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SBOC REVIEW

Estudo de fase 2 braço único de nivolumabe e ipilimumabe em pacientes com sarcoma de Kaposi previamente tratados

Resumo do artigo:

O sarcoma de Kaposi (SK) é uma neoplasia mesenquimal com característica angioproliferativa e origem endotelial, associada à infecção pelo herpes vírus humano 8 e com pico de incidência na sexta década de vida. Dentre os diferentes subtipos, destacam-se o sarcoma de Kaposi clássico (SKc), muito raro e geralmente encontrado em homens de origem judia ou mediterrânea, e o subtipo relacionado ao vírus da imunodeficiência humana (HIV).

Embora comumente possua caráter crônico e indolente, alguns casos podem evoluir rapidamente, acometer vísceras e linfonodos e causar incapacidade. Diferente do SK associado ao HIV, em que a terapia antirretroviral é a primeira linha de tratamento padrão, no SKc as opções terapêuticas são menos estabelecidas e os estudos clínicos randomizados escassos. Os tratamentos sistêmicos são geralmente reservados para pacientes com acometimento generalizado, rápida progressão e/ou envolvimento visceral e de mucosas. Quando indicado, quimioterapia citotóxica como vimblastina, etoposídeo e doxorrubicina lipossomal peguilada tem sido utilizada, com taxas de resposta entre 50% e 70%. Apesar da relativa quimiossensibilidade, a duração da resposta costuma ser limitada.

Pouco se sabe sobre a eficácia da imunoterapia no tratamento do SKc. Experiências limitadas sugerem que o interferon-a recombinante é ativo, embora tóxico. Anticorpos monoclonais que têm como alvo correceptores imunes podem induzir respostas significativas e prolongadas em vários tumores. Devido a etiologia viral e sua natureza inflamatória, levantou-se a hipótese de que essa estratégia seria eficaz no SKc. Este estudo avaliou o uso da combinação de nivolumabe, um anticorpo bloqueador da proteína associada a morte celular programada 1 (anti-PD-1), e ipilimumabe, um anticorpo bloqueador do antígeno 4 do linfócito T citotóxico (anti-CTLA4), em pacientes com SKc previamente tratados.

Trata-se de ensaio clínico prospectivo de fase 2, com braço único e que incluiu pacientes adultos com SK histologicamente confirmado e ao menos uma linha de tratamento sistêmico prévio. Pacientes com SK relacionado ao HIV foram excluídos. Os pacientes elegíveis receberam nivolumabe 240 mg endovenoso, a cada 2 semanas, associado a ipilimumabe 1 mg/kg endovenoso, a cada 6 semanas, até progressão de doença ou toxicidade inaceitável, por um período máximo de 24 meses. O desfecho primário era taxa de resposta objetiva global (TRO), avaliada por diferentes métodos.

Foram incluídos 18 pacientes, dos quais todos eram do sexo masculino, a maioria havia recebido quimioterapia como regime de tratamento prévio e 67% já tinha realizado radioterapia paliativa. A TRO por RECIST v1.1 foi de 87%, por avaliação clínica de 78% e por PET-CT de 93% (62% apresentaram resposta metabólica completa), com duração mediana de resposta de 13,5 meses. 6 dos 13 pacientes avaliados por biópsia apresentaram resposta patológica completa. A taxa de sobrevida livre de progressão em 6 meses foi de 76,5% e em 1 ano de 58,8%. 22% dos pacientes apresentaram eventos adversos (EAs) graves. Análises exploratórias revelaram perda no número de cópias no gene FOXA1 como a característica genômica mais frequente (57% das amostras). Todos os pacientes avaliados possuíam estabilidade de microssatélite e carga mutacional baixa. Expressão de PD-L1 foi encontrada em 25% dos casos.

Por fim, este ensaio clínico de fase 2 sugere que o tratamento com nivolumabe e ipilimumabe é eficaz e tolerável em pacientes com SKc.

 

 

Zer A, Icht O, Yosef L, et al. Phase II single-arm study of nivolumab and ipilimumab (Nivo/Ipi) in previously treated classical Kaposi sarcoma (cKS). Ann Oncol. 2022 Jul;33(7):720-727. doi: 10.1016/j.annonc.2022.03.012. Epub 2022 Mar 23. PMID: 35339649.
Estudo de fase 2 braço único de nivolumabe e ipilimumabe em pacientes com sarcoma de Kaposi previamente tratados.

 

Comentário do avaliador científico:

Este estudo traz resultados promissores com a combinação de nivolumabe e dose baixa de ipilimumabe no tratamento de pacientes com SKc, com altas taxas de resposta, duração prolongada e toxicidade aceitável.

A TRO foi maior do que com outros agentes sistêmicos, porém vale ressaltar que essa avaliação é desafiadora frente às características clínicas da doença. A taxa de EAs foi próxima à observada com quimioterapia e os EAs imunomediados semelhantes aos já conhecidos com anti-PD-1 e ipilimumabe em baixa dose.

Ainda que limitado por um número pequeno de pacientes, diante da raridade da doença e escassez de ensaios clínicos prospectivos, este trabalho representa uma contribuição valiosa.

Em março deste ano, foi publicado o estudo prospectivo de fase II avaliando pembrolizumabe monoterapia para pacientes com SKc e SK endêmico, com TRO de 71% e taxa de EAs graves de 12%. Portanto, questões como a escolha do melhor regime de imunoterapia e o método mais adequado para seleção dos pacientes, permanecem abertas.

Como perspectivas, estão em andamento ensaios clínicos com antiangiogênicos e inibidores de proteassoma. Combinações utilizando quimioterapia, imunoterapia e antiangiogênico possuem racional interessante e devem ser testadas em breve.

 

Avaliador científico:

Dr. Caio Dabbous de Liz
Residência Médica em Oncologia Clínica pelo A.C.Camargo Cancer Center
Oncologista Clínico na DASA - Hospital Leforte Liberdade e Leforte Morumbi