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SBOC REVIEW

Benefício em sobrevida global de Osimertinibe em câncer de pulmão de não pequenas células ressecado com mutação do EGFR

Resumo do artigo:

Aproximadamente 30% dos pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) se apresentam com doença ressecável. Neste cenário, o tratamento padrão consiste na cirurgia, seguida de tratamento adjuvante, em pacientes selecionados. Contudo, a taxa de recidiva permanece elevada, variando de 30% a 70% no estágio IB e IIIA, respectivamente. Mutações no EGFR são o segundo driver oncogênico mais comum e sua prevalência globalmente varia de 10-50% (Brasil 10-25%). Nesse grupo, o risco de recidiva é ainda maior.

O estudo ADAURA, publicado previamente no NEJM em 2020, avaliou o uso de osimertinibe (um inibidor de EGFR de terceira geração) como tratamento adjuvante em pacientes com ressecção primária completa. O estudo randomizou 682 pacientes aleatoriamente em dois braços (1:1), em diferentes centros do mundo. Um dos braços (339 pacientes) recebeu osimertinibe 80 mg 1 vez ao dia por 3 anos e o outro braço (343 pacientes) recebeu placebo. Nesta análise primária, houve ganho significativo na sobrevida livre de doença (SLD) e menor taxa de recidiva locorregional e à distância, incluindo menos recidivas no sistema nervoso central.

Trata-se de um estudo de fase 3, randomizado, duplo-cego, incluindo pacientes com estágios IB a IIIA de acordo com a sétima classificação da AJCC, com a presença de mutações ativadoras de EGFR (deleções do exon 19 ou L858R). A quimioterapia adjuvante era permitida, a critério do investigador.

A publicação atual traz a análise final de sobrevida global (SG), com tempo mediano de acompanhamento de 60 meses. O desfecho primário era SLD entre os pacientes com estágios II e IIIA e os desfechos secundários SLD na população geral (IB-IIIA), SG, segurança e qualidade de vida.

Nesta análise com 21% de maturidade, o uso de Osimertinibe adjuvante levou a ganho de SG entre os pacientes com estágios II e IIIA (HR 0,49; IC 95% 0,33 – 0,73; p<0,001), bem como na coorte geral (HR 0,49; IC 95% 0,34 – 0,70; p<0,001), com taxas estimadas de SG em 5 anos de 85% e 88%, respectivamente, comparado com 73% e 78% no grupo placebo. A mediana de SG não foi atingida em ambos os braços. O benefício foi observado em todos os subgrupos analisados, sendo mais pronunciado entre pacientes com doença avançada (estágio IIIA). Tal benefício foi visto independente do uso de quimioterapia adjuvante.

Não foram identificadas novas toxicidades, além das observadas previamente. No que tange aos tratamentos subsequentes, 22% dos pacientes alocados no braço osimertinibe e 54% no braço placebo, receberam outras terapias, sendo em sua maioria TKIs inibidores do EGFR. Assim, no braço intervenção 41% dos pacientes recebeu osimertinibe na progressão, enquanto no braço placebo, 43% recebeu tal medicação. O tempo mediano para primeiro tratamento subsequente ou morte no grupo osimertinibe não foi atingido e, em 5 anos, 70% dos pacientes não iniciou novo tratamento. Ao passo que, no grupo placebo, o tempo mediano foi 34.7 meses (IC 95% 28,8 – 44,6). Dessa forma, o HR para primeira terapia subsequente ou morte na população geral foi de 0.28 (IC 95% 0,22 – 0,35).

Por fim, este estudo demonstrou que a terapia com osimertinibe adjuvante nos pacientes com CPNPC ressecado com mutação EGFR levou a ganho de sobrevida global e benefício clínico.

 

Comentário do avaliador científico:

Osimertinibe é o primeiro inibidor de EGFR a demonstrar ganho em sobrevida global no cenário adjuvante de pacientes com CPNPC ressecado. Nesse sentido, a inibição do EGFR consolida-se como novo padrão na adjuvância nos estágios IB – IIIA e reforça a relevância da caracterização molecular de tais pacientes na doença localizada.

Tal benefício foi observado independente do uso de quimioterapia. Entretanto a maior parte dos pacientes que não recebeu esse tratamento, eram de estágios mais precoces. Assim, a abolição da quimioterapia adjuvante, quando indicada, para pacientes EGFR mutados, não deve ser adotada de forma padrão.

É importante ressaltar, que no braço placebo, apenas 43% dos pacientes recebeu osimertinibe na progressão, um tratamento já estabelecido como padrão.

Estudos futuros devem elaborar melhor os mecanismos de resistência dessa terapia e auxiliar no tratamento pós progressão. Outro ponto de destaque é a aplicação de biomarcadores de doença residual mínima que possam auxiliar o clínico na tomada de decisões e tempo de tratamento.

Como perspectivas, o estudo randomizado comparando osimertinibe adjuvante com placebo em pacientes CPNPC inicial ressecado (estádios IA2 e IA3) está em andamento (ADAURA2), além da sua avaliação no cenário neoadjuvante (NeoADAURA).

Citação: Tsuboi M, Herbst RS, John T, et al. Overall Survival with Osimertinib in Resected EGFR-Mutated NSCLC. N Engl J Med. Published online on June 4, 2023. DOI: 10.1056/NEJMoa2304594

Avaliador científico:
Dra Sofia Vidaurre Mendes
Residência Médica em Oncologia Clínica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP – ICESP)
Título de Especialista em Oncologia Clínica pela SBOC
Oncologista Clínica – Oncologia D’or Rio de Janeiro/RJ