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SBOC REVIEW

Enzalutamida e sobrevida em câncer de próstata resistente à castração não metastático

Resumo do artigo:

O estudo fase 3 PROSPER avaliou enzalutamida, um inibidor oral do receptor de andrógeno, no cenário do câncer de próstata resistente à castração não metastático (CPRCnm). Dados iniciais do estudo mostravam que enzalutamida aumentava a sobrevida livre de metástases. A presente publicação vem apresentar os dados da terceira análise interina de sobrevida global. 

Trata-se de estudo duplo-cego, avaliando pacientes cuja definição de doença resistente à castração não metastática era baseada em exames de imagem convencional. Como critério de inclusão, o tempo de duplicação do PSA deveria ser ≤ 10 meses e o PSA ≥ 2 ng/mL. Um total de 933 pacientes foram randomizados 2:1 para receber enzalutamida 160 mg VO 1x ao dia ou placebo. Em ambos os braços, a terapia de deprivação androgênica foi mantida.

Na análise final de outubro de 2019, 288 de 933 (31%) pacientes randomizados para enzalutamida e 178 de 468 (38%) no braço de placebo haviam falecido. A sobrevida global mediana foi de 67 meses (IC 95%, 64 meses a não alcançado) no braço de enzalutamida e 56,3 meses (IC 95%, 54,4 a 63 meses) no braço de placebo (HR: 0,73; IC 95%, 0,61 a 0,89; p=0,001). Eventos adversos no grupo de enzalutamida foram consistentes com aqueles previamente reportados para enzalutamida, sendo que os eventos mais frequentemente reportados foram fadiga e alterações músculo-esqueléticas. 

Em suma, enzalutamida associado à terapia de deprivação androgênica aumentou a sobrevida global de pacientes com CPRCnm com tempo de duplicação do PSA acelerado, comparado com placebo e terapia de deprivação androgênica.

 

Enzalutamide and Survival in Nonmetastatic, Castration-Resistant Prostate Cancer. Sternberg CN, et al. N Engl J Med. 2020 Jun 4;382(23):2197-2206. Doi: 10.1056/NEJMoa2003892. Epub 2020 May 29.
Enzalutamida e Sobrevida em Câncer de Próstata resistente à castração não metastático.

 

Comentário do avaliador científico:

- Desde 2018, temos observado uma rápida evolução no tratamento do CPRCnm, incluindo os dados do estudo PROSPER, apresentados incialmente na ASCO-GU daquele ano reportando o uso de Enzalutamida nesta indicação. Este importante estudo avaliou pacientes com  CPRCnm que progrediram do ponto de vista bioquímico (PSA) ao bloqueio hormonal central, com testosterona em níveis de castração. Por definição, os pacientes apresentavam exames de tomografias e cintilografia óssea normais, não sendo submetidos à avaliação com exames de imagem de nova geração, incluindo PET-PSMA.

- Os achados iniciais do estudo levaram à aprovação pelo FDA e ANVISA em 2018 de Enzalutamida para o tratamento do CPRCnm baseado em dados de Sobrevida livre de metástases. Naquele momento havia dúvidas se o benefício em sobrevida livre de metástases se traduziria em ganho de Sobrevida global. Na análise primária, com seguimento mediano de 23 meses, o dado de sobrevida global era imaturo, considerando que 165 mortes haviam ocorrido (28% de 596 eventos estimados para análise final).  A sobrevida global mediana não havia sido alcançada em nenhum dos braços (HR: 0,8 para Enzalutamida versus placebo, IC=0,59-1,09, p=0,15). 

- Os dados reportados nesta publicação correspondem à terceira e última avaliação trazendo agora os dados definitivos de sobrevida global, após cerca de 440 mortes. Uma análise interina não planejada indica uma sobrevida global em 3 anos de 80% vs 73% para Enzalutamida e placebo, respectivamente. O benefício foi consistente em todos os subgrupos especificados, com potencial exceção para o pequeno subgrupo de pacientes recebendo inibidores de osteoclasto. 

- O tempo mediano para uso de nova terapia foi de 66,7 meses vs 19,1 meses (HR=0.29, IC 95% 0,25-0,35). Um total de 87 pacientes no braço de placebo fizeram o crossover para Enzalutamida após a retirada do cegamento do estudo, com duração mediana do tratamento com Enzalutamida de 14,5 meses após o crossover. Excluindo estes pacientes, nos braços de Enzalutamida e placebo, 33% e 56% dos pacientes receberam pelo menos um tratamento subsequente, respectivamente, sendo Abiraterona (49% e 59%), Docetaxel (60% e 47%) e Enzalutamida (14% e 36%) os mais comumente utilizados nos braços de Enzalutamida e placebo. 

-Eventos adversos que merecem especial atenção e ocorreram em uma taxa de exposição ajustada de > 3 eventos/100 pacientes-ano foram quedas (9 versus 4/100 pacientes-ano) e fraturas (9 versus 5 eventos/100 pacientes-ano) no braço de Enzalutamida e placebo, respectivamente. Foram observadas 14 mortes (2%) por eventos cardiovasculares no braço de Enzalutamida versus 2 mortes (<1%) no braço de placebo. 

-Em conclusão, a presente atualização do estudo PROSPER demonstrou um aumento significativo na sobrevida global de homens recebendo Enzalutamida para o tratamento do CPRCnm, apesar do crossover e número elevado de pacientes recebendo terapias subsequentes, colocando Enzalutamida como uma sólida opção para pacientes com CPRCnm com tempo acelerado de duplicação do PSA.

 

Avaliador científico:

Dr. Fernando Vidigal de Pádua

Residência em Oncologia Clínica pelo AC Camargo Cancer Center, atualmente médico oncologista clínico do Hospital Sírio-libanês de Brasília e do Hospital de Base de Brasília, membro do LACOG Geniturinário.