SBOC REVIEW
Especial ASCO 22 – Tumores Geniturinários
EVEREST: Everolimo para câncer de rim após tratamento cirúrgico – um estudo fase III (SWOG S0931)
Resumo do artigo:
Trata-se de estudo fase III para avaliar o papel do tratamento adjuvante com o inibidor de mTOR everolimo em pacientes com carcinoma de células renais não-metastático de risco intermediário-alto (pT1 G3-4 N0 a pT3a G1-2 N0) ou de muito alto risco (pT3a G3-4 a pT4 qqG ou N+) operados (n=1545). A sobrevida livre de recorrência foi superior nos pacientes tratados com everolimo (HR 0,85, IC 95% 0,72-1,00; p=0,0246), porém não foi atingido o nível de significância pré-estabelecido (0,022). Em análise exploratória, os pacientes de muito alto risco tratados com everolimo apresentaram menor risco de recorrência (HR 0,79, IC 95% 0,65-0,97; p=0,011). Não houve diferença em sobrevida global. No Brasil, sunitinibe e pembrolizumabe são aprovadas para essa indicação baseados em dados de benefício em sobrevida livre de recorrência.
Ryan CW, et al. EVEREST: Everolimus for renal cancer ensuing surgical therapy—A phase III study (SWOG S0931, NCT01120249). Abstract LBA4500.
EVEREST: Everolimo para câncer de rim após tratamento cirúrgico – um estudo fase III (SWOG S0931).
Resultados clínicos finais do estudo pivotal do superagonista IL-15RαFc N-803 com BCG em pacientes com carcinoma papilífero de bexiga não músculo-invasivo e carcinoma in situ não-responsivo a BCG (QUILT3032)
Resumo do artigo:
N-803 é uma proteína de fusão imunoestimuladora baseada em IL-15, que promove ativação e proliferação de células NK e linfócitos T CD8+. Nesse estudo fase II/III de braço único, 160 pacientes com NMIBC de alto grau não-responsivo a BCG (coorte A: CIS [n=83] e coorte B: papilífero [n=77]) foram tratados com BCG e N-803 intravesical. A taxa de resposta completa (RC) em pacientes com CIS foi de 71% (58/82), com mediana de duração de resposta de 26,6 meses e 45% mantiveram resposta completa em 12 meses. Em análise exploratória nos pacientes com carcinoma papilífero, a sobrevida livre de doença em 12 meses foi de 55% e 48% em 24 meses. Os eventos adversos mais comuns foram sintomas urinários irritativos e fadiga. Nenhum evento imunomediado grave foi observado. No Brasil, pembrolizumabe é aprovado para pacientes com CIS não-responsivo a BCG com base em estudo de 96 pacientes que demonstrou RC em 41% e RC em 12 meses de 19%.
Chamie K, et al. Final clinical results of pivotal trial of IL-15RαFc superagonist N-803 with BCG in BCG-unresponsive CIS and papillary nonmuscle-invasive bladder cancer (NMIBC). Abstract 4508.
Resultados clínicos finais do estudo pivotal do superagonista IL-15RαFc N-803 com BCG em pacientes com carcinoma papilífero de bexiga não músculo-invasivo e carcinoma in situ não-responsivo a BCG (QUILT3032).
TheraP: 177Lu-PSMA-617 versus cabazitaxel em câncer de próstata metastático resistente à castração após progressão com docetaxel – sobrevida global após acompanhamento mediano de 3 anos (ANZUP 1603)
Resumo do artigo:
LuPSMA é um radiofármaco emissor de radiação beta que se liga a células com hiperexpressão de PSMA (antígeno de membrana específico da próstata). Nesse estudo fase 2 randomizado, foram recrutados 291 pacientes com mCRPC (200 com hiperexpressão de PSMA em PET 68Ga-PSMA-11 com pelo menos uma lesãro com SUVmax ≥ 20 e sem lesões discordantes no PET 18F-FDG) após progressão com docetaxel. Foram randomizados 99 pacientes para tratamento com LuPSMA e 101 para tratamento com cabazitaxel. LuPSMA demonstrou benefícios significativos em taxa de resposta por PSA (66% vs 37%), por RECIST (49% vs 24%), sobrevida livre de progressão (HR 0,62, IC 95% 0,45-0,85; p=0,0028) e menor frequência de toxicidades graus 3-4 (33 vs 53%) em comparação com cabazitaxel. Na atualização com acompanhamento mediano de 36 meses, não houve diferença em sobrevida global (19,1 vs 19,6 meses, HR 0,97, IC 95% 0,7-1,4 p=0,99). Em 61 pacientes que foram acompanhados após exclusão pelo critério de inclusão por imagem, a sobrevida global foi de 11 meses, sendo que 48% desses receberam cabazitaxel e 5% LuPSMA. Diversos centros especializados de medicina nuclear disponibilizam esse tratamento no Brasil para pacientes com mCRPC.
Hofman MS, et al. TheraP: 177Lu-PSMA-617 (LuPSMA) versus cabazitaxel in metastatic castration-resistant prostate cancer (mCRPC) progressing after docetaxel—Overall survival after median follow-up of 3 years (ANZUP 1603). Abstract 5000.
TheraP: 177Lu-PSMA-617 versus cabazitaxel em câncer de próstata metastático resistente à castração após progressão com docetaxel – sobrevida global após acompanhamento mediano de 3 anos (ANZUP 1603).
Desfechos de sobrevida global atualizados do ENZAMET (ANZUP 1304), estudo internacional de grupo cooperativo com enzalutamida em pacientes com câncer de próstata metastático hormônio-sensível
Resumo do artigo:
Trata-se de estudo fase 3 para avaliar benefício da adição de enzalutamida ao tratamento padrão em pacientes com mHSPC (n=1125). Na análise apresentada com 68 meses de acompanhamento, a sobrevida global mediana foi superior nos pacientes tratados com enzalutamida (NA vs 73,2 meses, HR 0,70, IC 95% 0,58-0,84; p<0,0001), com ganho absoluto de 10% em SG em 5 anos (67% vs 57%), a despeito de 76% dos pacientes do braço controle terem recebido abiraterona ou enzalutamida após a progressão. Cerca de 45% dos pacientes receberam tratamento concomitante com docetaxel. Em análise exploratória, adição de enzalutamida parece trazer benefício adicional para os pacientes com metástases “de novo” tratados com quimioterapia. Enzalutamida, apalutamida e abiraterona estão aprovadas no Brasil para intensificação de tratamento nesse cenário.
Davis ID, et al. Updated overall survival outcomes in ENZAMET (ANZUP 1304), an international, cooperative group trial of enzalutamide in metastatic hormone-sensitive prostate cancer (mHSPC). Abstract LBA5004.
Desfechos de sobrevida global atualizados do ENZAMET (ANZUP 1304), estudo internacional de grupo cooperativo com enzalutamida em pacientes com câncer de próstata metastático hormônio-sensível.
Definindo alterações genéticas germinativas em tumores de células germinativas: implicações para testagem genética e manejo clínico
Resumo do artigo:
Estudos epidemiológicos sugerem elevada herdabilidade (37-49%) em tumores de células germinativas (TCG), e história familiar (HF) de TCG é um fator de risco conhecido (RR 2-12). Nesse estudo retrospectivo com 477 pacientes com TCG (mediastinal n=69 e testicular n=408) foi realizada pesquisa de mutações germinativas em 76 genes associados a síndrome de câncer hereditário. Cerca de 81% dos pacientes foram diagnosticados com não-seminoma; 5% com doença localizada; 46%, 14% e 34% com doença avançada de prognóstico favorável, intermediário e desfavorável, respectivamente; 6% com HF de TCG; e 4% com tumor testicular bilateral. Foram encontradas alterações patogênicas ou provavelmente patogênicas (P/PP) em 58 pacientes (12%). Houve maior frequência em TCG mediastinal do que testicular (21% [15/70] vs 10% [43/410], p=0,02). Histologia, história familiar e tumor de testículo bilateral não estiveram associados a maior frequência de mutações germinativas. A maior parte das mutações foi encontrada em genes de via de reparo de DNA (CHEK2 [n=6], ATM [n=4], PALB2 [n=3], BRCA [n=3]) e TP53 (n=3). A identificação de alterações germinativas pode trazer implicações relevantes em necessidade de rastreamento de outras neoplasias e aconselhamento familiar, em especial para pacientes com TCG mediastinal.
Truong H, et al. Defining germline genetics of germ cell tumor: Implications for genetic testing and clinical management. Abstract 5007.
Definindo alterações genéticas germinativas em tumores de células germinativas: implicações para testagem genética e manejo clínico.
Avaliador científico:
Dr. David Queiroz Borges Muniz
Residência médica em oncologia clínica no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)
Oncologista clínico do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês e do Grupo de Tumores Urológicos do ICESP