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SBOC REVIEW

ASCO 2018 – Tumores de Cabeça e Pescoço

Abstract 1 – J. D. Cramer. Treatment deintensification to surgery only for stage I human papillomavirus-associated oropharynxgeal cancer. Nº 6003

Esse estudo retrospectivo com dados de 2.463 pacientes (NATIONAL CANCER DATA BASE) descreveu e comparou a sobrevida de acordo com o tratamento em população de melhor prognóstico – carcinoma de orofaringe estádio I, baixo risco (sem metástase linfonodal, margem cirúrgica livre) e intermediário (2-4 linfonodos positivos, margem microscopicamente comprometida, invasão angiolinfática). A sobrevida global (SG) em 4 anos foi a mesma para os pacientes de baixo risco submetidos somente à cirurgia (93%), tratamento adjuvante com radioterapia (95,6%) ou quimioterapia +radioterapia (93%). De forma análoga, não há diferença de SG na população de risco intermediário submetidos à cirurgia (92,2%), radioterapia adjuvante (93,3%) ou quimiorradioterapia (93,2%). Esses dados se sustentam em análise multivariada em ambas as populações de risco baixo ou intermediário.

Comentário: A adição de radioterapia e quimioterapia após cirurgia não adiciona benefício de sobrevida em população selecionada – carcinoma de orofaringe HPV+ de baixo e intermediário risco, guardadas as limitações de se tratar de estudo retrospectivo. Oferece, portanto, subsídio para desenho de estudos prospectivos que contemple desintensificação do tratamento no contexto de carcinoma de cabeça e pescoço HPV+ de melhor prognóstico na busca por menor toxicidade relacionada ao tratamento, aliado à preservação da elevada taxa de sobrevida.

Abstract 2 – D.P. Zandberg, Definitive cetuximab-based (CRT-CX) vs. non-cetuximab based chemoradiation (CRT) in older patients with squamous cell carcinoma of the head and neck (HNSCC): Analysis of the SEER-Medicare linked database. Nº 6001

Esse estudo retrospectivo analisou dados de sobrevida global (SG) de 2.135 pacientes idosos com carcinoma de cabeça e pescoço submetidos a radioterapia + quimioterapia (QT/RT), radioterapia + cetuximabe (CTX/RT) e radioterapia isolada (RT). Os pacientes exibiam idade mediana de 73 anos (66-104) e a maioria compreendia tumores de orofaringe. A comparação revela que RT/QT se correlacionou com maior SG mediana em comparação a RT/CTX (4,5 versus 2,5 anos; p<0,05), tal como similar SG para os grupos RT/CTX versus RT isolada (2,5 versus 2,2 anos; p 0,21). Tanto RT/CTX quanto RT/QT apresentaram taxa de toxicidade semelhantes, à exceção de hipoacusia nos 3 meses após tratamento, maior no grupo RT/QT (9.3% versus 4.1%, p < 0.001).

Comentário: Estudo relevante no sentido de oferecer informação referente à população sub-representada nos estudos clínicos – idosos com carcinoma de cabeça e pescoço submetidos a tratamentos mais intensivos. A despeito da limitação dos dados retrospectivos e ausência de estudo prospectivo direcionado à população idosa que favoreça tratamentos mais intensivos, a diferença favorável para SG e similar toxicidade a favor de RT/QT aponta na direção de considerar tratamento concomitante de RT/QT na população idosa, desde que bem selecionada; idoso saudável e com boa reserva funcional/performance status.

Abstract 3 – V. M. Patil, Results of a randomized phase III study of nimotuzumab in combination with concurrent radiotherapy and cisplatin versus radiotherapy and cisplatin alone, in locally advanced squamous cell carcinoma of the head and neck. Nº 6000

Esse estudo de fase III avaliou prospectivamente o impacto da adição do anticorpo monoclonal nimotuzumabe (NMTZ) ao esquema de tratamento com radioterapia + quimioterapia em pacientes com carcinoma de cabeça e pescoço localmente avançados EC III e IV e bom performance status - KPS>70. No total, 536 pacientes foram randomizados 1:1 para tratamento “padrão” com radioterapia concomitante à cisplatina semanal (30mg/m2) versus quimio e radioterapia + NMTZ na dose de 200mg. Os dados de eficácia cumpriram o objetivo primário de ganho de sobrevida livre de progressão a favor de NMTZ (SLP em 2 anos 58,9% versus 49,5%, HR=0,74; p=0,02 IC 95%), tal como objetivos secundários, a saber o controle locorregional e sobrevida livre de doença, contudo sem ganho de sobrevida global (SG). Importa que as toxicidades grau 3 a 5 foram similares entre os 2 braços, à exceção de maior incidência de mucosite no braço NMTZ (66,7% x 55,8% p=0,01).

Comentário: A adição de nimotuzumabe ao esquema de concomitância com radioterapia + cisplatina apresenta ganhos clinicamente relevantes com relação a SLP em 2 anos e com ganho na SLP mediana da ordem de 39 meses (60,3 versus 21 meses), além do impacto no controle locorregional. Esquema semanal de quimioterapia com cisplatina e dados imaturos para SG são algumas das limitações do estudo, mas não o invalidam. Nimotuzumabe revela-se, portanto, anticorpo eficaz e seguro a ser incorporado no arsenal do tratamento do carcinoma localmente avançado de cabeça e pescoço.

Abstract 4 – Carryn M. Anderson, Results of a randomized, placebo (PBO) controlled, double-blind P2b trial of GC4419 (avisopasem manganese) to reduce duration, incidence and severity and delay onset of severe radiation-related oral mucositis (SOM) in patients (pts) with locally advanced squamous cell cancer of the oral cavity (OC) or oropharynx (OP). No 6006

Radioterapia associada à quimioterapia com cisplatina constitui o padrão de tratamento para o carcinoma localmente avançado de cavidade oral (CO) e orofaringe (OR), contudo exibe elevada toxicidade, especialmente mucosite oral >G3 e consequente enorme impacto sobre deglutição e qualidade de vida. O estudo em questão acessa a capacidade da substância GC4419 impactar sobre a mucosite oral relacionada ao tratamento ao competir com a superóxido desmutase e reduzir a concentração de superóxido por meio da conversão do mesmo em água + O2, reduzindo, portanto, a mucosite oral. O estudo randomizou 223 pacientes com carcinoma de CO e OR em tratamento com radioterapia concomitante à cisplatina para receberem placebo ou GC4419 numa proporção 1:1. No que diz respeito à eficácia, o tratamento com GC4419 reduziu o tempo de mucosite (desfecho primário) e o tempo para início de mucosite, sem que determinasse incremento de toxicidade.

Comentário: Esse estudo merece destaque devido à necessidade de se reduzir o impacto e incidência da mucosite oral, toxicidade frequente e limitante relacionada ao tratamento de carcinoma de orofaringe e cavidade oral tratados conforme preconizado pela literatura – cisplatina + radioterapia de intensidade modulada (IMRT).

Dr. Felipe Roitberg
Médico oncologista do Hospital Sírio-Libanês e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) - Grupo de Tumores Torácicos e Cabeça e Pescoço