SBOC REVIEW
Estudo fase 2 de quimioterapia de indução seguida de quimiorradioterapia com aspirina ou placebo em pacientes com câncer de reto de alto risco (ICAR)
Resumo do artigo:
O tratamento de câncer de reto se baseia em quimiorradioterapia, seguida de cirurgia e quimioterapia adjuvante. A intensificação do tratamento neoadjuvante com a quimioterapia de indução (QI), seguida de quimiorradiação (QRT), é uma abordagem atraente na doença localmente avançada e de alto risco. Além disso, a aspirina mostrou potencial para diminuir a taxa de recorrência no câncer colorretal e melhorar os resultados juntamente com a QRT no câncer retal, com respostas clínicas mais expressivas.
O ICAR é um estudo fase 2 randomizado, duplo-cego, realizado para avaliar o grau de regressão tumoral (TRG) pela ressonância magnética (RM) após o tratamento com quimioterapia de indução com XELOX, seguida de quimiorradioterapia à base de capecitabina com aspirina ou placebo em uma população de alto risco selecionada por RM.
Dos 25 pacientes que iniciaram o tratamento entre janeiro de 2018 e março de 2019, quatro não completaram (1 paciente por diarreia grau 5 e 1 paciente por baixa adesão ao tratamento). A idade mediana foi de 55 anos (32,9 - 73,6). Oito pacientes (32%) eram mulheres e 80% dos pacientes tinham três ou mais critérios de alto risco. Vinte pacientes (80%) apresentaram melhora dos sintomas no primeiro ciclo da QI.
Dos 21 pacientes que terminaram o tratamento até a análise interina, 11 receberam aspirina. Dos pacientes que receberam aspirina, dois tiveram resposta completa à RM, três tiveram pouca ou nenhuma resposta e três apresentaram progressão de doença. Dos 10 pacientes que receberam placebo, quatro tiveram resposta completa à RM, três tiveram pouca ou nenhuma resposta e nenhum paciente apresentou progressão de doença.
A aspirina adicionada à quimiorradioterapia foi segura, mas não melhorou a resposta ao tratamento neoadjuvante total. O estudo foi encerrado devido à ausência de benefício.
Phase 2 Trial of Induction Chemotherapy Plus Chemoradiotherapy With Aspirin or Placebo in High-Risk Rectal Cancer (ICAR). Souza J, J Clin Oncol 38: 2020 (suppl; abstr e16131). DOI: 10.1200/JCO.2020.38.15_suppl.e16131.
Estudo fase 2 de quimioterapia de indução seguida de quimiorradioterapia com aspirina ou placebo em pacientes com câncer de reto de alto risco (ICAR).
Comentário da autora:
Este foi o primeiro estudo randomizado a avaliar o papel da quimioterapia de indução e da aspirina no tratamento de quimiorradioterapia de câncer de reto. De acordo com o desenho do estudo (Simon two stage), nenhum dos braços atingiu os critérios para seguir para o segundo estágio, sendo ambos interrompidos.
Nossos dados contradizem a parte da literatura atual. Em um estudo não randomizado, os autores sugerem que a aspirina durante a quimiorradioterapia aumentaria o downstaging, a sobrevida livre de progressão e a sobrevida global.¹ Nossos resultados não mostraram benefício com o uso da aspirina.
Não encontramos aumento de toxicidade e nem de interrupção de tratamento no braço da aspirina.
Referência:
1 - Restivo A. Aspirin as a neoadjuvant agent during preoperative chemoradiation for rectal câncer. British Journal of Cancer, 2015 113, 1133–1139. doi: 10.1038/bjc.2015.336
Autora:
Dra. Juliana Ominelli
Especializou em Oncologia Clínica no Instituto Nacional do Câncer (INCA). Atualmente é médica oncologista na área de Pesquisa Clinica do INCA e na ONCOCLINICA.
