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SBOC REVIEW

O uso da ressonância magnética hepática na rotina pré-operatória de pacientes com metástases hepáticas colorretais ressecáveis (CAMINO Trial)

Resumo do artigo:

O padrão diagnóstico para metástases hepáticas colorretais (primárias ou recorrentes) consiste no uso de Tomografia computadorizada (TC) de abdome com contraste. Contudo, a ressonância magnética (RM) com imagem ponderada em difusão e uso de ácido gadoxético como meio de contraste conta com maior sensibilidade, especialmente para lesões menores que 10 mm. Evidências na literatura sobre o impacto da adição da RM no planejamento pré-intervenção no tratamento de metástases de pacientes com câncer colorretal são escassas.

O estudo CAMINO foi um estudo multicêntrico e internacional publicado no Lancet Oncology em dezembro de 2023. O objetivo desse estudo foi avaliar o impacto do uso rotineiro da ressonância magnética com contraste hepático utilizando o ácido gadoxético (primovist), incluindo sequência ponderada em difusão, no plano de tratamento de pacientes com metástases hepáticas colorretais que poderiam ser tratados localmente, em comparação ao uso de tomografias exclusivamente.

Os participantes do estudo foram submetidos a uma TC abdominal com contraste (pelo menos uma fase portal) seguida por uma RM (pelo menos uma sequência ponderada em T2, sequência ponderada em difusão, sequência multifásica ponderada em T1, e com ácido gadoxético). As imagens eram avaliadas em reunião da equipe multidisciplinar. Primeiro, um plano de tratamento local detalhado baseado apenas com a TC foi proposta e documentada. O plano de tratamento local detalhado incluiu a localização exata, número e extensão da ressecção ou ablação. Após, a RM hepática era apresentada, e o plano de tratamento local preciso baseado na combinação de TC e RM era informado.

O estudo incluiu um total de 325 pacientes com metástases hepáticas colorretais. Dos pacientes avaliados, 298 foram incluídos no estudo e submetidos à terapia local baseada na tomografia computadorizada com contraste
Todos os participantes do estudo realizaram tanto a tomografia quanto a ressonância magnética com contraste hepático, usando o ácido gadoxético (primovist) como agente de contraste, antes de receberem o tratamento local

O objetivo principal do estudo foi observar se haveria alguma mudança no plano de tratamento local com base nos achados da ressonância magnética com contraste hepático.

Os resultados mostraram que em 92 dos 298 (31%) pacientes avaliados, houve uma mudança no plano de tratamento local com base nas descobertas da ressonância magnética com contraste hepático. Em 40 pacientes (13%), a terapia local precisou ser ampliada, enquanto em 11 pacientes (4%), a terapia local pôde ser reduzida. Além disso, em 34 pacientes (11%), a indicação de terapia local com intenção curativa foi revogada, sendo que 26 desses pacientes (9%) apresentavam doença muito extensa e oito pacientes (3%) tinham lesões benignas no fígado.

Com base nesses resultados, conclui-se que a ressonância magnética com contraste hepático utilizando o ácido gadoxético (primovist) deve ser considerada em todos os pacientes com metástases hepáticas colorretais que estão programados para receber tratamento local. Essa abordagem pode ajudar a direcionar o plano de tratamento e melhorar os resultados clínicos dos pacientes.

 

Comentário do avaliador científico:

A abordagem atualmente utilizada na investigação pré-operatória de metástases hepáticas colorretais envolve a realização de uma tomografia computadorizada (TC) do tórax e abdome. No entanto, estudos recentes mostraram que a ressonância magnética (RM) do fígado apresenta uma maior precisão diagnóstica para pequenas metástases hepáticas colorretais em comparação com a TC. A dúvida era se a RM do fígado deveria ser adicionada ao protocolo de investigação de metástases hepáticas.

Um ensaio clínico randomizado comparou a TC do tórax e abdome com a RM do fígado além da TC. A adição da RM hepática demonstrou a capacidade de detectar lesões clinicamente significativas que podem não ter sido inicialmente identificadas pela TC. Isso pode levar a uma ressecção cirúrgica ou ablação mais extensa, ou mesmo à decisão de evitar a intervenção cirúrgica completamente.
No entanto, a diversidade existente entre os diferentes serviços oncológicos resulta na falta de consenso em relação à precisão incremental do diagnóstico alcançada com a RM hepática de rotina. Isso pode acarretar em cuidados subótimos aos pacientes.

O estudo CAMINO destacou que a adição da RM hepática de rotina pode resultar em mudanças nos planos pré-operatórios em cerca de um terço dos pacientes (31%). Assim, a recomendação de uso da RM hepática deve ser cada vez mais discutida em função de sua acurácia, e deve ser considerada para realização rotineira nesse cenário.

 

Citação: Burak Görgec, et al. Lancet Oncol 2023. Published Online December 8, 2023 https://doi.org/10.1016/S1470-2045(23)00572-7

 

Avaliador científico:

Dr. Raul Dutra

Atual Oncologista do grupo Oncoclínicas, serviço de oncologia de Uberaba e coordenador residência médica Hospital Hélio Angotti – MG