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SBOC REVIEW

Desfecho de sobrevida associado ao uso de corticoides antes de quimioimunoterapia em pacientes com carcinoma pulmonar avançado

Resumo do artigo:

A utilização de corticoides em pacientes tratados com imunoterapia tem sido uma preocupação porque, do ponto de vista biológico, pode haver uma redução da atividade das células T e afetar a resposta à imunoterapia. Em função disso, esses pacientes foram excluídos dos estudos clínicos. Uma questão importante é que corticoide é uma medicação comumente usada para controle de sintomas em pacientes com CP.

Este é um estudo de observacional, de uma coorte retrospectiva, que utilizou dados eletrônicos de registros médicos de um sistema de saúde. Este estudo foi desenhado para simular um hipotético ensaio prospectivo randomizado, respeitando a temporalidade entre as características de base, a exposição e desfechos, reduzindo potencial vieses. Foram incluídos pacientes tratados com qualquer quimioterapia (QT) e/ou quimioimunoterapia (QT-IO).

Para minimizar o viés de confusão relacionado às diferenças entre os usuários e não usuários de corticoides, uma estratégia utilizada foi comparar os pacientes que fizeram quimioterapia com os que fizeram quimioimunoterapia, e precisaram ou não utilizar corticoides. O uso de corticóides foi definido como qualquer uso de corticoide sistêmico, não incluindo pré-medicação, dentro de 28 dias antes do início do tratamento. O principal objetivo do estudo foi avaliar se o uso de corticoide anterior ao tratamento oncológico modificou o efeito da combinação nos desfechos.

A coorte de 316 pacientes incluiu 228 pacientes tratados com QT e 88 tratados com QT-IO, dos quais 86 (38%) e 28 (32%) eram usuários anteriores de corticoides, respectivamente A mediana de idade foi 67 anos e 156 (49%) eram homens, 46% tinham histologia de adenocarcinoma e 35,4%, de CPPC. Após uso do escore de propensão, as características entre os grupos de tratamento (QT versus QT-IO e usuários de corticoides versus não ususários) foram equilibradas. Utilizando o grupo QT sem uso de corticoide como comparador comum, usuários e não usuários de corticoides do grupo QT-IO tiveram SG semelhantes.

Entre os pacientes tratados com combinação, 60% dos não usuários e 39% usuários de corticoides apresentaram um evento adverso imunomediado (irAE) de qualquer grau. O irAE mais comum visto em ambos os grupos foi erupção cutânea ou dermatite, que ocorreu em 20% dos não usuários e 14% dos usuários de corticoides. Não foram observadas diferenças marcantes nos subgrupos de usuários de corticoides, estratificados por dose ou duração do corticoide.

Os autores discutem que o uso de corticoides antes da combinação não interfere nos resultados de sobrevida ou resposta ao tratamento. Salientam que o receio de prescrever corticoides pode privar os pacientes de benefícios clínicos para controle de sintomas. Isso fica mais claro para os pacientes com metástases sintomáticas para as quais os corticoides podem melhorar a qualidade de vida. É pouco provável que aconteçam ensaios clínicos randomizados que avaliem devido à falta de equilíbrio entre usuários e não usuários de corticoides. Eles consideram que esse estudo tem robustez suficiente preencher esta lacuna de conhecimento.

 

Survival outcomes associated with corticosteroid use before chemoimmunotherapy in patients with advanced lung cancer. European Journal of Cancer, https://doi.org/10.1016/j.ejca.2020.12.011.
Desfecho de sobrevida associado ao uso de corticoides antes de quimioimunoterapia em pacientes com carcinoma pulmonar avançado.

 

Comentário da avaliadora científica:

Um estudo prévio publicado por Arbour e colegas avaliou o impacto do uso de corticoide em pacientes com CPNPC tratados com imunoterapia exclusiva. Na coorte agrupada, os pacientes que receberam corticoide antes da imunoterapia apresentaram uma menor taxa de resposta objetiva e piores SLP e SG em relação aos pacientes que não usaram corticoide. No estudo de Sorial e colegas, o uso de corticoides prévio à QT-IO não teve impacto nos desfechos do tratamento. A grande questão é se o uso de corticoide compromete a eficácia da imunoterapia ou identifica um grupo de pacientes com mau prognóstico e/ou doença mais agressiva, que provavelmente não se beneficiariam da imunoterapia. Apesar deste estudo ter limitações por ter um número pequeno de pacientes e caráter retrospectivo, utilizou de mecanismos estatísticos para corrigir vieses de análise. A avaliação adequada do impacto dos corticoides basais levando em consideração todos os fatores de confusão potenciais é necessária. Dificilmente teremos um ensaio clínico randomizado para avaliação do impacto do uso de corticoide, mas um estudo retrospectivo com um número maior de pacientes poderia responder a essa questão. A inclusão de uma coorte separada de pacientes recebendo corticoide no início dos ensaios clínicos pode ser uma estratégia. Dados de mundo real, como os resultados do estudo, são importantes para ampliar a discussão do tema e guiar a indicação de corticoide neste cenário.

 

Avaliadora científica
Dra. Samira Mascarenhas
Oncologista Clínica na Oncologia D’or Salvador
Instituto D’or de Pesquisa e Ensino (IDOR), Salvador – Bahia
Membro do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica