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SBOC REVIEW

Dados de mundo real sugerem que a avaliação geriátrica falha em estratificar o risco no tratamento de adultos mais velhos com câncer de pulmão

Resumo do artigo:

Neste estudo retrospectivo, foram incluídos pacientes com idade superior a 70 anos de idade e portadores de câncer de pulmão de células não pequenas tratados com quimioterapia paliativa ou terapia alvo de primeira geração e que foram submetidos a avaliação geriátrica. Foram avaliados quanto os fatores prognósticos para sobrevida global, com intuito de determinar o impacto prognóstico da avaliação geriátrica.

A população do estudo incluiu 54 pacientes com idade mediana de 76 anos. Destes, 76% foram classificados como Katz A e 50% como Lawton <27. Risco de desnutrição ou desnutrição foi encontrado em 68,5% dos pacientes e 61,1% tinham mais que duas comorbidades. O índice mediano de comorbidade de Charlson ajustado para a idade foi de 10 e 48% apresentavam polifarmácia (uso de ≥ 5 medicamentos).

Em relação à doença oncológica, 26 pacientes tinham pelo menos 2 sítios metastáticos. O sistema nervoso central foi afetado em 7,5% dos casos e o fígado em 9,3%.

Na avaliação do tratamento, 79,6% dos pacientes realizaram quimioterapia e os demais receberam terapia com inibidor de tirosina quinase.

A sobrevida global mediana foi de 17,1 meses. Na análise univariada, menores resultados de sobrevida foram observados para pacientes com ECOG ≥ 2 (RR 5,9; p <0,001), mais de 2 de sítios de metástases (RR 2,0; p = 0,04) e metástases hepáticas (RR 12,6; p <0,001). Na análise multivariada, sexo masculino, ECOG ≥ 2, mais de 2 locais metastáticos e metástases hepáticas foram associados a maior risco de morte. Não foi observada diferença entre os pacientes classificados de acordo com a pior capacidade funcional (Katz não A) na análise univariada ou multivariada (RR 1,6; p = 0,18 e RR 0,64; p = 0,25, respectivamente). Dessa forma, a avaliação geriátrica não mostrou relação prognóstica neste estudo e pacientes com ECOG ≥ 2, mais de 2 sítios metastáticos e metástases hepáticas apresentaram maior risco de morte.

 

Donadio MDS, Oliveira ACF, Moura LL, Jesus VHF, Felismino TC, Dettino ALA. Real-world data suggest that geriatric assessment fails to stratify risk in treating older adults with lung cancer. Braz J Oncol. 2021;17:e-20210030.
Dados de mundo real sugerem que a avaliação geriátrica falha em estratificar o risco no tratamento de adultos mais velhos com câncer de pulmão.

 

Comentário do avaliador científico:

Apesar da falta de formalização na avaliação da qualidade de vida e da utilização do conceito menos amplo de avaliação geriátrica, os dados encontrados neste estudo corroboram estudo de fase 3 multicêntrico que também não encontrou impacto prognóstico da capacidade funcional na sobrevida de idosos com câncer de pulmão.

Esses resultados não minimizam a importância da avaliação geriátrica, e reforçamos que a assistência ideal ao paciente exige uma avaliação geriátrica mais ampla, avaliando e cuidando das comorbidades e da nutrição dos pacientes, sempre levando em consideração os riscos da polifarmácia, com personalização e individualização dinâmica de tratamentos que possam proporcionar uma melhor qualidade da vida.

Uma vez que a avaliação geriátrica provou ser uma ferramenta insuficiente para selecionar o tratamento sistêmico com terapias mais obsoletas contra câncer de pulmão, promover amplo acesso a novos testes prognósticos e preditivos e terapias modernas poderia permitir menor toxicidade com ganho em sobrevida e qualidade de vida para esta população frágil.

 

Avaliador científico:

Dr. Mauro DS Donadio
Oncologista clínico pelo AC Camargo Cancer Center
Oncologista clínico no AC Camargo Cancer Center