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SBOC REVIEW

Infusão hepática arterial com FOLFOX em pacientes com hepatocarcinoma avançado

Resumo do artigo:

Novas estratégias de tratamento de pacientes com carcinoma hepatocelular (HCC) avançado têm surgido nos últimos anos. Recentemente, foi publicado no Journal of Clinical Oncology, o estudo de fase 3 chinês, FOHAIC-1. No presente estudo, os autores avaliaram o papel de quimioterapia de infusão arterial hepática com FOLFOX (fluorouracil, leucovorin e oxaliplatina; HAIC-FO) em comparação com sorafenibe em pacientes que não haviam recebido terapia sistêmica prévia.

Foram incluídos pacientes com HCC localmente avançado ou irressecável, com os seguintes critérios: lesão dominante no fígado com ou sem oligometástase extra-hepática (definida como até três lesões metastáticas em até dois órgãos com o maior diâmetro menor que 3cm), sem tratamento sistêmico prévio. Pacientes Child-Pugh A ou B7 e ECOG 0-2 foram incluídos.

Os pacientes foram randomizados entre maio de 2017 a 2020 para receber HAIC-FO (n = 130) ou sorafenibe 400 mg duas vezes ao dia (n = 132). HAIC-FO consistiu em oxaliplatina a 130 mg/m2, leucovorin 200 mg/m2, fluorouracil 400 mg/m2 em bôlus e fluorouracil 2.400 mg/m2 infusional, via cateter femoral, a cada três semanas. O desfecho primário foi sobrevida global na população ITT; intenção de tratar. Também procurou avaliar um modelo exploratório preditivo de eficácia ao HAIC-FO baseado em sequenciamento genômico.

Quanto a casuística, a maior parte dos pacientes eram BCLC C (94,6%). Quanto a etiologia da hepatopatia, a maioria dos pacientes tinham hepatite B (92,3% no grupo HAIC-FO e 86,4% no grupo sorafenibe).

Dentre os pacientes avaliados no estudo, o tamanho médio do tumor foi de 11,2 cm. Invasão macrovascular estava presente em 65,6% dos pacientes e 49,2% tinham mais de 50% do volume tumoral envolvendo o fígado ou trombose tumoral da veia porta extensa (Vp-4).

Após um tempo mediano de seguimento de 17,1 meses no grupo HAIC-FO e 19,8 meses no grupo sorafenibe, a sobrevida global mediana foi de 13,9 meses no grupo HAIC-FO versus 8,2 meses no grupo sorafenibe grupo (HR= 0,41, P <0,001). Na população de alto risco, definida como a de pacientes com > 50% de envolvimento do volume tumoral do fígado e/ou trombose do tumor da veia porta Vp-4, a sobrevida global mediana foi de 10,8 meses vs 5,7 meses (HR = 0,34, P <0,001).

Quanto a taxa de resposta objetiva, essa foi mais comum no grupo HAIC-FO quando avaliada por RECIST (31,5% vs 1,5%; P <0,001) e também por RECIST modificado específico para HCC (35,4% vs 5,3%; P <0,001). Dentre 16 pacientes (12,3%) do grupo HAIC-FO que tiveram downstaging tumoral e receberam cirurgia curativa ou ablação, 43,8% estavam vivos sem evidência de progressão até a última avaliação.

Em relação a predição de resposta nos pacientes do grupo HAIC-FO, um modelo de 15 genes identificou 83% dos pacientes com resposta ao tratamento experimental.

Quanto a toxicidade ao tratamento, eventos adversos de grau 3 ou 4 ocorreram em 20,3% dos pacientes no grupo HAIC-FO vs 48,1% do grupo sorafenibe. A principal complicação no grupo HAIC-FO foi dor abdominal durante a infusão de oxaliplatina, que foi manejada com redução da infusão da droga.

 

 

Lyu N, Wang X, Ji-Bin Li, et al. Arterial Chemotherapy of Oxaliplatin Plus Fluorouracil Versus Sorafenib in Advanced Hepatocellular Carcinoma: A Biomolecular Exploratory, Randomized, Phase III Trial (FOHAIC-1). J Clin Oncol 2022; 40(5): 468-480.
Infusão hepática arterial com FOLFOX em pacientes com hepatocarcinoma avançado.

 

Comentário do avaliador científico:

O estudo fase 3 chinês FOHAIC-1 demonstrou que quimioterapia intra-arterial com FOLFOX foi superior a sorafenibe em termos de sobrevida global. O principal ponto forte do presente estudo foi o grande número de pacientes com alto volume de doença hepática e invasão macrovascular, características essas que eram muitas vezes excluídas dos estudos com sorafenibe e lenvatinib e sub-representadas nos estudos atuais de 1ª linha. Assim, os dados aqui apresentados talvez possam ser interessantes em pacientes não-metastáticos ou oligometastáticos e que necessitem de alta taxa de resposta intra-hepática.

Entretanto, o fato do braço controle ter sido o sorafenibe torna o resultado do estudo para a população BCLC C menos interessante. Isso porque com os dados já consolidados do estudo IMbrave 150 e os dados recém apresentados do estudo HIMALAYA, o braço controle não seria o mais adequado atualmente. Também, nem sempre os dados de estudos exclusivamente orientais podem ser extrapolados para nossa realidade, dado que a etiologia da hepatopatia é diferente nas populações. Por fim, vale destacar que os aspectos técnicos de quimioterapia infusional intra-arterial não é realidade na maioria dos centros do nosso país.

Com isso, apesar do resultado positivo em termos de sobrevida global, o presente estudo deve ter seus resultados interpretados dentro de um nicho específico de pacientes com HCC avançado.

 

Avaliador científico:

Dr. Angelo Borsarelli Carvalho de Brito
Residência de Oncologia Clínica pelo AC Camargo Cancer Center – SP
Oncologista Clínico no AC Camargo Cancer Center – SP