SBOC REVIEW
ESMO 2021 – Tumores Torácicos
A ESMO de 2021 trouxe importantes adições a oncologia torácica. A eficácia do trastuzumabe-deruxtecan e novas análises do IMpower010 estão entre os destaques.
LBA45 - Destiny-Lung-01: Com publicação simultânea no NEJM. O estudo fase 2, aberto, incluiu pacientes com Carcinoma de Pulmão de Células Não Pequenas (CPCNP) com mutação de HER2 ou com hiperexpressão de HER2, previamente tratados, que fizeram uso de Trastuzumabe-Deruxtecan (T-Dxd). Na atual apresentação foram reportados apenas os pacientes com mutação de HER2.
Com 91 pacientes incluídos, 95% já tendo recebido platina em linhas prévias e 66% já tendo recebido anti-PD-1/PD-L1 em linhas prévias, a taxa de resposta objetiva (TRO) foi de 55%; além disso, 92% dos pacientes tiveram controle clínico da doença, com algum tipo de redução do tamanho da lesão. A duração mediana de resposta foi 9,3 meses (m), a sobrevida livre de progressão (SLP) de 8,2 m e a sobrevida global (SG) de 17,8 m. Quanto a segurança, 25% dos pacientes descontinuaram o uso de T-Dxd devido a toxicidade, 46% com toxicidade ≥3 e aconteceram 2 óbitos associados a droga.
Quanto aos biomarcadores avaliados, a maioria das mutações de HER2 eram inserções do éxon 20 (86%). Dos 53 pacientes com tecido disponível para avaliação de proteína de HER2, 44 tinham algum tipo de expressão (1+ a 3+), enquanto 9 não tinham nenhuma expressão de HER2. Dos 45 pacientes com tecido disponível para avaliação de amplificação gênica, apenas 2 tiveram amplificação encontrada.
LBA9 - IMpower010: Com publicação simultânea no The Lancet. O estudo fase 3, aberto, incluiu pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas estadio IB-IIIA (AJCC 7ª edição). Os pacientes eram randomizados para receber atezolizumabe 1200 mg IV a cada 3 semanas por 16 ciclos ou 1 ano. O desfecho primário analisado era sobrevida livre de doença (SLD) avaliada pelo investigador. A hipótese foi testada de forma hierárquica: primeiro no estadiamento II-IIIA com PD-L1 ≥1% nas células tumorais (SP142 e SP263); depois, em todos os pacientes com estadiamento II-IIIA; finalmente, na população por intenção de tratar IB-IIIA.
Os resultados principais já foram apresentados previamente na ASCO 2021: após seguimento de mais de 32 meses, atezolizumabe teve impacto positivo na SLD, com redução do risco de recorrência de 34% na população estadio II-IIIA com PD-L1≥1% (RR 0,66; IC 95% 0,50-0,88; p=0,0039), e de 21% na população II-IIIA geral (RR 0,79; 0,64-0,96; p=0,020). Quando separamos em população com PD-L1 <1%, RR de 0,97 (0,72-1,31); PD-L1 1-49%, RR de 0,87 (0,60-1,26); PD-L1 ≥50%, RR de 0,43 (0,27-0,68). Dados de segurança indicaram eventos graus 3 ou 4 em 11% dos pacientes e grau 5 em 2 pacientes (1%).
A apresentação da ESMO trouxe novos dados relacionados ao perfil de recorrência, que de forma geral, não foi diferente nos dois grupos. Além disso, trouxe dados de linhas subsequentes de tratamento, mostrando que, conforme esperado, no grupo controle, 35% recebeu imunoterapia, enquanto no grupo atezolizumabe, apenas 11% recebeu imunoterapia. Além disso, mostra que o grupo que recebeu atezolizumabe adiou a recaída, comparado ao grupo controle.
LBA46- ZENITH20-04: Este estudo avaliou pacientes em 1ª linha com inserção no éxon 20 do HER2. Esta é a coorte 4 do estudo ZENITH. Os pacientes receberam poziotinibe 16 mg diariamente. O desfecho primário analisado foi taxa de resposta objetiva (TRO). Os objetivos secundários são taxa de controle de doença (TCD), duração de resposta, SLP e segurança.
A TRO foi 44% (IC 95% 29,5-58,8) e a TCD foi de 75%. A duração de resposta foi de 5,4 meses; a SLP mediana foi 5,6 meses. Quanto à toxicidade, grande parte dos pacientes (76%) tiveram que ser submetidos a redução de dose, levando-se em conta a dose inicial de 16 mg/uma vez ao dia; 88% dos pacientes tiveram interrupção de doses; 12% tiveram que suspender a medicação por evento adverso relacionado ao tratamento. Os efeitos colaterais mais comuns foram: rash (35%), estomatite (20%), diarreia (14%). De forma geral, o poziotinibe teve boa eficácia em 1ª linha de pacientes com inserção do éxon 20 no HER2, porém a dose de 16mg/uma vez ao dia deve ser repensada, já que traz certa toxicidade. Outros estudos, com estratégias de posologia diferentes estão sendo realizados.
LBA42 – COAST: Este estudo avaliou pacientes com câncer de pulmão irressecável, que foram submetidos a quimiorradioterapia e com indicação a durvalumabe de consolidação. Na fase da consolidação, os pacientes eram randomizados a 3 braços abertos: 1) durvalumabe monoterapia (1500 mg a cada 4 semanas); 2) durvalumabe + oleclumabe (3000 mg a cada 2 semanas IV por 2 ciclos, seguido de 3000 mg a cada 4 semanas); 3) durvalumabe + monalizumabe (750 mg a cada 2 semanas IV). O desfecho primário foi taxa de resposta objetiva (TRO) avaliada pelo investigador. O estudo também tinha vários desfechos secundários: duração de resposta, SLP, SG, TCD, segurança.
A TRO foi 17,9%, 30%, 35,5% para durvalumabe, durvalumabe + oleclumabe, durvalumabe + monalizumabe, respectivamente. A duração de resposta foi não atingida (NA), 12,9 e NA para durvalumabe, durvalumabe + oleclumabe, durvalumabe + monalizumabe, respectivamente. Com relação a SLP mediana, dados interessantes mostraram: 6,3, NA, 15,1 meses para durvalumabe, durvalumabe + oleclumabe, durvalumabe + monalizumabe, respectivamente, com redução de risco de 56% (RR=0,44; IC 95% 0,26-0,75) na combinação com oleclumabe e 45% (RR=0,65; IC 95% 0,49-0,85) na com monalizumabe. Os efeitos adversos não diferiram significativamente entre os grupos, e são muito semelhantes aos eventos já conhecidos com durvalumabe.
Esse estudo aborda conceitos importantes na combinação de imunoterapia e outras drogas em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células.
Referências:
LBA45 - Li BT, Smit EFF,Goto Y, et al. Primary data from DESTINY-Lung01: A phase II trial of trastuzumab deruxtecan (T-DXd) in patients (Pts) with HER2-mutated (HER2m) metastatic non-small cell lung cancer (NSCLC).
Li BT, Smit EF, Goto Y, et al. Trastuzumab Deruxtecan in HER2-Mutant Non–Small-Cell Lung Cancer. NEJM; Published online 18 September 2021. DOI: 10.1056/NEJMoa2112431.
LBA9 - Felip E, Vallieres E, Zhou C, et al. IMpower010: Sites of relapse and subsequent therapy from a phase III study of atezolizumab vs best supportive care after adjuvant chemotherapy in stage IB-IIIA NSCLC. Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.
LBA46 - Cornelissen R, Sun S, Wollner M, et al. Efficacy and safety of poziotinib in treatment-naïve NSCLC harboring HER2 exon 20 mutations: A multinational phase II study (ZENITH20-4). Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.
LBA42 - COAST - Martinez-Marti A, Majem M, Barlesi F. An open-label, randomised, phase II platform study of durvalumab alone or in combination with novel agents in patients with locally advanced, unresectable, stage III NSCLC. Annals of Oncology (2021) 32 (suppl_5): S1283-S1346. 10.1016/annonc/annonc741.
Avaliadora científica:
Dra. Aline Fusco Fares
Oncologista clínica pelo AC Camargo Cancer Center
Oncologista no Hospital de Base de São José do Rio Preto, HB Onco