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SBOC REVIEW

Descalonamento neoadjuvante com Trastuzumabe-Emtansina com ou sem terapia endócrina versus trastuzumabe com terapia endócrina em câncer de mama inicial RH+/HER2+: 5 anos de sobrevida no estudo WSG-ADAPT-TP

Resumo do artigo:

O câncer de mama inicial com superexpressão HER2, embora apresente maior agressividade em relação aos tumores HER2 negativo, demonstra maiores taxas de cura com o tratamento padrão de quimioterapia associada à terapia anti-HER2. Devido à alta taxa de resposta previamente demonstrada em outros estudos, há interesse crescente em relação à possibilidade de descalonamento de tratamento neste subtipo molecular, com objetivo principalmente de redução de toxicidade.

O estudo de fase II WSG-ADAPT-TRIAL-TP foi publicado inicialmente em 2017, apresentando agora atualização de dados de sobrevida de 5 anos. Foram randomizadas 375 pacientes com diagnóstico de câncer de mama estágio clínico I a III, HER2 positivo e receptor hormonal positivo.

As pacientes foram randomizadas na proporção de 1:1:1 em 3 braços: braço A recebeu T-DM1 isolado, o braço B recebeu T-DM1 associado à terapia endócrina e o braço C recebeu trastuzumabe associado à terapia endócrina. O protocolo de tratamento do T-DM1, em ambos os braços, foi de 3,6 mg/kg a cada 3 semanas, por 4 ciclos, e o trastuzumabe foi com dose de ataque de 8 mg/kg no primeiro ciclo e 6 mg/kg nos 3 ciclos subsequentes a cada 21 dias. A terapia endócrina recomendada foi tamoxifeno nas pacientes pré-menopausa e inibidor de aromatase nas mulheres pós-menopausa.

O desfecho primário de taxa de resposta patológica completa (RPC) (ypT0/is/ypN0) havia sido publicado em 2017. No braço A houve taxa de 41% (48/117), no braço B de 41,5% (51/123) e no braço C 15,1% (18/119) das pacientes, após 12 semanas de tratamento neoadjuvante.

Na atualização de dados de seguimento com mediana de 5 anos publicados em 2023, foram reportados os desfechos secundários de sobrevida e análise de biomarcadores. Em relação à taxa de sobrevida livre de doença invasiva (SLDi), no braço A houve taxa de 88,9% (IC 95% 81,2 – 93,5), no braço B 85,3% (IC 95% 77,3 – 90,6) e no braço C 84,6% (IC 95% 76,3 – 90,2), p=0,448. Os dados de sobrevida global (SG) também não demonstraram diferença significativa: 97,2% (IC 95% 91,5 – 99,1) no braço A, 96,4% (IC 95% 90,7 – 98,6) no braço B e 96,3% (IC 90,3 – 98,6) no braço C, p=0,671.

A RPC demonstrou associação com melhor SLDi. Comparando-se as 117 pacientes que apresentaram RPC e as 241 que não atingiram esse resultado após neoadjuvância, houve benefício no primeiro grupo, com redução de risco de eventos em SLDi (HR 0,40 IC 95% 0,18 – 0,85, p=0,014), além de recorrência à distância (HR 0,35 IC 95% 0,14 – 0,91, p=0,024).

Um dado relevante no desenho do estudo é que havia a recomendação de quimioterapia adjuvante (protocolo ACT) e trastuzumabe por 40 semanas em todas as pacientes que apresentassem doença residual após os 12 ciclos de neoadjuvância, sendo permitida a omissão de quimioterapia adjuvante nas pacientes com RPC.

Em análise exploratória, foi observado que o aumento da expressão de PD-L1 e CD8, além do subtipo luminal A, apresentou relação com aumento de SLDi e/ou sobrevida livre de doença à distância (SLDd). Por outro lado, houve a sugestão de que a mutação do gene PIK3CA seja associada à pior SLDi (HR 3,65 IC 95% 1,33 – 10,06) e SLDd (HR 4,71 IC 95% 1,26 – 17,60) nas pacientes que receberam T-DM1.

Os autores concluem que pacientes selecionadas com tumores de mama RH+/HER2+ podem beneficiar-se de terapias neoadjuvantes curtas e sem quimioterapia sistêmica, com possibilidade de estudos futuros estratificarem por biomarcadores as pacientes candidatas a tratamento descalonado.

 

 

Harbeck N, Nitz UA, Christgen M, et al. De-Escalated Neoadjuvant Trastuzumab-Emtansine With or Without Endocrine Therapy Versus Trastuzumab With Endocrine Therapy in HR+/HER2+ Early Breast Cancer: 5-Year Survival in the WSG-ADAPT-TP Trial. J Clin Oncol. 2023 Feb 21:JCO2201816. doi: 10.1200/JCO.22.01816.
Descalonamento neoadjuvante com Trastuzumabe-Emtansina com ou sem terapia endócrina versus trastuzumabe com terapia endócrina em câncer de mama inicial RH+/HER2+: 5 anos de sobrevida no estudo WSG-ADAPT-TP.

 

Comentário do avaliador científico:

O câncer de mama HER2+ positivo apresenta interesse crescente em relação à possibilidade de descalonamento de tratamento, visto excelentes taxas de resposta com terapia anti-HER2, além do surgimento de novos anticorpos monoclonais droga-conjugada como o trastuzumabe deruxtecana.

O estudo fase II WSG-ADAPT-PT demonstrou, em população RH+/HER2+, que a utilização de trastuzumabe emtansina isoladamente apresentou taxas de resposta patológica completa de 41%, com menor toxicidade que o tratamento baseado em associação com quimioterapia sistêmica.

Houve benefício de SLDi correlacionado à presença de RPC, mas comparando-se não houve diferença na comparação dos 3 braços de tratamento, o que pode ser correlacionado com o fato de os 3 braços terem recebido quimioterapia adjuvante, principalmente na presença de doença residual.

Concluindo, o estudo comentado corrobora o racional para o desenvolvimento de estratégias de tratamento neoadjuvante descalonadas em pacientes selecionadas, com menor toxicidade comparativamente ao tratamento quimioterápico padrão.

 

Avaliador científico:

Dr. Raphael Garcia Alves
Residência Médica em Oncologia Clínica pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR)
Oncologista Clínico no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie e na Oncologia D’Or, Curitiba/PR