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SBOC REVIEW

Mirvetuximabe Soravtansina para Câncer de Ovário Platino-Resistente com Expressão do Receptor Alfa de Folato (FRα)

Citação: Matulonis UA, Lorusso D, Oaknin A, et al. Efficacy and Safety of Mirvetuximab Soravtansine in Patients With Platinum-Resistant Ovarian Cancer With High Folate Receptor Alpha Expression. J Clin Oncol. Published online December 8, 2023. doi: 10.1200/JCO.22.01900

Resumo do artigo:

Ainda que a maioria das pacientes com câncer de ovário apresente resposta inicial ao tratamento baseado em platina, cerca de 80% irão recorrer e, em algum momento, evoluir com doença platino-resistente. As opções de tratamento são mais limitadas neste cenário e consistem, principalmente, em quimioterapia monodroga, com taxas de resposta pouco animadoras que variam entre 4 e 13%. A adição de bevacizumabe à quimioterapia para o câncer de ovário resistente à platina aumenta para 27% a taxa de resposta, porém com frequência tal droga, se disponível, tem sido utilizada mais precocemente, no cenário sensível à platina.

Há, então, uma necessidade de desenvolvimento de novas opções mais eficazes para este grupo de pacientes. Sabe-se que o receptor alfa de folato (FRα) é expresso em alguns tumores, sendo tal achado mais importante para alguns subtipos. Nos carcinomas epiteliais de ovário de alto grau, ocorre expressão elevada de FRα em cerca de 40% das pacientes. Mirvetuximabe Soravtansina (MIRV) é um anticorpo conjugado à droga direcionado ao FRα que foi avaliado neste estudo de fase II, braço único, quanto a sua eficácia e segurança em pacientes com câncer epitelial de ovário resistente à platina após progressão à até três linhas de tratamento prévias, incluindo bevacizumabe. A avaliação do FRα foi realizada através de imuno-histoquímica sendo que as pacientes seriam elegíveis ao estudo se ao menos 75% das células fossem positivas com intensidade de 2+ ou mais.

O desfecho primário do estudo foi a taxa de resposta objetiva (TRO) pela avaliação do investigador e o principal desfecho secundário foi a duração de resposta (DRO) também conforme avaliação do investigador. Outros desfechos secundários foram segurança, sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG).

O estudo incluiu 106 pacientes, sendo 105 avaliadas quanto à eficácia. Em relação aos tratamentos prévios: todas receberam bevacizumabe, 37 receberam tratamento no cenário platino-resistente, 51% receberam pelo menos três linhas prévias de tratamento e 48% receberam iPARP. Quanto aos resultados de eficácia, após seguimento mediano de 13,4 meses, a TRO observada foi 32,4% (IC 95% 23,2 – 42,2; p<0,0001), incluindo cinco respostas completas e 29 respostas parciais. A DRO mediana foi de 6,9 meses (IC 95% 5,6 – 9,7).

Em análise de subgrupo, para pacientes expostas a até duas linhas de tratamento prévias a TRO foi 35,3% (IC 95% 22,4 – 49,9) e a DRO mediana 5,9 meses (IC 95% 4,2 –9,6). Para as expostas a três linhas prévias de tratamento, a TRO foi 30,2% (IC 95% 18,3 – 44,3) e a DRO mediana 7,4 meses (IC 95% 3,5 – 10,7). Em relação a exposição prévia aos iPARP, a TRO encontrada foi 38,8% (IC 95% 34,7 – 52,8) para aquelas que receberam iPARP previamente e de 27,5% (IC 95% 15,9 – 41,7) para aquelas que não receberam iPARP previamente. Dentre todas as pacientes, a SLP mediana foi de 4,3 meses (IC 95% 3,7 – 5,2) e a SG mediana de 13,8 meses (IC 95% 12 – NA).

Em relação aos resultados de segurança, 86% das pacientes apresentaram pelo menos um evento adverso (EA), sendo que 1% apresentou evento grau 4. Os EAs mais comuns relacionados ao tratamento foram visão turva, ceratopatia e náusea. Os EAs relacionados ao tratamento levaram a atraso de dose, redução de dose e descontinuação em 33%, 20% e 9% dos pacientes, respectivamente.

Por fim, este estudo de fase 2 demonstrou atividade anti-tumoral clinicamente significativa e perfil de segurança favorável do MIRV em pacientes com câncer de ovário platino-resistentes com alta expressão do FRα e que receberam até três linhas de tratamento prévias, incluindo bevacizumabe, representando uma estratégia promissora para esta população selecionada por biomarcador.

Comentário do avaliador científico:

Mirvetuximabe soravtansina é o primeiro inibidor do receptor alfa do folato a demonstrar atividade em um estudo de fase II em pacientes com câncer epitelial de ovário resistentes à platina. Cabe ressaltar a importância do achado uma vez que esta é uma população que carece de tratamentos eficazes ainda hoje. Além de resistente à platina, nota-se que a população do estudo se trata de uma população politratada (metade progrediu à 3 linhas de tratamento) e já exposta às terapias consideradas padrão atualmente (todas progrediram a bevacizumabe e cerca de metade progrediu aos iPARP).

Ainda que o tratamento seja selecionado por biomarcador, a parcela de pacientes que seriam beneficiadas com este novo medicamento não é desprezível, uma vez que 36% das pacientes avaliadas inicialmente para o estudo obtiveram alta expressão do FRα por imuno-histoquímica e seriam, portanto, elegíveis ao tratamento.

A porcentagem de pacientes que apresentaram resposta com a droga foi maior do que a descrita na literatura com quimioterapia monodroga. Ressalta-se, porém, que o presente estudo foi um estudo de fase II de braço único, não havendo comparação dos resultados com um grupo controle. É necessária, portanto, a confirmação de tais resultados. Como perspectivas, aguardamos, então, dados do estudo fase III randomizado (MIRASOL) avaliando o MIRV vs. quimioterapia a escolha do investigador neste mesmo cenário de câncer de ovário resistente à platina com desfecho primário de SLP.

 

Avaliador científico:

Dra. Letícia Vecchi Leis

Residência Médica em Oncologia Clínica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP-SP)

Preceptora da Residência de Oncologia Clínica no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e Oncologista Clínica na Rede D’Or de São Paulo