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SBOC REVIEW

Dexametasona no manejo da dispnéia em pacientes com câncer

Resumo do artigo:

Os corticosteroides sistêmicos são comumente prescritos para paliação da dispneia em pacientes com câncer, apesar da escassa evidência para apoiar seu uso. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de altas doses de dexametasona versus placebo na dispneia relacionada ao câncer.

Este foi um estudo duplo-cego, randomizado e controlado, que selecionou pacientes ambulatoriais com câncer, com idade igual ou superior a 18 anos, e com pontuação média de intensidade de dispneia na última semana de 4 ou mais [em uma escala numérica de 10 pontos (NRS; 0 = nenhum, 10 = pior). Os pacientes foram randomizados (2:1) para receber dexametasona 8 mg por via oral a cada 12 h por 7 dias, seguido de 4 mg por via oral a cada 12 h por 7 dias, ou cápsulas de placebo correspondentes por 14 dias.

O desfecho primário foi a alteração na intensidade da NRS da dispneia nas últimas 24 horas desde o início até o dia 7 (± 2 dias). O recrutamento foi interrompido após a segunda análise interina pré-planejada por atingir critério de futilidade pré-estabelecido.

Oitenta e cinco pacientes foram randomizados para o grupo dexametasona, e 43 pacientes para o grupo placebo. A alteração média na intensidade da NRS da dispneia desde o início até o dia 7 (±2 dias) foi de -1,6 (IC 95% -2,0 a -1,2) no grupo de dexametasona e -1,6 (-2,3 a -0,9) no grupo placebo, sem diferença significativa entre os grupos (média 0 [IC 95% -0,8 a 0,7]; p=0,48). Os eventos adversos de grau 3-4 mais comuns foram infecções (9 [11%] de 85 pacientes no grupo dexametasona vs 3 [7%] de 43 no grupo placebo), insônia (7 [8%] vs 1 [2%]) e sintomas neuropsiquiátricos (3 [4%] vs nenhum [0%]). Eventos adversos graves, todos resultando em internações hospitalares, foram relatados em 24 (28%) de 85 pacientes no grupo dexametasona e em 3 (7%) de 43 pacientes no grupo placebo. Nenhuma morte relacionada ao tratamento ocorreu em nenhum dos grupos.

 

 

Hui D, Puac V, Shelal Z, Dev R, Hanneman SK, Jennings K, Ma H, Urbauer DL, Shete S, Fossella F, Liao Z, Blumenschein G Jr, Chang JY, O'Reilly M, Gandhi SJ, Tsao A, Mahler DA, Bruera E. Effect of dexamethasone on dyspnoea in patients with cancer (ABCD): a parallel-group, double-blind, randomised, controlled trial. Lancet Oncol. 2022 Oct;23(10):1321-1331. doi: 10.1016/S1470-2045(22)00508-3. Epub 2022 Sep 7. PMID: 36087590.
Dexametasona no manejo da dispnéia em pacientes com câncer.

 

Comentário da avaliadora científica:

Neste estudo, dexametasona em altas doses não melhorou a dispneia em comparação com placebo em pacientes com câncer e foi associada a maior frequência de eventos adversos. É importante salientar que entre os critérios de exclusão do estudo estavam as causas reversíveis de dispneia aguda (ou seja, exacerbação devido a doença pulmonar obstrutiva crônica ou insuficiência cardíaca, ou derrame pleural com toracocentese terapêutica planejada).

O recrutamento foi interrompido após a segunda análise interina pré-planejada devido ao atendimento do critério de futilidade. Esses dados sugerem que a dexametasona não deve ser administrada rotineiramente a pacientes não selecionados com câncer para paliação da dispneia.

 

Avaliadora científica:

Dra. Joana Spaggiari Marra
Título de Especialista em Oncologia em Oncologia Clínica pela SBOC/AMB – TEOC 214296
Oncologista Clínica na Santa Casa de São Carlos e de Araraquara
Mestre em Ciências pela USP