associa mais frequentemente a pacientes jovens, não tabagistas e a maior chance de metástases em sistema nervoso central (SNC). Quando recomendado, o tratamento adjuvante com quimioterapia à base de platina é o padrão no CPCNP com doença ressecável ALK positivo (embora resultados pouco expressivos em melhora de sobrevida).
O ALINA é um estudo de fase III, randomizado, que avaliou pacientes com CPCNP ALK positivo, em estágio IB (tumores ≥4 cm), II e IIIA conforme a 7ª edição AJCC (pela 8ª edição correspondem aos estádios II a IIIB), para receber alectinibe oral (inibidor de tirosina quinase de 2ª geração) ou quimioterapia combinada à base de platina.
O desfecho primário do estudo foi sobrevida livre de doença (SLD) e os desfechos secundários eram sobrevida global, segurança e sobrevida livre de doença em sistema nervoso central.
Participaram deste estudo 257 pacientes com CPCNP ALK positivo em estágios IB a IIIA completamente ressecados que foram randomizados para receber alectinibe oral (600 mg duas vezes ao dia) por 24 meses ou quimioterapia endovenosa à base de platina (cisplatina combinada a vinorelbine, gencitabina ou pemetrexede) por quatro ciclos a cada 21 dias. O estudo foi multicêntrico, com características clínicas bem equilibradas entre os grupos. Nenhum paciente no estudo recebeu radioterapia neoadjuvante ou pós-operatória.
Em pacientes com doença em estágio II a IIIA o percentual de pacientes vivos e livres de doença em 2 anos foi de 93,8% no grupo de alectinibe e 63,0% no grupo de quimioterapia (HR para recorrência da doença ou morte 0,24; intervalo de confiança (IC) de 95% 0,13 – 0,45; p < 0,001). Na população com intenção de tratar, que incluía também os pacientes com estágio IB, os resultados foram de 93,6% de sobrevida livre de doença em 2 anos com a terapia alvo e 63,7% com a quimioterapia, mantendo um HR de 0,24 (IC 95%, 0,13 – 0,43; P<0.001), sendo o benefício mantido em todos os subgrupos avaliados. Em relação à recidiva de doença, o local mais comum foi o cérebro e o alectinibe foi associado a um benefício clinicamente significativo em SLD no SNC em comparação com a quimioterapia (HR para recorrência ou morte de 0,22; IC 95%, 0,08 – 0,58). Os dados de sobrevida global ainda são imaturos.
O tratamento com alectinibe, em geral, foi bem tolerado, com perfil de segurança consistente com outros estudos com a droga no cenário da doença avançada. Os eventos adversos mais comuns foram elevação de CPK (43%) e constipação (42,2%) e não houve evento fatal relatado. Os eventos adversos levaram à redução de dose de alectinibe em 25,8% dos pacientes, e a descontinuação precoce da terapia adjuvante com alectinibe ocorreu em 5,5% e em 12,5% no grupo de quimioterapia.
Este estudo, portanto, mostrou que o uso adjuvante de alectinibe em pacientes com CPCNP ALK positivo ressecado mostrou um ganho significativo em sobrevida livre de doença e bom perfil de tolerância.
Comentário do avaliador científico:
O alectinibe é um inibidor potente da quinase do linfoma anaplásico (ALK) com resultados expressivos em pacientes com CPCNP ALK positivo com doença avançada. Com as recentes mudanças na abordagem do tratamento adjuvante e o grande potencial da terapia alvo em alterações moleculares acionáveis, havia uma necessidade ainda não atendida no subgrupo dos pacientes ALK positivos com doença inicial. O estudo ALINA é o primeiro estudo fase III que respalda o uso de inibidores de ALK na adjuvância, demonstrando ganhos significativos em sobrevida livre de doença.
No entanto, há questões que merecem discussão, como o tempo necessário de adjuvância e a necessidade de acompanhamento a longo prazo, pois não há dados maduros de sobrevida global. Além disso, a quimioterapia adjuvante, apesar de apresentar resultados modestos, tem evidência de melhora na sobrevida global, portanto o trabalho não responde se há algum perfil de pacientes que poderia se beneficiar de estratégia sequencial com quimioterapia e terapia alvo.
Por fim, o estudo reforça a importância da realização de testes moleculares em cenários mais precoces da doença, representando uma importante estratégia de tratamento em pacientes ALK positivos, embora ainda necessite de aprovação no Brasil.
Citação: Wu YL, Dziadziuszko R, Ahn JS, Barlesi F, Nishio M, Lee DH, Lee JS, Zhong W, Horinouchi H, Mao W, Hochmair M, de Marinis F, Migliorino MR, Bondarenko I, Lu S, Wang Q, Ochi Lohmann T, Xu T, Cardona A, Ruf T, Noe J, Solomon BJ; ALINA Investigators. Alectinib in Resected ALK-Positive Non-Small-Cell Lung Cancer. N Engl J Med. 2024 Apr 11;390(14):1265-1276. doi: 10.1056/NEJMoa2310532. PMID: 38598794.
Avaliador científico:
Dra. Simone Klug Loose
Residência em Oncologia Clínica pelo A.C.Camargo Cancer Center – São Paulo/SP
Oncologista Clínica na DASA Oncologia – São Paulo/SP
Cidade de Atuação: São Paulo/SP
Análise realizada em colaboração com o oncologista sênior Dr. Tiago Kenji Takahashi.