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SBOC REVIEW

[▶ Comentário em vídeo] Nova terapia para câncer de ovário platino-resistente FRα-positivo (MIRASOL Trial)

Comentário em vídeo:

Resumo Do Artigo:

O câncer epitelial de ovário é o câncer ginecológico com a maior mortalidade no mundo. Mesmo com os avanços da medicina, a sobrevida relativa destas pacientes em 5 anos é de aproximadamente 50%. O desafio do tratamento de neoplasia de ovário metastático ou recidivado aumenta quando se torna resistente ao tratamento com platinas. Em estudos de fase 3 mais recentes, a exemplo do AURELIA, foram demonstrados benefícios em sobrevida livre de progressão e de taxa objetiva de resposta na associação de bevacizumabe com quimioterapia sem platina, em comparação a quimioterapia sem platina isolada. No entanto, não houve benefício de sobrevida global.

O SORAYA, um estudo de fase 2, braço único, publicado na Journal of Clinical Oncology em 2023, demonstrou a eficácia e segurança do anticorpo droga-conjugado direcionado ao receptor de folato α (FRα), o mirvetuximabe soravtansina (MIRV).

Este receptor é um biomarcador comumente superexpresso em carcinomas de ovário. Diante disso, o estudo MIRASOL avaliou a eficácia e a segurança do MIRV em comparação a quimioterapia em pacientes com neoplasia de ovário resistentes a platina.

Trata-se de um estudo fase 3, controlado, com 453 pacientes que foram randomizados 1:1, onde um braço correspondia a pacientes que fizeram o uso do MIRV, na dose de 6 mg/kg a cada 3 semanas, e o outro braço era composto por pacientes que foram submetidos à quimioterapia pela escolha do examinador (paclitaxel, doxorrubicina peguilato lipossomal ou topotecano). Os critérios de inclusão consistiam em: pacientes com neoplasia epitelial de ovário, de histologia serosa de alto grau, resistentes a platina, 1 a 3 linhas de tratamento prévio e alta expressão de FRα (2+ pela imunohistoquímica). Foi permitido o uso prévio de Bevacizumabe e inibidores de PARP, bem como pacientes com BRCA mutado.

O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) pelo investigador, e desfechos secundários consistiram em resposta objetiva de acordo com o investigador (considerando o RECIST), sobrevida global (SG), segurança e tolerabilidade, duração de resposta, resposta do CA 125 e SLP secundário.

O estudo demonstrou uma maior SLP no grupo do MIRV, com a mediana de 5,62 meses (IC 95%, 4,34 a 5,95), em comparação ao grupo de quimioterapia, com a mediana de 3,98 meses (IC 95%, 2,86 a 4,47). A porcentagem de pacientes com taxa de resposta também foi maior no grupo do MIRV 42,3% (IC 95%, 35,8 a 49,0) e 15,9% no outro grupo (IC 95%, 11,4 a 21,4). Houve um aumento de 33% (HR 0,67; IC 95%, 0,5 – 0,89, P= 0,005) de SG no grupo do MIRV, em comparação ao grupo controle, sendo a mediana de meses de 16,46 versus 12,75, respectivamente (IC 95%, 14,46 – 24,57) e (IC 95%, 10,91 – 14,36).

Foram reportados que cerca de 96,3% dos pacientes do grupo do MIRV tiveram eventos adversos, contra 93,7% do grupo da quimioterapia. Os eventos adversos mais comuns a serem relatados no primeiro grupo foram turvação da visão (40,8%), queratopatia (32,1%), dor abdominal e fadiga (ambos em 30,3% dos pacientes). No entanto, apesar dos eventos adversos serem mais frequentes no grupo do MIRV, eles foram mais graves no grupo da quimioterapia, sendo que eventos grau 3 ocorreram em 41,7% contra 54,1%, respectivamente.

Em conclusão, este estudo demonstrou benefício no uso do MIRV em pacientes portadoras de neoplasia de ovário avançado e resistentes a platina, permitindo aumento de sobrevida livre de progressão e sobrevida global em comparação a quimioterapia.

 

Comentário do avaliador científico:

Diante do desafio do tratamento de pacientes com neoplasia de ovário resistentes a platina, o estudo MIRASOL confirmou a eficácia do uso do MIRV nessas pacientes com o FRα com alta expressão. O estudo demonstrou um aumento de sobrevida livre de progressão e de sobrevida global, diferentemente de outros estudos para esse tipo de paciente.

Além disso, evidenciou que a medicação causava eventos adversos mais facilmente manejáveis em comparação a quimioterapia tradicional, sendo principalmente eventos oculares.

O MIRASOL demonstrou também que houve benefício no uso do MIRV em pacientes que já foram expostas ao bevacizumabe e aos inibidores da PARP, 60,8% e 54,6% da população que utilizou a medicação, respectivamente.

Sendo assim, o MIRV torna-se uma interessante opção para o tratamento neste cenário desafiador, com bons resultados e segurança adequada.

 

CITAÇÃO: Kathleen N. Moore, et al. December 7, 2023. N Engl J Med 2023; 389:2162-2174. DOI: 10.1056/NEJMoa2309169

 

Avaliador científico:

Dra. Luciana Freire de Almeida dos Anjos

Residência em Oncologia Clínica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Oncologista Clínica no Centro de Oncologia da Unimed Sergipe e na OncoRadium Sergipe