Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

Pacientes com câncer e síndrome respiratória aguda grave por coronavírus 2: Uma análise nacional da China

Resumo do artigo:

O mundo todo vem enfrentando o surto relacionado ao coronavírus 2019 (COVID-19). Até fevereiro de 2020 foram registrados 47.747 casos na China e 1.017 mortes. Além disso, casos têm sido reportados diariamente em dezenas de países, incluindo o Brasil. A organização mundial de saúde declarou o COVID-19 como uma emergência de saúde pública internacional. A maior parte das mortes por COVID-19 tem sido causada por falência múltipla de órgãos em vez de falência respiratória, o que pode ser atribuído a maior distribuição da enzima conversora de angiotensina 2 (receptor funcional do vírus) nos diversos órgãos humanos.

A China conduziu uma grande coorte prospectiva nacional para avaliar os impactos dessa nova doença. Foram coletados e analisados 2.007 casos, dos quais 417 foram descartados por registros insuficientes. Dos 1590 casos avaliados, 18 tinham histórico de câncer (1%). Câncer de pulmão foi o tipo mais frequente (5 casos). Quatro pacientes haviam recebido quimioterapia ou cirurgia no mês anterior e o restante eram pacientes em seguimento. Em comparação aos pacientes sem câncer, os pacientes oncológicos eram mais idosos (63.1 versus 48.7 anos), o histórico de tabagismo era mais prevalente (22% versus 7%) e tinham manifestações radiológicas iniciais observadas na tomografia mais graves (94% versus 71%).

Os pacientes oncológicos tiveram ainda um risco maior de eventos graves (desfecho composto de porcentagem de pacientes admitidos em UTI, submetidos a ventilação invasiva ou mortos), quando comparados com indivíduos sem câncer (39% versus 8%; Fisher’s exact p=0.0003). Entre os pacientes com câncer, aqueles submetidos no último mês à quimioterapia ou cirurgia, tiveram risco maior de eventos agraves em comparação com o restante dos pacientes oncológicos (75% versus 43%). Além disso, pacientes com câncer apresentaram uma mediana de tempo para deterioração clínica mais rápida do que os pacientes sem tumor (13 dias versus 43 dias; p<0.0001; hazard ratio 3.56).

Cancer patients in SARS-CoV-2 infection: a nationwide analysis in China: Liang et al. Lancet Oncol. 2020 Mar;21(3):335-337.
Pacientes com câncer na síndrome respiratória aguda grave por coronavírus 2: Uma análise nacional da china.

 

Comentário do avaliador científico:
- Trata-se do primeiro estudo a analisar o impacto do COVID-19 na população oncológica. Como era de se esperar, o paciente oncológico apresenta desfechos clínicos piores que a população em geral. Uma das hipóteses seria o estado de relativa imunossupressão causado pela doença e pelo tratamento oncológico. O dado é importante para alertar a população e a comunidade médica em relação ao maior risco nesse grupo específico de pacientes. 

- Como médicos, devemos alertar os pacientes e seus familiares sobre as medidas protetivas que podem ser tomadas para se reduzir a chance de infecção. Além disso, uma maior vigilância aos sintomas causados pela COVID-19 aliado à percepção e início de tratamento rápido no caso de suspeita, são fundamentais tendo em vista que a deterioração clínica pode ser mais rápida nas pessoas com câncer.

 

Avaliador científico e editor:
Dr. Daniel da Motta Girardi
Filiações: Oncologista clínico do Hospital Sírio-Libanês Brasília e do Hospital de Base do Distrito Federal. Advanced fellow no programa de tumores geniturinários do National Cancer Institute, Bethesda, Estados Unidos da América